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Alta do dólar eleva previsões para a inflação e pode adiar queda dos juros

A economia está em recessão, mas a inflação custa a ceder por causa da disparada da moeda americana, que influencia os preços dos alimentos e dos componentes usados pela indústria; nos últimos 30 dias, o real perdeu 11% em relação ao dólar

Por Luiz Guilherme Gerbelli
Atualização:

A desvalorização recente do dólar está levando parte do mercado a revisar as projeções de inflação e da taxa básica de juros. Com a mudança no patamar do câmbio, os analistas passaram a esperar uma alta maior dos preços e possivelmente um adiamento do início da queda da Selic.

 

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Nos últimos 30 dias, o real já perdeu 11,06% em relação ao dólar. No ano, a desvalorização é de 31,26%. Esse movimento de depreciação cambial pode ser explicado por duas grandes frentes. Internamente, houve uma piora na percepção de risco brasileiro por causa da crise política e pelo anúncio da revisão da meta fiscal. No exterior, há um movimento de fortalecimento da moeda americana por causa da expectativa da elevação da taxa de juros nos Estados Unidos, além de a desvalorização do preço das commodities afetar as moedas de países exportadores de básicos, como o Brasil.

A alta do câmbio já afeta sobretudo o preço de grãos, como soja e milho, e materiais e componentes importados para a indústria.

Todo esse novo cenário fez com que o banco Itaú aumentasse a projeção para câmbio e inflação. A projeção para o dólar ao fim deste ano subiu de R$ 3,20 para R$ 3,55, e para o Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) aumentou de R$ de 9,1% para 9,3%. “Basicamente, essa mudança no IPCA reflete a mudança no câmbio”, afirma Felipe Salles, economista do Itaú Unibanco.

Intensidade. O repasse esperado pelos analistas por causa da mudança de patamar do câmbio, porém, deverá ser menor na comparação com outros períodos de forte desvalorização do dólar. Nas condições econômicas “normais”, o cálculo do Itaú mostra que uma desvalorização de 10% tem como reflexo uma alta de 0,70 ponto porcentual no IPCA em 12 meses.

A explicação para o reajuste mais modesto se dá pelo cenário recessivo do Brasil e pelos estoques em alta, sobretudo no varejo, que também devem limitar os efeitos da depreciação do real.  “De qualquer maneira, o repasse virá, ainda que mais fraco, por conta do ritmo de atividade neste e no próximo ano. Em relação às projeções de inflação, para este ano incorporamos o câmbio mais depreciado e estimamos IPCA em 9,3%”, disse Octavio de Barros, economista-chefe do Bradesco. 

Em alta. Dólar caro influencia sobretudo preço de grãos 

Piora. A projeção para a inflação de 2016 – ano em que o Banco Central promete alcançar a meta de 4,5% – também piorou. A estimativa do Itaú subiu de 5,3% para 5,8%. Para a consultoria MB Associados, a inflação deverá ficar em 5,6% – a projeção anterior era de 5,4%. “Os dois maiores impeditivos para o IPCA bater nos 4,5% ano que vem são o aumento do mínimo em torno de 10% logo em janeiro – impactando diretamente em serviços – e a pressão cambial, que aumentou agora e deve ainda se manter ao longo do primeiro semestre do ano que vem, pelo menos”, afirmou Sergio Vale, economista-chefe da consultoria.

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Com a mudança no quadro inflacionário, parte dos analistas também passou a considerar a hipótese de o BC adiar a queda da Selic – hoje em 14,25% ao ano. “A inflação vai demorar um pouco mais para cair. Isso significa que o BC vai demorar mais para derrubar o juro”, disse Salles, do Itaú. Para o banco, a primeira queda da Selic passou do segundo trimestre de 2016 para o segundo semestre.

Um outro fator que pode manter a Selic inalterada por um período mais longo é a piora da política fiscal. A equipe econômica reduziu a meta de superávit primário de 2% do PIB para 0,7%. “Como o fiscal não tem ajudado no controle da inflação, o BC vai ter de ficar mais ortodoxo do que se imaginava antes e isso implica manter o 14,25% eventualmente ainda no começo de 2016”, disse Vale, da MB Associados.

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