
24 Fevereiro 2016 | 21h18
RIO - Com o chocante duplo rebaixamento da Moody’s, agravado pela manutenção da perspectiva negativa, a chamada “visão de mercado” agora é unânime: a estratégia gradualista para lidar com a crise fiscal brasileira é um grave equívoco, que vai piorar ainda mais a dramática situação econômica do País. As agências de rating, evidentemente, não são participantes diretas do mercado, mas suas ações sacramentam – geralmente com atraso – o que passa na cabeça de investidores e operadores.
A visão, portanto, é a de que o ministro da Fazenda, Nelson Barbosa, reverteu o curso de ação do seu predecessor, Joaquim Levy, e abandonou qualquer tentativa de estancar a curto prazo a deterioração fiscal que já faz com que analistas prevejam que a dívida bruta atingirá até 90% do PIB ao fim do governo Dilma Rousseff.
Barbosa pode tentar convencer o mercado e as agências de que essa previsão é um exagero, mas será muito difícil. Há cada vez menos disposição de dar crédito ao compromisso do ministro com a responsabilidade fiscal – algo que ele buscou enfatizar em seu discurso desde que tomou posse, como, por exemplo, nas suas apresentações e reuniões no Fórum Econômico Mundial, em Davos, em janeiro.O problema, como explica um prestigiado gestor, que prefere não ser identificado, não está nas palavras, mas sim nas ações. “A estratégia do Barbosa é a de soltar o fiscal no curto prazo e garantir que no médio será melhor – mas há o problema básico de que isso não é crível”, diz, apontando como razões da incredulidade tanto o histórico do ministro como “policy maker” – muitos o veem como um dos mentores na nova matriz econômica – quanto a fraqueza política do governo.
O gestor considera um absurdo o acordo de refinanciamento dos Estados e municípios, que libera gastos pelos entes federativos subnacionais e reduz o resultado primário. Confrontado com o fato de que o acordo tem uma série de precondições de ajuste fiscal de Estados e municípios, ele afirma que não é crível que o governo federal, tendo sinalizado aos governadores – potenciais aliados na guerra do impeachment – uma folga financeira, conseguirá negá-la caso estes não se adaptem totalmente às condicionalidades. É a visão de que, como diz o gestor, “uma vez aberta a porteira, a boiada vai acabar passando”.
Alexandre Póvoa, presidente e sócio fundador da gestora Canepa, no Rio, por outro lado, diz que “não dá para culpar o Barbosa por toda essa situação negativa da economia brasileira, mas as suas respostas não estão ajudando – usar precatório para fechar conta fiscal é enxergado como pedalada e o déficit primário vai encostar com certeza na banda inferior”. Póvoa considera que o ministro “está agindo dentro das restrições políticas do governo, mas assim não vai conseguir melhorar as expectativas nem dos investidores, nem das agências de risco”.
Ele também critica o acordo de refinanciamento das dívidas estaduais e municipais. “O Rio de Janeiro, por exemplo, nadou em dinheiro e gastou a rodo com a alta do petróleo nos últimos anos. Agora, não consegue equilibrar as contas e vai pedir ajuda ao governo federal. Os Estados em geral não pouparam nos tempos de vacas gordas.”
Já Fernando Rocha, sócio e economista-chefe da gestora JGP, diz que o governo optou por uma linha de “dar pouca urgência à crise fiscal, acenando com uma solução de médio prazo, que depende do crescimento”.
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