PUBLICIDADE

Publicidade

Aliados de Lula brigam pelo pré-sal

Candidatos à reeleição, Sérgio Cabral (RJ) e Eduardo Campos (PE) também tentam reforçar bases eleitorais

Por Luciana Nunes Leal
Atualização:

Dois governadores candidatos à reeleição e que estão entre os mais próximos aliados do presidente Luiz Inácio Lula da Silva travam uma dura disputa pelos recursos do petróleo da camada do pré-sal, e não são movidos apenas pela contabilidade dos royalties. Na defesa dos interesses de seus Estados, Sérgio Cabral (PMDB), do Rio de Janeiro, e Eduardo Campos (PSB), de Pernambuco, levam também bandeiras políticas e partidárias, para as eleições de 2010. No plano estadual, eles têm a oportunidade de reafirmar suas lideranças. Cabral luta para que o Rio e o Sudeste não percam receita no futuro. Campos quer que Pernambuco e o Nordeste passem a ganhar com a nova exploração. Independente do resultado final, deixam claras suas posições para correligionários e eleitores. No plano nacional, PSB e PMDB discutem como vão se posicionar em relação à pré-candidata do PT à Presidência da República, a ministra Dilma Rousseff, e disputam a condição de parceiros preferenciais de Lula. Os socialistas vão optar entre o lançamento da candidatura do deputado Ciro Gomes (CE) a presidente e o apoio a Dilma já no primeiro turno. Eternamente dividido, o PMDB não dá garantias de coligação formal com o PT. Quando decidiu quebrar o silêncio e anunciar que não aceitaria o "assalto" ao Rio de Janeiro na definição das regras do pré-sal, Sérgio Cabral procurou evitar que a aliança com o presidente Lula, um dos pontos que mais gosta de destacar em seu governo, se transformasse em motivo de desgaste.O governador não queria parecer submisso ao presidente diante de um projeto prejudicial ao Estado, pois alterava as regras de distribuição dos royalties futuros e tirava recursos dos Estados produtores. Disse que o interesse do Rio de Janeiro está acima das afinidades partidárias, procurou a bancada fluminense, com quem sempre manteve uma relação distante, e comprou briga com os ministros de Minas e Energia, Edison Lobão, e da Comunicação Social, Franklin Martins. Alguns aliados chegaram a se preocupar com a radicalização da posição de Cabral, mas ele sustentou que era preciso agir antes que o projeto chegasse ao Congresso. Conseguiu mudanças na proposta original, durante reunião com o presidente Lula da qual participaram também os governadores de São Paulo, José Serra (PSDB), e do Espírito Santo, Paulo Hartung (PMDB). Na semana passada, Cabral comemorou o fim da urgência na votação, inicialmente determinada pelo presidente. Ex-senador, Cabral escalou os secretários de Fazenda, Joaquim Levy, e de Desenvolvimento, Júlio Bueno, como articuladores no Congresso. A estratégia do governador é adiar ao máximo a votação do projeto referente à distribuição dos royalties. Cabral espera que a discussão em torno dos outros pontos - como a capitalização da Petrobrás e a criação do Fundo Social - diminua a pressão sobre o Rio. "Há uma falsa dicotomia entre Nordeste e Sudeste. Essa briga interessa a político de quermesse. A União pode fazer o que quiser com os recursos que vai receber do pré-sal, defendo até que invista no Norte e no Nordeste. Só não vai tirar do Rio de Janeiro", reage Cabral. Ex-deputado e ex-ministro do governo Lula, Eduardo Campos lançou-se porta-voz dos governadores nordestinos como resposta a Cabral e iniciou a campanha pela distribuição igualitária dos royalties entre todos os Estados. Agora, aposta no isolamento do governador do Rio. Campos deverá se reunir com Hartung nos próximos dias. Vai reforçar a posição de que não está contra os Estados produtores, mas que todos têm direito a uma fatia da nova riqueza, até porque o pré-sal está a 300 quilômetros da costa e a justificativa de pagamentos de royalties para compensação de danos ambientais aos produtores não se aplica neste caso. Campos, que preferia a permanência do regime de urgência, tem bom trânsito no Congresso, onde pretende ganhar apoio com o discurso do pré-sal como instrumento de redução das desigualdades entre o Nordeste pobre e o Sudeste rico. "Querer insistir nesse modelo concentrador de riqueza não é mais possível. O Rio vai ter que fazer uma inflexão. Se não, vamos ganhar no voto", diz o deputado Maurício Rands (PT-PE), um dos aliados de Campos no esforço para alterar o projeto do governo no Congresso. Embora não seja um Estado produtor, Pernambuco tem apostado no petróleo para impulsionar a economia. Ficará no Estado a primeira refinaria construída pela Petrobrás no Brasil desde os anos 70. Apesar das suspeitas de superfaturamento - apontadas pelo Tribunal de Contas da União (TCU) e negadas pela estatal -, a refinaria Abreu e Lima terá investimentos de pelo menos US$ 10 bilhões, em parceria com a venezuelana PDVSA. Além disso, Pernambuco terá dois novos estaleiros para atender, entre outras, a indústria petrolífera. Enquanto Cabral e Campos fazem o embate público, José Serra mantém distância do tema. Provável candidato do PSDB à Presidência, Serra quer evitar que qualquer crítica ao projeto do governo seja interpretada não como uma ação em defesa do Estado, mas como discurso para se contrapor à adversária Dilma, uma das responsáveis pela proposta.

Comentários

Os comentários são exclusivos para assinantes do Estadão.