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Alta de alimentos cria mais um entrave à Rodada Doha

Países importadores de alimentos querem manutenção de medidas protecionistas para desenvolver produção

Por Jamil Chade e GENEBRA
Atualização:

A alta dos preços dos alimentos chega à Organização Mundial do Comércio (OMC) e cria mais um problema para a conclusão da Rodada Doha. Ontem, em Genebra, negociadores de países importadores de alimentos defenderam a manutenção de medidas protecionistas para que sua agricultura possa se desenvolver. O tema promete ser mais um espinho para os interesses brasileiros de liberalização dos mercados agrícolas. Para o mediador das negociações agrícolas da OMC, Crawford Falconer, a entidade precisa concluir a Rodada Doha assim que possível, antes que o processo se torne obsoleto diante da realidade internacional. "Não podemos continuar negociando sem considerar o mundo real, e hoje o mundo real aponta para novos desafios no setor de alimentos", disse o embaixador da Indonésia, Gusmari Bustani. Os indonésios lideram o grupo de países emergentes importadores de alimentos. O bloco, formado ainda por Índia e outros asiáticos, pediu garantias à OMC de que vários setores de sua produção agrícola seriam protegidos. Para os países importadores, a estratégia de acabar com as tarifas para baratear o custo dos alimentos não é sustentável. Vários governos, como os da Europa, eliminaram tarifas sobre trigo para permitir um fluxo maior de importação e conter a inflação. "Mas os países pobres não podem fazer isso, já que destruiria a produção local", disse o negociador da Indonésia. "Não temos subsídios para dar aos nossos produtores se eles não conseguirem competir com o produto importado." Numa aliança pouco convencional, alguns países ricos importadores de alimentos também levantaram o problema, com os mesmos argumentos dos países pobres. "Temos de considerar o novo cenário nessas negociações. Há uma alta substancial dos preços dos alimentos e a segurança alimentar de cada país precisa ser garantida", disse Luzius Wasescha, embaixador da Suíça na OMC. Segundo ele, é "inaceitável" que países exportadores de produtos agrícolas estejam pressionando por uma queda nas tarifas de importação nos países ricos, enquanto criam novos impostos de exportação. "Veja o caso da Argentina, que quer acesso a mercados, mas sobretaxa seus exportadores. Isso não podemos aceitar. Imagine se essa tendência de sobretaxar se proliferar em outros países, como o Brasil", disse o suíço, que tem apoio de Coréia, Japão e outros países. O Itamaraty prefere nem tocar no assunto da alta dos preços nas negociações, que pode complicar as negociações já em crise. Na avaliação do Brasil, a alta dos preços dos alimentos deveria pressionar os países a reduzir tarifas e mesmo os subsídios, o que poderia fazer com que as negociações avançassem mais rapidamente.

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