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Alckmin tenta seduzir a China durante a viagem de Lula

Por Agencia Estado
Atualização:

Na esteira daquela que pretende ser a mais importante missão comercial internacional em quase 18 meses de governo Luiz Inácio Lula da Silva, a viagem para a China, entre 23 e 28 desse mês, o governo de São Paulo pretende ser a principal estrela da comitiva de quatro governadores que acompanharão o presidente da República e, com uma estratégia profissional, tentará seduzir chineses a formarem parcerias comerciais e estratégicas com o Estado. Entre os governadores Aécio Neves (MG), Blairo Maggi (MT) e Zeca do PT (MS), o paulista Geraldo Alckmin tentará mostrar aos orientais que seu Estado possui o conjunto mais atrativo para formação de parcerias dentro do Brasil, oferecendo infra-estrutura, base tecnológica, qualificação profissional de mão-de-obra e, além disso, o maior mercado de consumo nacional. Os erros e acertos resultantes dessa experiência na China servirão para aperfeiçoar a modelagem da política de comércio exterior estadual pretendida para abrir os chamados "novos circuitos". "Já nos relacionamos bem com União Européia, Estados Unidos e Japão. A China é um dos grandes objetos de comércio exterior de São Paulo, dentro dos novos circuitos, e essa experiência servirá para nos orientar nas iniciativas que teremos futuramente na Ásia-Pacífico, Índia, Sudeste Asiático e Rússia", explicou, em entrevista exclusiva à Agência Estado, o secretário de Ciência, Tecnologia e Desenvolvimento Econômico de São Paulo, João Carlos de Souza Meirelles, que acompanhará Alckmin na viagem. O audacioso plano paulista, conta ele, pretende aproveitar a missão comercial brasileira para inserir produtos do Estado no mercado chinês, principalmente no setor alimentício, além de formar parcerias nos campos empresarial e logístico. Para isso, o Estado terá um escritório próprio em Xangai, assim como também o farão Minas, Mato Grosso e Mato Grosso do Sul, no mesmo local onde funcionará a filial chinesa da Bolsa de Mercadorias & Futuros (BM&F), a ser inaugurada durante a viagem. Além disso, numa ação conjunta entre Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (Fiesp), Secretaria de Desenvolvimento Econômico do Estado, Agência de Promoção às Exportações (Apex) e ministérios das Relações Exteriores, e do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior, uma série de reuniões de negócios já foram agendadas. Alckmin falará nos três seminários de apresentação do Brasil programados para a missão e manterá encontros reservados com grupos empresariais chineses, retribuindo três visitas que recebeu no Palácio dos Bandeirantes nos últimos meses. Também está agendado um almoço com empresários, em Pequim, no dia 25. Parcerias empresariais Apenas a comitiva paulista será constituída por mais de 100 empresários, todos com agendas de reuniões de negócio já agendadas. Para lidar com a paciente arte oriental de negociação, todos serão preparados previamente num "cursinho intensivo" oferecido pela Fiesp. "Os chineses têm mais de 2 mil anos de experiência comercial. Temos de ir com calma", admite Meirelles. Ciente das dificuldades de ingressar isoladamente no mercado chinês, empresários paulistas e o governo estadual buscarão formar parcerias com empresas chinesas para, dessa forma, obter o "cartão-de-visita" necessário para obter boa aceitação de seus produtos naquele país. "Há uma percepção de que estaremos mais adaptados ao mercado chinês se tivermos um parceiro de lá", explica o secretário, citando a experiência bem-sucedida da Embraer com a chinesa AVIC II na produção da família de jatos ERJ 145. As parcerias poderão contemplar empresas de todos os portes, assegura Meirelles. "Temos pequenas e médias empresas em condições de atender em escala de grandes companhias porque estão inseridas em uma ação articulada do governo estadual de desenvolvimento de clusters específicos. As associações de micro e pequenas empresas estão dentro da nossa estratégia de expansão de exportações", salienta. Pauta de exportação Os estudos técnicos contratados pelo governo federal indicaram que há potencialidade para inserção de produtos brasileiros no mercado chinês nos segmentos de alimentos, combustíveis e minérios. A estratégia das indústrias e do governo paulista é de aproveitar esse diagnóstico para apresentar seu cardápio de produtos competitivos. "Na área de alimentícios, os chineses se interessam por produtos primários, como grãos, e beneficiados, como açúcar. Estão também interessados em carne bovina, com cortes diferenciados de peças que o mercado convencional não atua e temos condições de atender, e também no nosso suco de laranja, setor no qual somos os mais competitivos do mundo", lista. "Há também interesse em combustíveis renováveis e não poluentes, caso do nosso álcool", acrescenta. O café, também com alta escala de produção em São Paulo, é visto como outra potencialidade de consumo a ser trabalhada perante os cerca de 1,3 bilhão de chineses. A estratégia nesse caso, conta Meirelles, será enfrentar a rejeição cultural à bebida - os chineses preferem chá - tratando-a como "exótica e algo interessante", com ações de marketing voltadas para a população instalada nas regiões metropolitanas. Parceria logística O terceiro grande foco do governo paulista nessa missão está centrado na formalização de uma parceria com o governo chinês na área logística de distribuição de mercadorias. "Ofereceremos nossos portos e aeroportos como terminal das exportações chinesas na América Latina e como base para a importação dos produtos para o país deles. Ao mesmo tempo, poderemos usar a infra-estrutura logística da China para servir como nossa base de atendimento à Ásia", explica Meirelles. O Estado disponibilizará também aos chineses o Centro de Logística de Exportação, instalado no mês passado na Rodovia Imigrantes, para complementar a oferta de infra-estrutura para distribuição das mercadorias chinesas na América Latina. A "parceria logística" também poderá envolver investimentos chineses em infra-estrutura no Estado, via Parceria Público-Privada (PPP). "Como grandes importadores de grãos, os chineses estão dispostos a investir em infra-estrutura, via PPP. Analisam investimentos no Trecho Sul do Rodoanel Metropolitano, no Trecho Sul do Ferroanel e em novos atracadouros e berços no Porto de Santos", cita. "Dentro de 10 anos, teremos condições, com esses investimentos, de dobrar o escoamento de Santos de 60 milhões de toneladas por ano para 120 milhões de toneladas por ano", complementou. Para realizar todos os projetos, São Paulo tentará ser a vedete brasileira na China.

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