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Alta da inflação aumenta pobreza na Argentina

Por Agencia Estado
Atualização:

"Se a inflação disparar e houver mais problemas com as empresas argentinas, a eliminação de postos de trabalho será enorme". O alerta foi feito por um dos principais especialistas do país sobre desemprego, Artemio López, diretor da consultora Equis. Segundo López, um eventual aumento da inflação poderia causar o crescimento drástico da pobreza na Argentina, que atingiria níveis sem precedentes no último século de História do país. Os tempos em que a Argentina era um modelo de distribuição da riqueza, na qual a classe média era a preponderante, ficaram no passado. López sustenta que se a inflação chegar a 5% mensal, 57,3% da população poderia ficar abaixo do nível da pobreza. Atualmente, 40% da população está abaixo da linha de pobreza. Desta forma, 18,8 milhões de argentinos não teriam dinheiro suficiente para pagar produtos e serviços necessários para um nível mínimo de vida digna. Esta proporção bateria o recorde histórico de 47% de pessoas pobres que existiram durante as hiper-inflações de 1989 e 1990. Diversos analistas afirmam que a tendência de crescimento da inflação é inevitável, já que em janeiro deste ano ela já foi de 2,3%, mesmo antes de que o peso - a moeda nacional - comece a flutuar livremente em relação ao dólar. A livre flutuação debutará na próxima segunda-feira, caso o governo não a adie outra vez. Integrantes do governo do presidente Eduardo Duhalde admitem, extra-oficialmente, que a inflação de janeiro será considerada baixa diante do que espera a Argentina nos próximos meses. Se a inflação acumulada deste ano for de 15%, em uma hipótese otimista, mais de 2 milhões de pessoas - atualmente na cada vez mais decadente classe média - passariam a ser "novos" pobres. Caso, até o fim do ano, a inflação alcance 30% - uma das hipóteses mais aceitas - o número de argentinos que teria que dar adeus a seu status de classe média seria de 4,3 milhões. No entanto, se uma das hipóteses mais pessimistas se concretizar, a de uma inflação anual de 70%, a proporção de novos pobres argentinos chegaria, só este ano, a 5,4 milhões de pessoas. Somados aos pobres já existentes, o total de pessoas da classe baixa chegaria a 19,9 milhões. No total, o país possui 36 milhões de habitantes. López também sustenta que o índice de desemprego deve ser maior do que os 22% admitidos pelo ministro da Economia, Jorge Remes Lenicov. López considera que milhares de desempregados não aparecem nas pesquisas do governo, feitas pelo Instituto de Estatísticas e Censos (Indec), porque não possuem dinheiro sequer para sair nas ruas e pegar transportes para buscar trabalho, ou porque já não possuem esperança de encontrar um emprego. Segundo o especialista, em algumas áreas do país o índice chegaria a 24%, como em diversos municípios da Grande Buenos Aires - Rosario, Mar del Plata e Tucumán. O secretário-geral da terceira maior central sindical do país, a Central dos Trabalhadores Argentinos (CTA), Víctor De Gennaro, sustentou que é preciso opor-se ao projeto de Orçamento Nacional que será debatido pelo Parlamento na semana que vem. Segundo De Gennaro, a política econômica deste Orçamento "não tem nada a ver com as necessidades da população, trata-se de um genocídio através do planejamento da desigualdade". Preços em alta Enquanto a pobreza dispara, o desemprego aumenta, e o consumo despenca, os preços de diversos produtos começam a subir. Os alimentos estão registrando os principais crescimentos, oscilando entre 10% e 40%. A farinha sofre um dos maiores aumentos, de 70%. Por causa disto, o Centro de Industriais de Padarias alertou para uma remarcação de 15%, que ocorre nas principais cidades do país. Segundo o presidente do Centro, José Álvarez, na cidade de Mendoza o aumento já é de 18%. Além disso, Álvarez afirmou que, por causa da recessão, que atinge a Argentina há três anos e meio, a queda nas vendas de pães chegou a 50%. "Isto que está acontecendo me recorda a época da hiper-inflação, quando tínhamos que remarcar os preços semanalmente. O problema é somar as poucas vendas com o aumento do preço", disse. Segundo Roberto Dvoskin, diretor do Departamento de Administração de Empresas da Universidade de San Andrés, os aumentos de preços ocorrem como resposta das redes de supermercados e dos grandes fornecedores aos "sinais do governo de que a economia será indexada". Há poucos dias, o ministro Remes Lenicov colaborou na formação dessa idéia, ao deixar claro que acontecerão aumentos nas tarifas dos serviços públicos. Além disso, o pacote econômico anunciado no domingo passado estabelece a indexação dos créditos e dos aluguéis. Patricia Vaca Narvaja, representante da associação Consumidores Argentinos, sustentou que o governo deveria intervir para impedir os aumentos de preços "que não possuem justificativa alguma". No entanto, o governo pretende ficar de braços cruzados. O diretor federal de Comércio Interno, Silvio Peist, disse que é "prematuro" referir-se aos aumentos como uma "disparada generalizada". Segundo o chefe do gabinete de ministros, Rodolfo Gabrielli, não existem razões para as remarcações que estão ocorrendo. Gabrielli as atribuiu a "situações especulativas". Na cidade de La Plata, capital da província de Buenos Aires, a atividade comercial caiu 80% em janeiro, segundo a Federação Empresarial dessa cidade. Além disso, denuncia que 25% dos comércios fecharam suas portas porque não podem pagar os gastos de manutenção, como luz, água, aluguéis e condomínio dos locais. Leia o especial

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