
23 de outubro de 2015 | 14h10
O diretor de pesquisa econômica da GO Associados, Fábio Silveira, projeta que o desemprego deve alcançar os 9% em 2016. A estimativa da economista-chefe da ARX Investimentos, Solange Srour, é um pouco mais pessimista. Ela estima taxa de desemprego entre 9,5% e 10% em 2016 e pontua que nem mesmo as contratações temporárias para as vendas de fim de ano serão capazes de fazer o desemprego diminuir nos últimos meses de 2015, como ocorre normalmente.
"O que o comércio está fazendo é adiar as demissões. É uma inversão completa da sazonalidade e acho que, inclusive, vai haver uma piora em janeiro, quando for feito o ajuste sazonal (típico do mês) após as vendas de Natal", projetou.
Solange estima que haverá uma intensificação de cortes dos setores de serviços e comércio, que começaram a demitir há menos tempo do que a indústria e a construção. "Com estes setores também demitindo mais, o que a gente vai ver é o desemprego se espalhando com mais força para outras regiões onde estes segmentos têm mais peso, como o Nordeste", exemplificou Solange.
A economista destaca que essa retração refletirá no encolhimento da capacidade de consumo e afetará ainda mais a economia, já cambaleante. Para Silveira, "é um ciclo vicioso que ainda está longe do esgotamento". Ele avalia que ainda haverá vários meses de eliminação de empregos.
Mesmo quando a economia começar a se recuperar, o que só deve acontecer a partir de 2017, o mercado de trabalho deve demorar a reagir, assim como o desemprego só começou a subir anos depois de a atividade econômica dar sinais de fraqueza. "O mercado de trabalho reage posteri à desaceleração do PIB (Produto Interno Bruto) e reflete com certa defasagem o fato de a economia estar indo mal há muito tempo", explicou Solange, da ARX. O mesmo vale para o período da retomada, segundo Thiago Biscuola, economista da RC Consultores. De acordo com ele, como o custo de admitir e demitir funcionários é muito alto no Brasil, os empresários pensam duas vezes antes de tomar essas decisões, o que retarda a retomada do emprego quando há melhora da economia.
Renda. Os cálculos de Biscuola mostrando que em 2015 e 2016, R$ 42 bilhões deixarão de ser pagos aos trabalhadores das seis principais regiões metropolitanas do País - São Paulo, Rio de Janeiro, Belo Horizonte, Porto Alegre, Recife e Salvador, representam uma piora de cenário desde julho. À época, o especialista estimou uma redução de R$ 32 bilhões na massa de rendimento neste e no próximo ano.
Segundo o economista da RC Consultores, a diferença de R$ 10 bilhões se deve à piora das expectativas para 2016, devido ao prolongamento da recessão econômica. "Uma queda do PIB ainda mais forte que a estimada anteriormente afeta diretamente o mercado de trabalho e, consequentemente, a massa de rendimento", explicou, apontando também a recente elevação nas projeções para o Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) para 2016 como uma das causas da diminuição do valor real dos salários. "Estes fatores fizeram com que a redução na massa de renda esperada para o ano que vem nas economias dessas seis cidades passasse de R$ 5 bilhões para R$ 17 bilhões", detalhou. Pela nova projeção, em 2015, serão R$ 24 bilhões a menos circulando na forma de salários.
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