O avanço de 0,2% no Índice de Atividade Econômica do Banco Central (IBC-Br) de novembro após queda de 0,15% em outubro, conforme dado já revisado pelo BC, é positivo, mas não deve reverter a tendência de nova retração no Produto Interno Bruto (PIB) no quarto trimestre, conforme analistas consultados pelo Broadcast, sistema de notícias em tempo real da Agência Estado.
A leve melhora no indicador de atividade já era esperada pelo mercado, como mostrou a pesquisa do Projeções Broadcast, na qual o intervalo de expectativas variava de retração de 0,37% a alta de 0,46%.
A perspectiva um pouco mais favorável era baseada nas sutis altas em novembro da produção industrial (0,2%) e da Pesquisa Mensal de Serviços (PMS), de 0,1%, e do avanço mais substancial, porém pontual, do varejo (2%) na margem, ajudado pelas vendas da Black Friday, segundo especialistas.
No trimestre até novembro, no entanto, o IBC-Br acumula queda, na média, de 0,55% na comparação com o desempenho de junho a agosto. Esse recuo sinaliza uma retração próxima a 0,5% no PIB do quarto trimestre, segundo cálculos do economista-chefe do Icatu Vanguarda, Rodrigo Melo. No confronto interanual, o IBC-Br caiu 2,02%.
A expectativa de declínio no PIB do último trimestre de 2016 também consiste na avaliação de que a atividade em dezembro não deve mostrar resultado muito animador. "Grosso modo deve ser o espelho de novembro", diz Marco Caruso, economista do Banco Pine. Segundo ele, os indicadores devem ser mistos, com o varejo devolvendo a alta de novembro, mas com a indústria acelerando de forma mais expressiva, conforme alguns indicadores antecedentes.
O Bradesco acrescenta a expectativa de que o setor de serviços continue com desempenho fraco, diante da desalavancagem das empresas e das famílias e da elevação da taxa de desemprego. O banco confirmou, em nota após a divulgação do IBC-Br, sua previsão de recuo no PIB de 0,8% no quarto trimestre, exatamente a mesma queda registrada no trimestre anterior.
O economista Hélcio Takeda, da Pezco, avalia que o resultado positivo do IBC-Br de novembro pode até atenuar a queda no PIB do quarto trimestre, mas não evitá-la. "Tem chance de ser pouca coisa menos negativa, mas, de todo modo, ainda pode ser queda. Apenas deve reduzir a intensidade. Não é aquele número que muitos esperavam há alguns meses, que indicaria alguma recuperação", diz ele que estima atualmente declínio de 0,2%.
Para este ano, Takeda crê que a redução no nível dos estoques prossiga e ajude a estimular a retomada econômica, assim como espera que os efeitos do recuo na taxa de juros contamine a economia em algum momento do primeiro semestre. "A reação econômica à queda da Selic é demorada, mas deve trazer perspectiva positiva à frente para o empresário, evitando a confiança de cair. Nossa estimativa é que a confiança suba", afirma.
A melhora na confiança deve contribuir com a indústria e provocar um retorno dos investimentos já no primeiro trimestre deste ano, para Luiz Castelli, economista da GO Associados. Dessa forma, segundo ele, o PIB do período deve mostrar uma estabilização e depois começar a crescer, encerrando o ano com alta de 0,8%, com a ajuda também de boas safras agrícolas.
A MCM Consultores avalia, contudo, que ainda é cedo para falar em retomada econômica no curto prazo, dado que a produção do setor automotivo não deverá ter números fortes em 2017, fator negativo para indústria. "A piora do mercado de trabalho ainda afetará o desempenho do varejo e do setor de serviços nos próximos meses", acrescentou em nota a consultoria.
O desempenho ruim da economia em 2016 ainda deve produzir um carrego estatístico negativo para o PIB de 2017. Pelos cálculos de Melo, da Icatu, o carry over deve ser de -0,9% caso sua projeção de recuo de 0,5% no quarto trimestre se confirme.
"Neste contexto de economia fraca, com a inflação atingindo a meta de 4,5% neste ano, o Banco Central deverá realizar mais 3 reduções da Selic de 0,75 ponto porcentual, seguidas de 2 baixas de 0,50 ponto porcentual e uma última baixa de 0,25 ponto porcentual, o que levará os juros a 9,5% no encerramento de 2017", comenta.