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Alta dos juros agrava má fase da Bolsa

Segundo analistas ouvidos pela Agência Estado, elevação da Selic para 21% piora a situação da Bolsa, principalmente papéis das empresas endividadas e das companhias de varejo e consumo.

Por Agencia Estado
Atualização:

O aumento da taxa básica de juros representa um complicador para o já combalido mercado de ações, segundo avaliação do chefe de renda variável do Unibanco Research, Cleomar Parisi. Ontem, o Comitê de Política Econômica (Copom) decidiu elevar a Selic de 18% para 21% ao ano, sem viés. "A Bolsa já estava muito turbulenta com as eleições e agora houve mais uma indicação ruim", disse. O analista Gustavo Alcântara, do banco Prosper, afirmou que a medida do Copom teve nitidamente o objetivo de segurar o dólar. "Um aumento de apenas três pontos porcentuais, com certeza, é para estabilizar o câmbio. Não tem qualquer relação com a inflação", disse. "Temos que torcer para que funcione e que os 21% seja o teto dos juros, caso contrário uma alta do juros tornará o investimento em renda fixa ainda mais atrativo e fará os investidores fugirem de vez do risco da Bolsa." Selic a 21% afeta consumo O aumento da taxa Selic para 21% deve pressionar os papéis das empresas endividadas e das companhias de varejo e consumo, segundo analistas consultados pela Agência Estado. Outras atividades, como autopeças e siderurgia, sofrerão indiretamente com a baixa atividade do setor automotivo, por exemplo. Parisi afirmou que o anúncio do aumento dos juros reforça a concentração de apostas em empresas com boa estrutura financeira e exportadoras, ou mesmo nas que possuem maior facilidade para repassar preços no mercado doméstico. "Fica ainda mais evidente que essas companhias serão as menos afetadas pela conjuntura atual", destacou. Como exemplo, o analista citou as exportadoras Vale do Rio Doce, CST, Souza Cruz, Aracruz e Embraer. Parisi lembrou ainda que a Ultrapar e a Gerdau possuem boa margem de manobra para aumento de preços, o mesmo ocorrendo com a AmBev, apesar de atuar no setor de consumo. Sobre esta última, o analista ressaltou também a sólida posição financeira. Para o analista Gustavo Alcântara, do banco Prosper, as ações dos setores de telecom e energia também devem ser afetadas pela alta do juros, visto que a maioria das empresas desses segmentos são bastante alavancadas. "O aumento dos juros pressiona o custo da dívida das companhias". Além disso, ele acredita no desaquecimento da economia, afetando as áreas ligadas ao consumo, como siderurgia e varejo. "A última coisa que o mercado esperava era que o governo mexesse no juros. Os próximos dois ou três dias serão ainda mais nervosos, pois o mercado teme que o governo possa anunciar mais medidas além dos juros e do compulsório para os bancos", completou Alcântara. Dúvida é o tempo que Bolsa permanecerá no fundo A analista Catarina Pedrosa, da BBV Corretora, disse que a Bovespa já está no fundo do poço. "A dúvida agora não é saber quanto mais vai cair, mas por quanto tempo ficaremos nesse nível." Ela lembrou que a Bolsa está no mesmo nível de pontos (8.500) de três anos atrás. "É como se as empresas não tivessem crescido nesse meio tempo. É irreal." Catarina considera que o aumento da taxa de juros é mais uma notícia ruim para a Bolsa e acha difícil tentar avaliar uma tendência para o mercado agora. "O volume da Bolsa está muito baixo (pouco mais de R$ 240 milhões). Não dá para dizer nada com um volume desses." A medida, segundo ela, pode pressionar ainda mais o desaquecimento da economia, aumentando o desemprego e freando o consumo.

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