A inesperada puxada de três pontos porcentuais na taxa básica de juros, que se moveu de 18% ao ano para 21% há uma semana, provocou ganhos e perdas. Em tese, saiu favorecido o investidor que tem o dinheiro ancorado na renda fixa, remunerado por taxas de juro, agora mais elevadas. O ganho, contudo, não vai contemplar todos os investidores na renda fixa. Tira proveito da elevação dos juros quem está em uma aplicação, fundo ou CDB, com rendimento pós-fixado atrelado à variação do juro corrente no mercado interbancário, adotado pelos bancos para a troca de recursos entre si. O juro desse mercado reflete instantaneamente a elevação da taxa básica e é repassado aos fundos DI ou ao CDB com rendimento vinculado ao CDI. São as opções mais indicadas no momento, aponta o gerente da Divisão Private Banking do Sudameris, Eduardo Santalúcia. Segundo ele, o rendimento bruto médio diário dos fundos DI passou de 0,0657% na sexta-feira, antes da esticada da taxa primária, para 0,0756% ao dia, a partir de segunda-feira. A diferença diária deve redundar em um aumento superior a 0,20% bruto no rendimento mensal, estima Santalúcia. Fundos de renda fixa prefixados (conhecidos como fundos de renda fixa) e CDBs prefixados, os mais comuns, tiveram uma perda relativa, na medida em que o rendimento previsto será menor que o juro do mercado. O valor das cotas desses fundos recuou alguns dias na semana passada, mas a remuneração a longo prazo deve ser mantida. Quem está num CDB prefixado vai obter um rendimento inferior ao que seria definido pelo juro corrente, mais alto. Em cenário de instabilidade, o investimento com taxa prefixada embute maior risco, dada a possibilidade de ajustes bruscos na taxa Selic, explica o consultor Alexandre Póvoa. A opção seria indicada se a aposta for por um recuo do juro mais à frente. No entanto, um fundo DI que acena com 115% do juro corrente, por exemplo, é mais vantajoso que um prefixado, diz Póvoa. Seja como for, o investidor precisa ficar atento à inflação ascendente que poderá rodar acima da remuneração. Ações O aplicador que está com ações na mão ou pensa em comprar alguns papéis na bolsa pode ter, diante da alta do juro básico, bom motivo para reavaliar o investimento. Em conta simples, a bolsa teria de subir 21% no período de um ano para que o ganho com ações empatasse com a renda fixa remunerada pelo juro básico. A aplicação em ações deve ser sem data prevista para a saída, e a escolha dos papéis, cuidadosa, pois o mercado permanece inseguro quanto ao próximo governo. O dólar tende a permanecer pressionado pelo vencimento de elevado volume de títulos cambiais, amarrados à variação da moeda, e de dívidas no exterior até o fim de ano. Analistas avaliam que a tensão no câmbio pode diminuir com a definição da eleição presidencial. Para Póvoa, em uma carteira de investimentos diversificada, cabe uma parte dos recursos atrelada ao dólar como garantia anticrise.