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Alavanca do PIB, agronegócio vive ‘boom’ de investimentos e espalha riqueza pelo interior do País

Setor cresceu 5,7% no primeiro trimestre, contra um avanço geral de 1,2% do PIB; cálculos de banco internacional apontam avanço de 20% nos investimentos do setor

Foto do author Márcia De Chiara
Por Márcia De Chiara
Atualização:

Os polos do agronegócio do País vivem hoje uma forte aceleração de investimentos privados. Os recursos estão sendo aplicados em toda a cadeia de produção: da expansão da área plantada no campo, melhorias na tecnologia de cultivo, à construção de novas fábricas de processamento de matérias-primas, de equipamentos agrícolas e em avanços na logística e na infraestrutura para escoar os produtos.

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O dinheiro novo que chega a pequenos municípios do interior do País espalha a riqueza gerada pela alta de cerca de 60% dos preços em dólar das commodities agropecuárias no mercado internacional durante o último ano. E essa receita foi turbinada pela safra recorde de grãos. 

O bom momento do agronegócio já apareceu no resultado do Produto Interno Bruto (PIB) do primeiro trimestre deste ano, que avançou 1,2% ante o último trimestre de 2020. O desempenho surpreendeu e boa parte dele foi sustentado pelo crescimento de 5,7% do PIB da agropecuária. Mesmo com a pandemia, o setor continuou a todo vapor nas exportações de grãos e carnes e também nos investimentos.

Não existem dados consolidados sobre os investimentos totais privados na cadeia do agronegócio, mas há indicações de que um forte movimento de expansão está em curso. Levantamento da assessoria econômica do Bradesco, por exemplo, com base em informações públicas de grandes empresas do setor, revela que, em 12 meses até abril, 27 novos empreendimentos foram anunciados. Eles estão voltados basicamente para a cadeia de processamento de carnes e grãos e somam mais de R$ 7 bilhões. Por dois meses seguidos, o total de aportes anunciados em 12 meses cresceu a uma taxa superior a 20%. Priscila Trigo, economista responsável pelo estudo, pondera que os dados retratam apenas uma parte do movimento porque o produtor rural normalmente não divulga investimentos.

Mas o Rabobank, banco holandês que no Brasil atua só no agronegócio, capta a parte oculta desse movimento. Neste ano, o banco já registra crescimento de 20% em relação a 2020 no número de propostas dos clientes em busca de recursos para investimentos. “Percebemos um apetite maior para investimento por parte de cooperativas, grandes produtores rurais e cadeias de processamento”, conta a diretora executiva, Fabiana Alves. Foi o maior avanço dos últimos três anos na demanda por recursos para investimento registrado pelo banco, especialmente os destinados a produção de grãos e de proteína animal.

Bom momento do agronegócio já apareceu no resultado do PIB do primeiro trimestre deste ano. Foto: Eduardo Monteiro/Divulgação

Enquanto em 2015 houve uma tempestade perfeita, com seca, câmbio e preços das commodities desfavoráveis e redução do crédito, hoje o momento é exatamente o oposto, diz Fabiana. O setor vem de duas safras com clima favorável, preços das commodities em alta, câmbio desvalorizado – que impulsiona as exportações – e há oferta de crédito com juros baixos. Em alguns momentos, o crédito privado está até mais barato do que o crédito oficial, observa o economista André Pessoa, presidente da consultoria Agroconsult. Ele ressalta que esse é um fator importante que, somado a outros, turbina o investimento neste momento.

O pano de fundo desse cenário, no entanto, é a grande competitividade do agronegócio acumulada ao longo dos últimos anos. O setor ganha impulso adicional no momento por causa dos baixos estoques mundiais frente à demanda crescente por alimentos, especialmente grãos, explica Pessoa. Além disso, a necessidade de reaquecer as economias em razão da pandemia fez os bancos centrais injetarem um grande volume de dinheiro. Essa enorme liquidez global provocou o enfraquecimento do dólar. E a avalanche de recursos extras foi direcionada para a compra de ativos reais, entre os quais estão as commodities agropecuárias.

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Boom

A consequência é uma pressão ainda maior sobre os preços em dólar das matérias primas agropecuárias e uma rentabilidade extraordinária em reais para o setor. Como o agronegócio brasileiro está bem posicionado em termos de rentabilidade, competitividade, eficiência comercial e logística, argumenta o economista, os empresários querem aproveitar o bom momento para crescer. E o investimento em aumento da capacidade de produção, tanto da terra como em fábricas de processamento, é caminho obrigatório. “Os produtores estão com o pé embaixo no investimento. É um boom”, afirma Pessoa.

Só no campo, a estimativa do consultor é que a área plantada com grãos na safra 2021/2022 seja ampliada em 3 milhões de hectares. Serão 1,6 milhão de hectares a mais de soja, 1 milhão de hectares de milho safrinha e 300 mil hectares adicionais plantados com algodão.

Isso sinaliza que a indústria terá que atender uma demanda maior por máquinas, fertilizantes, silos, defensivos, implementos, caminhões, fábricas para processamento a fim de suportar esse crescimento, exemplifica o economista José Roberto Mendonça de Barros, sócio da MB Associados e ex-secretário de Política Econômica. “Esse crescimento exige também mais materiais de construção, porque uma parte disso vira obra civil”, observa.

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Segundo Fernando Honorato, economista-chefe do Bradesco, há um espalhamento da renda em dólares proporcionada pelo ciclo global das commodities para várias cidades do Brasil. “O investimento no setor acaba multiplicando esses recursos e gerando mais renda e emprego no interior”, afirma. 

Estudo recente feito pela economista Priscila Trigo, do Bradesco, mostra que os municípios nos quais a agricultura e a pecuária pesam na economia local o dobro da média nacional acabaram gerando em abril deste ano um volume de emprego formal duas vezes maior do que as demais cidades na comparação com o mesmo mês de 2020. “E as vagas formais abertas não foram necessariamente no setor agrícola, mas no comércio e na construção civil, principalmente”, frisa a economista. 

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