08 de julho de 2021 | 19h04
A reabertura de várias atividades por causa do avanço da vacinação e a forte pressão das tarifas de energia elétrica e gasolina poderão ser combustíveis para elevar a inflação de serviços ao longo do segundo semestre. O setor de serviços é um dos que ainda estão com preços sob controle. Em junho, a energia elétrica foi o item que mais pressionou a inflação. Junto da gasolina, esses dois preços administrados responderam por 25% da inflação de 0,53% do Índice Preços ao Consumidor Amplo (IPCA).
O alerta é do economista-chefe da Confederação Nacional do Comércio de Bens, Serviços e Turismo (CNC), Fabio Bentes. “Se combinarmos a inflação de tarifas (custos) com a inflação por aumento da demanda, pode ser que ocorra alta dos preços dos serviços no segundo semestre. Esse é um risco”, afirma.
O economista lembra que o restaurante que fazia promoções provavelmente deve retirá-las porque começará receber um fluxo maior de clientes. Além disso, a pressão de custo de energia elétrica amplia a possibilidade de repasse para os preços ao consumidor em razão do aumento da demanda por serviços. Isso sem falar na chance de o empresariado tentar compensar as perdas no período em que o estabelecimento ficou fechado.
Em 12 meses até junho, a inflação de serviços está bem comportada. Acumula alta de 2,2%, diante dos preços administrados que subiram 13% no mesmo período, quase o dobro dos preços livres (6,8%), em igual base de comparação.
A chance de os preços administrados de espalhar inflação não é pequena. Eles são o vilão da inflação deste ano, especialmente a energia elétrica. “Tanto a energia elétrica como a gasolina são itens que não tem como o consumidor e o empresário driblar o uso”, diz Bentes.
Na análise do economista, a capacidade da alta dessas duas tarifas de espalhar a inflação para outros bens e serviços é muito grande. A energia elétrica e a gasolina entram na composição de custos de outros segmentos.
Um sinal do “espalhamento” da inflação aparece no índice de difusão, que mede a fatia de itens que estão tendo alta de preços. Em junho, 64,5% dos mais de 400 preços que compõem o IPCA registraram variação positiva.
Desde abril deste ano, o índice de difusão se mantém nesse patamar. Em junho do ano passado estava em 55,2% e foi acelerando até atingir 72,1% em dezembro último. Recuou um pouco em janeiro, mas está acima de 60% nos últimos meses.
“Como a energia elétrica mais cara está contratada até novembro, o índice de difusão deve continuar rodando acima de 60% nos próximos meses e, caso ocorra um aumento mais forte dos combustíveis, o indicador poderá subir para 70%, como já aconteceu no ano passado”, prevê.
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08 de julho de 2021 | 09h23
Atualizado 08 de julho de 2021 | 19h05
RIO e SÃO PAULO - Com altas mais brandas na conta de luz e na gasolina, a inflação oficial no País desacelerou de 0,83% em maio para 0,53% junho, segundo os dados do Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) divulgado nesta quinta-feira, 8, pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).
O resultado veio praticamente no piso das estimativas mais otimistas de analistas do mercado financeiro ouvidos pelo Projeções Broadcast, que estimavam uma alta mediana de 0,59%. No entanto, a taxa de inflação acumulada em 12 meses subiu a 8,35%, ante uma meta de 3,75% perseguida pelo Banco Central este ano, consideravelmente acima do teto de tolerância de 5,25%. O quadro inflacionário tem feito economistas revisarem para cima suas projeções para a inflação do ano.
O Departamento de Pesquisa Macroeconômica do Itaú Unibanco elevou sua projeção de inflação em 2021 de 5,6% para 6,1%. O Banco MUFG Brasil ainda espera uma inflação de 6% em 2021, mas alerta que a projeção tem viés de alta.
"Acho que a leitura geral continua sendo de um IPCA mostrando um quadro que não é tão favorável”, resumiu o economista Daniel Lima, do Banco ABC Brasil, que estima um IPCA de 6,50% ao fim deste ano e de 3,70% em 2022.
Lima prevê aceleração do IPCA a 0,85% em julho, impulsionado pela energia elétrica, devido ao reajuste do valor da bandeira vermelha 2, que acrescenta uma cobrança extra sobre o consumo na conta de luz.
"Ainda podemos ter pressões de gasolina, com o reajuste da Petrobrás, com alguma coisa desse aumento repassada", diz o economista. "Outro risco é a questão das geadas, que está começando a pegar nos produtos (alimentícios) in natura. Tubérculos, raízes e legumes tiveram deflação de 11,15% em junho, mas espero uma reversão ao longo de julho em função das questões climáticas", completou Lima.
O desempenho de junho não muda a avaliação de que a inflação continua pressionada, corroborou o economista Luis Menon, da gestora de recursos Garde Asset Management.
“Acho que esse número de junho não muda muito o cenário também para o Banco Central, que disse que estava desconfortável com os números. O cenário é de continuar o aperto”, afirma Menon, sobre a expectativa de alta na taxa básica de juros, a Selic.
A Garde Asset prevê que o Comitê de Política Monetária do BC decida por um aumento de 0,75 ponto porcentual da Selic em agosto, com altas subsequentes até que a taxa de juros chegue a 7,0% ao ano, em dezembro.
Em junho, as famílias brasileiras só gastaram menos com comunicação. Todos os demais grupos de bens e serviços ficaram mais caros, com destaque para os custos maiores com habitação, transportes, alimentação, saúde e vestuário.
A energia elétrica aumentou 1,95% em junho. Embora tenha subido menos que no mês anterior (5,37%), a conta de luz ainda foi o item de maior impacto individual no IPCA do mês, uma contribuição de 0,09 ponto porcentual.
Em junho, passou a vigorar a bandeira tarifária vermelha patamar 2 - acrescentando R$ 6,243 à conta de luz a cada 100 quilowatts-hora consumidos - em substituição à bandeira vermelha patamar 1 que vigorou em maio (cujo acréscimo era menor, de R$ 4,169). Além disso, houve um reajuste nas tarifas em Curitiba.
O gás de botijão subiu 1,58% em junho, enquanto o gás encanado aumentou 5,01%.
Os combustíveis subiram 0,87% em junho, acumulando uma alta de 43,92% nos últimos 12 meses. A gasolina aumentou 0,69%, segundo maior impacto sobre a inflação do mês, após os preços já terem subido 2,87% em maio. Também ficaram mais caros em junho o etanol (2,14%), óleo diesel (1,10%) e gás veicular (0,16%).
Na alimentação, o gasto com as compras nos supermercados aumentou 0,33% em junho, sob impacto, principalmente, da elevação de 1,32% nas carnes, que subiram pelo quinto mês consecutivo e já estão 38,17% mais caras em relação a um ano antes.
De acordo com o IBGE, ainda não há sinais de pressão de demanda sobre a inflação, mas sim de aumentos de bens e serviços administrados pelo governo.
“Não dá para dizer que existe efeito de demanda no IPCA. Quando a gente fala de pressão de demanda, a gente costuma olhar para a inflação de serviços. Como a gente vai ver, a inflação de serviços ainda está abaixo do índice geral”, afirmou André Almeida, analista do Sistema Nacional de Índices de Preços do IBGE.
Dentro do índice, a inflação de serviços - usada como termômetro de pressões de demanda sobre a inflação - passou de uma deflação de 0,15% em maio para uma alta de 0,23% em junho. Já a inflação de itens monitorados pelo governo desacelerou de 2,11% em maio para 0,81% em junho. “Os itens monitorados vêm exercendo essa influência na inflação”, apontou Almeida.
A inflação de serviços acumulada em 12 meses saiu de 1,74% em maio para 2,24% em junho. A inflação de monitorados em 12 meses passou de 13,08% em maio para 12,99% em junho. O analista do IBGE lembra que a energia elétrica e os combustíveis subiram menos em junho do que em maio, contribuindo para a desaceleração do IPCA, mas ainda foram os itens que exerceram maior pressão sobre a inflação do último mês.
“A gente não pode afirmar que exista uma pressão de demanda no índice de preços. Porém, com o avanço da vacinação, uma melhora no cenário da pandemia, a tendência é de retomada econômica, e os serviços podem retornar ao normal. A demanda por serviços e produtos pode retomar ao cenário normal de antes da pandemia”, previu Almeida. “Por outro lado, os monitorados continuam acima do IPCA geral. A pressão da gasolina e dos outros combustíveis e da energia elétrica tem contribuído para essa alta na inflação”, acrescentou.
O índice de difusão do IPCA, que mostra o porcentual de itens com aumentos de preços, permaneceu em 64% em junho, mesmo resultado de maio. A difusão de itens alimentícios saiu de 60% em maio para 63% em junho, enquanto a difusão de itens não alimentícios passou de 68% para 66%.
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08 de julho de 2021 | 15h07
O resultado da inflação de junho, de 0,53%, medida pelo Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) ficou abaixo do de maio (0,83%) e da expectativa do economista da LCA Consultores, Fabio Romão. Esse arrefecimento, no entanto, não reduziu sua preocupação com o quadro inflacionário para os próximos meses.
O núcleo de inflação, formado pelos preços que realmente pressionam o indicador de forma duradoura, continuaram elevados, apesar de o índice geral ter perdido força. O núcleo da inflação teve alta de 0,55% em junho e tinha subido 0,54% em maio.
“Em ambos os casos o nível dos núcleos é alto e preocupante”, diz Romão, destacando que essa é uma sinalização de que há choques mais permanentes na inflação. Entre eles, a alta dos bens industriais, da energia elétrica e até mesmo dos alimentos. Para julho, o economista acredita que a inflação suba para 0,73% e atinja 8,75% em 12 meses. A seguir os principais trechos da entrevista.
Eu esperava 0,63%, mas veio abaixo. Filtrando os dados e olhando para a média do núcleo, o resultado foi muito parecido com o mês anterior. Em junho o núcleo ficou em 0,55% e havia sido 0,54% em maio. Em ambos os casos o nível dos núcleos é alto e preocupante.
Os núcleos expurgam as pressões pontuais da inflação e mostram o que realmente está pressionando. Em teoria, o núcleo deveria ter desacelerado, mas ficou igual. Isso indica que há choques mais permanentes dentro da inflação. Eu destacaria alguns bens industriais, a alta da energia elétrica e até mesmo da alimentação. Em maio a alimentação subiu 0,44% e em junho 0,43%. Sazonalmente, a alimentação é perto de zero em junho. Alimentação continua atrapalhando, mas não no mesmo nível do segundo semestre do ano passado.
Deve ir para 0,73% e em 12 meses para 8,75%. São taxas altas. A inflação de julho vai ser pressionada pela super bandeira vermelha de energia elétrica, o reajuste da gasolina e do diesel e a alimentação também deve vir mais pressionada (0,48%).
Que vamos fechar acima do teto da meta este ano. O que o Banco Central está fazendo ao subir juros é mirar a inflação do ano que vem. Não há muito o que fazer este ano.
No caso da energia elétrica, mesmo quando o preço sobe, o consumo não cai tanto. A ideia do governo ao subir a tarifa é mitigar o consumo e evitar o racionamento.
Este ano, o PIB (Produto Interno Bruto) foi revisto para cima muito por conta da base fraca de comparação. Mas, evidentemente, pode acabar segurando a atividade em 2022. Boa parte do mercado, ao mesmo tempo que subiu o PIB de 2021, reduziu o de 2022. Isso tem a ver com o movimento célere da política monetária por parte do Banco Central, de chegar com a Selic em 7% em dezembro. Essa alta dos juros pode tirar PIB de 2022. O reajuste da energia elétrica tem impacto direto na conta de luz e também reflexos na formação de grande parte dos preços. A energia entra na produção de muitos itens e na prestação de muitos serviços. É problemático, sim.
Haveria descontrole se a perspectiva fosse fechar 2022 com uma inflação muito alta. Não é o caso. A expectativa do mercado captada pelo Boletim Focus, do BC, aponta para uma inflação de 3,7% no ano que vem. A tarifa de energia que está atrapalhando neste ano pode, de algum modo, ajudar em 2022, na medida em que a cor da bandeira (tarifária) muda. Também a celeridade do BC de subir juros pode contribuir para segurar a inflação. Além disso, o descasamento gerado pela pandemia nas cadeias produtivas que leva à falta de produtos deve perder força. É um cenário curioso: a inflação é muito incômoda este ano, não tem mais nada a fazer para cumprir a meta. Mas não significa que teremos uma inflação tão alta no ano que vem.
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