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Alta dos alimentos pesa mais sobre inflação da baixa renda

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Por Redação
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A forte alta dos preços dos alimentos nos últimos dois anos afetou em cheio as famílias brasileiras de baixa renda, que conviveram com uma inflação mais forte que as demais classes de renda, segundo uma pesquisa lançada pela Fundação Getúlio Vargas (FGV). O novo índice da instituição (IPC Classe 1), que acompanha os preços para famílias com renda de 1 a 2,5 salários mínimos, subiu 9,65 por cento desde o início da escalada internacional dos alimentos. Já a inflação pelo IPC-Brasil, para famílias com renda de até 33 salários, foi de 7,36 por cento entre abril de 2006 e março de 2008. "A baixa renda brasileira foi a mais afetada pelo movimento de altas de preços. Não há dúvida", disse a jornalistas o coordenador de índices de preços da FGV, André Furtado Braz. "Os itens que mais subiram nesse período são itens básicos e com maior peso nos orçamentos da baixa renda, como derivados de trigo e soja e itens de pecuária." Ele lembrou que esses produtos são insumos para produtos alimentares essenciais como pão, macarrão e biscoitos. "Se o mundo está comendo mais eu não sei, mas os pobres brasileiros estão pagando mais caro", afirmou o economista-chefe da FGV, Salomão Quadros, referindo-se ao comentário do presidente Luiz Inácio Lula da Silva de que a inflação de alimentos no mundo é boa porque a população está comendo mais. No IPC-Classe 1, os gastos com alimentação representam quase 40 por cento do orçamento familiar, enquanto no IPC-Brasil o peso é de cerca de 28 por cento. Entre 2004 e março de 2008, a inflação da baixa renda também supera a variação de preços das demais classes. O IPC-Classe 1 acumula no período alta de 19,21 por cento e o IPC-Brasil, de 18,61 por cento. Com a perspectiva de os alimentos continuarem subindo no mercado externo, a tendência, segundo Braz, é de que a distância entre a inflação da baixa renda e das demais classes se amplie. "Havendo um aumento de demanda por comida no mundo todo, como se fala, há uma oferta menor e uma pressão por aumento de produtos... Ora um país como a China decide comprar mais soja para compensar os efeitos climáticos, ora há uma restrição de exportação de arroz de alguns países como Argentina e Indonésia... isso tudo contribuiu para aumentar o preço internacional", disse Braz. Para ele, uma possível elevação da taxa básica de juros esta semana terá pouco efeito na contenção da alta dos alimentos, já que os preços são formados no mercado internacional. "Os juros afetam mais itens de menor relevância no consumo da famílias... Algumas medidas de benefício ao agricultor como financiamentos e fomento a novas tecnologias poderiam trazer vantagem e uma oferta maior de produtos no mercado interno", afirmou. Braz espera que no segundo semestre a pressão dos alimentos seja "um pouco" amenizada pela entrada da safra norte-americana e de alguns produtos brasileiros.

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