A indústria de embalagens de vidros vinha observando queda de 2% nas vendas de garrafas para cerveja, de janeiro a julho, em relação a igual período de 2001, mas tomou novo fôlego a partir da disparada do dólar. As latas de alumínio (350 mililitros), cuja exposição à moeda norte-americana é de 100%, vem perdendo terreno para as garrafas long neck de vidro (355 ml, descartáveis), cujos custos de produção dependem em 40% da variação cambial. O menor poder de compra da população desfavorece o consumo de supérfluos como cervejas e refrigerantes. Daí o movimento da indústria na esfera das embalagens, para que o produto não perca qualidade nem volume de vendas. Entre o alumínio e o vidro, o melhor dos mundos para que os dois materiais concorram de igual para igual é quando a cotação do dólar flutua entre R$ 2,40 e R$ 2,50, segundo a Associação Técnica Brasileira das Indústrias Automáticas de Vidro (Abividro). Um dólar médio de R$ 3,50 faz com que o milheiro de embalagens de alumínio fique em R$ 220, ante os R$ 140 a R$ 160 por milheiro de long neck. "Devido a essa diferença, o crescimento das vendas de long neck ficará entre 40% e 50%, em três meses", estima o superintendente da Abividro, Lucien Belmonte. Hoje, o mercado brasileiro consome 700 mil garrafas long neck, por ano. "Temos capacidade para duplicar a produção, e prevemos que isso acontecerá dentro de 12 meses", prevê Belmonte. Com isso o market share do vidro nas cervejas irá para 6%, tirando três pontos percentuais do alumínio, que hoje detém 27% do mercado. Ampliação Se quisesse, a indústria de vidros poderia ir além. Das 10 bilhões de latas de alumínio, a maior parte segue para o mercado de cerveja, e pequena parcela ao de refrigerantes. Para brigar por essa fatia de mercado que o alumínio deverá ceder, Lucien aponta a chegada massiva da folha de flandres no mercado das cervejas. "A laminação do aço será feita no Brasil a partir do final de 2003, e deverá depredar o império do alumínio", destaca o executivo. Nesse caso, a indústria de embalagens de vidro deverá avaliar sua posição, já que o vaivém do dólar é eventual. Ou seja, a ampliação da capacidade instalada exige momentos econômicos mais consolidados. Hoje, a expectativa mais imediata da indústria vidreira é ocupar 100% da capacidade instalada. Quanto ao varejo, que torce o nariz para o frágil vidro, Lucien diz que as perdas em latas são iguais, pois o flexível alumínio amassa, e embalagem machucada é condenada pelos órgãos de defesa do consumidor. Já as embalagens de vidro de 635 mililitros, retornáveis, com market share de 70% nas cervejas, encontrarão resistência do varejo na substituição pelas latas. Mas, a vantagem é econômica, pontua Belmonte. A garrafa de vidro custa R$ 0,25 por unidade e como pode ser usada 30 vezes, o custo por envase cai para R$ 0,01. A lata sai por R$ 0,22, deixando pouca margem à indústria e ao varejo. Imagine uma cerveja por R$ 0,52 no varejo, dos quais 50% são impostos, R$ 0,22 é da lata, e o que fica deve ser dividido entre indústria, distribuidor, supermercado e transporte. "A situação é insustentável", diz o executivo. "No mercado americano de cervejas, 60% são embaladas em latas, e 40% em vidros", considera Lucien Belmonte. Argentina Devido à queda do poder aquisitivo na Argentina, a multinacional Coca-Cola está desenvolvendo um projeto para voltar a usar as garrafas de vidro retornáveis em substituição às embalagens de PET (polietileno terftalato). A razão é simples: o litro em garrafa retornável no varejo custa R$ 0,80, ante o embalado em plástico, que sai por R$ 1. A diferença de 20% a menos de uma embalagem para a outra no ponto de venda pode definir o aumento ou ao menos a estabilização das vendas em volume para a multinacional. Nesse caso, quem se beneficiará da decisão será a indústria argentina de embalagens de vidro. Leia mais sobre os setores de Siderurgia e de Petroquímica no AE Setorial, o serviço da Agência Estado voltado para o segmento empresarial.