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Alta da inflação já não preocupa o BC

Ata da última reunião do Copom assume discurso mais afinado com o Ministério da Fazenda e sinaliza proximidade do fim do aperto monetário

Por Fabio Graner e Fernando Nakagawa BRASÍLIA
Atualização:

Aposta.

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Meta só será atingida com abatimento de obras do PAC

      O Banco Central abandonou o discurso duro sobre os riscos de a atividade econômica provocar descontrole inflacionário. Na ata da reunião do Comitê de Política Monetária (Copom) da semana passada que justificou a redução do ritmo de alta da taxa Selic para 0,5 ponto porcentual, o colegiado assumiu discurso mais afinado com o do Ministério da Fazenda e sinalizou ao mercado que o fim do ciclo de aperto monetário está próximo.

Para o BC, a economia já trabalha em ritmo menos intenso de crescimento e deve seguir em compasso mais calmo do que o do primeiro trimestre, o que reduz a possibilidade de a inflação fugir da meta de 4,5% em 2011 e 2012, horizonte no qual a política monetária está atuando. "São decrescentes os riscos para a consolidação de um cenário inflacionário benigno e se circunscrevem ao âmbito interno... É plausível afirmar, entretanto, que os fatores de sustentação desses riscos mostram desaceleração na margem", diz o Copom.

"Há sinais de que a economia tem se deslocado para uma trajetória mais condizente com o equilíbrio de longo prazo", acrescenta a autoridade monetária. As projeções do BC para o IPCA, o índice oficial de inflação, para 2011 e para o primeiro semestre de 2012 caíram e estão em geral próximas da meta de 4,5%, o que conforta o Comitê.

Após meses falando em "aquecimento" da economia e enfatizando o descompasso entre oferta e demanda, o BC redirecionou o foco, cuja palavra-chave passou a ser "acomodação".

Cenário externo. Além do novo quadro interno observado pelo Copom, a avaliação da conjuntura internacional também foi revista. Agora, o colegiado vê recuperação mais lenta do chamado G-3 (Estados Unidos, Europa e Japão) e passou a considerar que o cenário externo "passou a revelar um viés desinflacionário", ou seja, o Brasil estaria importando uma inflação mais baixa.

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Apesar de enxergar um quadro mais favorável para a evolução dos preços, o Copom argumenta que o objetivo da nova alta dos juros foi intensificar esse processo de queda da inflação. "Apesar das alterações favoráveis à dinâmica da inflação tanto no quadro interno quanto no externo, prevaleceu entre os membros do Comitê o entendimento de que competiria à política monetária potencializar os efeitos dessas mudanças e, nesse sentido, continuar a agir de forma a evitar que incertezas detectadas em horizontes curtos, ainda que menores do que as anteriormente observadas, propaguem-se para horizontes longos."

"Coragem". Para o professor de economia da USP Fabio Kanczuk, o Copom está sendo "corajoso" ao avaliar uma melhora do cenário para a inflação. Ele reconhece que os dados dos últimos dois meses, tanto da inflação como da atividade econômica, vieram bem melhores do que no início do ano, mas não acredita que essa mudança seja permanente.

"O BC, com base nesses dados, interpreta que o jogo mudou. Eu discordo. Acho que a inflação vai voltar e os juros estão baixos", diz Kanczuk. Apesar de discordar, ele não desqualifica a decisão. "O BC está sendo corajoso e isso é bom. Discordo da visão deles, acho que eles vão errar, mas o quadro econômico não é óbvio", afirma o professor, que também não vê politização da decisão. "Acho que ele realmente não enxerga mais tanto perigo inflacionário."

COMO O BC VÊ A ECONOMIA

Inflação

Reduziram-se os riscos para concretização de cenário

inflacionário benigno; riscos são decrescentes

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Crescimento

Economia tem se deslocado para trajetória condizente com equilíbrio de longo prazo; perspectiva para atividade econômica segue favorável, mas em ritmo menos intenso

Indústria e comércio

Dados mais fracos da indústria e comércio, além da alta de estoques em setores

industriais, evidenciam acomodação da economia

Crédito

Mostra moderação, especialmente para pessoas físicas

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Capacidade instalada

Segue elevada, mas também mostra acomodação

Mundo

Cenário externo apresenta viés desinflacionário, com principais economias (Estados Unidos, Europa e Japão) com recuperação mais lenta do que se esperava

Perspectivas

Projeções de inflação do Banco Central para 2011 e primeiro semestre de 2012 se

reduziram e estão em geral ao redor da meta de 4,5%

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