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Alimentos podem ficar ainda mais caros com sanções a Belarus, mas governo tenta evitar, diz ministra

País fornece 20% do potássio usado no campo brasileiro e barreiras dos EUA e da Europa podem prejudicar fornecimento de fertilizantes para a próxima safra de verão

Foto do author Felipe Frazão
Por Felipe Frazão
Atualização:

DUBAI - A ministra da Agricultura, Tereza Cristina, afirma que o governo está se antecipando para evitar que as sanções econômicas contra Belarus, de onde sai 20% do potássio usado como fertilizante no campo brasileiro, provoquem novo aumento no preço dos alimentos e venham a prejudicar o fornecimento do produto para a próxima safra de verão. Em entrevista exclusiva ao Estadão nos Emirados Árabes Unidos, onde acompanhou o presidente Jair Bolsonaro, ela também ecoou a preocupação do presidente sobre o impacto do insumo no preço - já em alto - dos alimentos.

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Ela planeja disputar o Senado por Mato Grosso do Sul e disse que ainda tem vontade de ficar no União Brasil (fusão do DEM, atual partido dela, com o PSL) mas que somente estará em alguma legenda que apoie Bolsonaro.

O presidente está preocupado com o fornecimento de fertilizantes ao Brasil. Como evitar impacto na produção de alimentos no Brasil?

Existe uma preocupação, porque importamos de 20 países, entre eles 20% de Belarus, que vai sofrer sanções econômicas dos Estados Unidos e da União Europeia no dia 8 de dezembro (por causa da crise de imigração na fronteira com a Polônia). Não é que vamos ter problemas de fornecimento, mas vamos ter problemas quanto ao pagamento, mais ou menos o que já acontece com o Irã e que traz alguns transtornos na hora do pagamento. Estamos nos antecipando a isso, conversando com outros parceiros para que a gente tenha um porcentual nas exportações de produtos, para que a gente tenha segurança que nossos fertilizantes vão chegar a tempo.

A ministra da Agricultura, Tereza Cristina; eventual falta de fertilizantes não vai afetar safra atual. Foto: Isac Nóbrega/PR - 6/10/2021

Quando poderia ter impacto?

Não temos problemas nesta safra, esta safra já está garantida, inclusive está plantada mais de 70%. Já temos produtos chegando para a segunda safra, não há também problemas maiores, mas estamos nos antecipando para a safra de verão, que vem daqui a um ano, em setembro, outubro e novembro. Eu saio daqui e vou para a Rússia conversar com alguns de nossos fornecedores, para garantir que teremos 100% dos fertilizantes que precisamos para nossa próxima safra de verão.

É possível adotar uma solução similar à do Irã, de trocar produtos, com Belarus?

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Sim, é uma solução. É um limitador que o Brasil tenta compensar. No caso do Irã a gente entrega milho, eles trocam por fertilizantes (uréia). A gente já conversou com Belarus, eles nos procuraram na semana passada no Ministério da Agricultura. Agora estamos indo à Rússia ver se a gente consegue uma entrega um pouco maior do que a gente já tem para caso precise compensar a gente tenha compensações.

Isso vai afetar o preço dos alimentos no Brasil agora?

Tudo impacta, mas a gente está trabalhando antecipadamente para que não aconteça.

Qual a situação do embargo da carne na China?

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Estamos aguardando, fornecendo todos os esclarecimentos porque, infelizmente, irresponsavelmente, deram uma notícia de que teríamos dois casos de BSE (mal da vaca louca) em humanos, o que não é verdade. Foi logo esclarecido, mas tudo isso causa algum tipo de desconfiança, de novas informações que a gente precisa passar. Já passamos todas as informações à China e agora aguardamos a resposta deles sobre mais essa informação desencontrada.

É possível estimar um prazo?

Não dá ainda para saber. Eles precisam analisar as informações passadas, checar e aí sim a gente terá. Espero que esta semana. A gente aguarda agora uma resposta dos chineses sobre o embargo sobre nossa carne.

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O que a senhora leva dos Emirados Árabes Unidos de novidade para o agronegócio?

Estamos assinando um termo de cooperação com os Emirados para a Embrapa, recursos para pesquisa em horticultura, dessalinização de água para uso na agricultura. E também o frango, é muito importante essa conversa para que aqui seja um hub de distribuição, não só para os países árabes, mas também para os países africanos. A conversa foi boa. Tem muitas indústrias aqui, a Seara, a BRF e outras. Tive contato com as duas, que estão discutindo um aumento do nosso mercado. Aqui é mais fácil, não tem que discutir muito a sanidade. É mais fácil com países árabes, então a gente espera que os negócios sejam feitos.

Qual a preocupação do agro com o acordo para redução de gás metano em 30%, assinado na COP 26?

Não vejo preocupação, porque já temos muita coisa feita. Agora é medir e ver qual o tamanho das entregas que podemos fazer. Outra coisa, não é 30% que o Brasil tem que reduzir, é até 30%. Pode ser menos.

O governo não tem um compromisso mínimo a atingir?

Isso que vamos ver. Agora, cada país vai dizer o que pode entregar até 2030 e na composição geral é a redução de 30% no mundo. Não é uma meta do Brasil, é 30% de redução global.

Se o Brasil vai contribuir com 1% ou 2% ainda será calculado?

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O Brasil vai entrar com uma contribuição. Eu não sei ainda quanto. A Embrapa vai fazer esse cálculo na pecuária. E não é só, temos a parte urbana, lixões, saneamento, a Petrobras que queima metano. Será uma composição dos vários segmentos na emissão do metano para vermos o que o Brasil pode reduzir.

Que práticas na pecuária contribuiriam?

A eficiência da nossa pecuária. Se você reduz o tempo que o animal fica no pasto. Antigamente para fazer um boi gordo você levava 36, 38 meses. Hoje leva 30 meses. Já é uma redução. As vacas que não produzem todo ano bezerro precisam ser abatidas, você reduz. Tem uma série de coisas da eficiência da pecuária que teremos de medir agora e ver quanto está reduzindo.

Como a senhora avalia os acordos da COP 26?

Muito bons. O Brasil pode cumprir perfeitamente tudo que assinou. Não é verdade que não temos responsabilidade com esses números. Temos sim. Agora vamos fazer um levantamento, temos muita coisa feita. E o desmatamento nós temos que reduzir e acho que vamos reduzir sim.

A senhora está decidida a disputar o Senado em 2022? Por qual partido?

Acho que sim. Preciso definir o partido.

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Não será o União Brasil?

Tenho vontade de ficar. Claro que é mais fácil. Mas tem algumas decisões locais que precisam ser tomadas, não nacionais.

A campanha do presidente não interfere na sua?

Eu vou ficar ou no partido do presidente ou em algum partido que esteja aliado ao presidente. Não posso estar num partido que feche portas para o presidente. Tenho que estar num partido que apoie o presidente, é uma condição sine qua non. Isso eu falei para vários partidos com quem conversei. Está na hora agora de tomar essas decisões.

A senhora fica até abril ou sai do governo antes?

Não sei. Tenho que fazer essa discussão com o presidente. O prazo regulamentar é até 3 de abril.

Ouvi lideranças do agronegócio dizendo que buscam um candidato de terceira via. O setor ainda apoia Bolsonaro?

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Ninguém tem unanimidade, mas o presidente tem no setor um grande apoiador do seu governo.

Sergio Moro pode retirar votos do presidente?

Claro que o Moro deve ter os votos dele, não tenho dúvida. Agora, dizer que ele vai tirar votos do presidente... Pode ser que tire alguns, mas não acho que seja fator decisivo para a eleição nem de um nem de outro.O voto hoje é muito personalizado. Vota na Tereza quem gosta dela. Vota no presidente quem apoia ele, suas ideias ou gosta do jeito dele de fazer política.

Lula conseguirá arregimentar um pouco desse apoio no agro?

Acho muito difícil, muito difícil.

O MST anunciou que retomará as ocupações no campo. Há pressão eleitoral já?

Tem que perguntar para eles. Pode ser pressão, mas uma pressão ruim, que não é boa para eles.

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