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Alta dos preços agrícolas opõe UE ao Brasil no G-20

Impulsionadas pelo preço das commodities, exportações brasileiras à Europa apresentaram crescimento recorde em 2010

Por Jamil Chade
Atualização:

O aumento nos preços agrícolas deixa Brasil e Europa em lados opostos e já provoca uma polêmica dentro do G-20 (grupo dos 20 países mais desenvolvidos do mundo). Dados divulgados ontem indicam que a alta levou o Brasil a bater recordes sucessivos nas exportações. Segundo os números da Organização Mundial do Comércio (OMC), o Brasil voltou a apresentar a maior expansão nas exportações entre as 70 maiores economias do mundo nos últimos três meses de 2010. Pelos dados da OMC, as exportações brasileiras cresceram 31% em outubro, 40% em novembro e 45% em dezembro. Na China, as exportações tiveram alta de 23% em outubro, 35% em novembro e 18% em dezembro. Os dados brasileiros são mais de duas vezes superiores à média mundial. Em outubro, a alta das exportações no mundo havia atingindo apenas 15%, ante 18% em novembro. Grande parte da explicação para a expansão brasileira está nos preços internacionais das commodities agrícolas. Entre novembro de 2009 e dezembro de 2010, a alta superou a marca de 35%, superior ao crescimento do preço de energia.Para a França, que neste ano preside o G-20, está na hora de tratar de uma estabilização dos preços agrícolas a todo custo. A União Europeia vive uma crise profunda e alguns países nem saíram da recessão. Mas, mesmo assim, a renda obtida pelo Brasil com as exportações agrícolas para o mercado europeu surpreendeu até os diplomatas brasileiros em Bruxelas. Preços. No caso do açúcar, as vendas nacionais ao mercado europeu triplicaram em valor entre 2009 e 2010, atingindo US$ 514 milhões. As exportações de milho para a Europa cresceram seis vezes, passando de US$ 50 milhões em 2009 para US$ 319 milhões em 2010. As vendas de soja para a Europa também deram um salto, passando de US$ 1,4 bilhão em 2009 para US$ 2,3 bilhões no ano passado. O mesmo ocorreu com o café, com uma alta de 40%, atingindo US$ 2,8 bilhões. Em praticamente todos os casos, o volume exportado não aumentou tão significativamente como o valor, sinal de que são os preços dos produtos que inflaram a balança exportadora.De acordo com técnicos do setor, foi exatamente a alta nos preços das commodities que permitiu que a balança comercial com os europeus se mantivesse positiva para o Brasil. Em 2010, com o real valorizado, a Europa obteve ganhos importantes nas vendas ao mercado nacional. A balança com os europeus fechou em US$ 4 bilhões a favor do Brasil em 2010, depois de um saldo positivo de US$ 4,9 bilhões em 2009.Alerta. Na Europa, a avaliação é de preocupação. Em seu relatório mensal publicado ontem, o Banco Central Europeu (BCE)afirma que a alta nos preços está provocando uma "incerteza significativa" sobre a capacidade de garantia do abastecimento no longo prazo. O BCE também diz que a inflação poderia ser mais um obstáculo para a recuperação da economia europeia. Para o BCE, é "essencial" monitorar essa situação, lembrando que os preços do trigo aumentaram em 91% em 12 meses. "A pressão sobre os preços de alimentos continuará diante da demanda global robusta", afirmou o BCE. Especulação financeira, crescimento da demanda nos países emergentes e safras abaixo do previsto são os fatores que teriam provocado a alta nos valores.A posição de preocupação da Europa deve acabar se traduzindo em um plano de ação por parte do presidente da França, Nicolas Sarkozy, que promete colocar o assunto na agenda do G-20 este ano. Durante o Fórum Econômico Mundial, em Davos na semana que vem, Sarkozy promete defender medidas para controlar a especulação em torno das commodities. "Este deve ser o ano para tomarmos decisões para regular a especulação", afirmou o ministro francês de Agricultura, Bruno Le Maire. Sua meta é ambiciosa: quer organizar uma regulação mundial no capítulo de commodities agrícolas para garantir o fim da volatilidade dos preços.

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