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Alta dos títulos do Tesouro já preocupa

No longo prazo, valorização pode frustrar recuperação dos emergentes

Por Patrícia Campos Mello e WASHINGTON
Atualização:

Na semana passada, a remuneração dos títulos do Tesouro americano de 10 anos chegou a 3,93%, o nível mais alto dos últimos sete meses, e voltou ao centro das discussões de economistas nos Estados Unidos. Para os mais otimistas, liderados por keynesianos como o prêmio Nobel Paul Krugman, a alta dos juros é natural e decorre da recuperação da economia. Para os mais pessimistas, liderados por conservadores como John Taylor, de Stanford, e o historiador econômico Niall Ferguson, a alta é sinal de que o déficit americano está assustando os investidores, que exigem maior remuneração, temendo inflação à frente. De qualquer forma, a alta dos juros dos títulos do Tesouro (T-notes) pode frustrar a recuperação dos emergentes no longo prazo, pois aumenta o custo de captações externas e afeta o preço das commodities. "Se o aumento do retorno dos títulos do Tesouro vier acompanhado de inflação alta e aversão a risco, isso vai encarecer as captações externas", diz Dráusio Giacomelli, chefe de estratégia de mercados emergentes do Deutsche Bank em Nova York. Para Giacomelli, por enquanto o movimento não preocupa. "Os juros dos títulos estão apenas se normalizando de acordo com a inflação, que estava em níveis baixíssimos e agora volta para níveis mais normais, de 2% - isso é reflexo da recuperação da economia." O spread - diferença entre remuneração dos títulos do Tesouro americano e os bônus locais - se manteve praticamente constante. Isso porque o mercado de crédito internacional começou a se abrir após o pico da crise, em setembro, reduzindo o custo, ao mesmo tempo em que a remuneração dos títulos subiu. Dean Baker, codiretor do Center for Policy and Economic Research, instituto de pesquisas mais à esquerda, também não vê motivos para preocupação. "A alta nas taxas de juros era previsível, porque os juros estavam em níveis extraordinariamente baixos por causa da crise financeira (todo mundo fugiu para a segurança dos títulos) e por política do Federal Reserve (Fed, o banco central americano). "Devemos esperar que as taxas nos T-notes de 10 anos subam para 6% nos próximos dois anos, na medida em que a economia se normalize e nós voltemos a uma taxa de inflação de 3%." À medida que ficam mais confiantes, os investidores se aventuram em aplicações mais arriscadas, como ações e papéis de países emergentes, o que reduz a demanda por títulos do Tesouro americano e leva a uma alta da remuneração. Outros economistas estão menos tranquilos. Com o aumento avassalador da dívida americana, o governo vai se tornando um tomador de empréstimos mais arriscado. E o Fed vem inundando o mercado de liquidez, deixando os investidores temerosos de inflação mais à frente. Por esses motivos, eles exigem maior remuneração. "Mais para o fim do ano, acho que as preocupações com a inflação vão se intensificar, e podem piorar com a retomada da economia", diz Kim Rupert, diretor-gerente de renda fixa global na Action Economics. Em artigo no Financial Times, John Taylor, professor de Stanford e ex-subsecretário do Tesouro para Assuntos Internacionais, afirma que a decisão da Standard & Poor?s de rebaixar a perspectiva da classificação de risco da dívida soberana da Grã-Bretanha deveria ser um "alerta" para o governo americano. "A dívida dos EUA está explodindo." O Congresso prevê um déficit fiscal, no fim deste ano fiscal, de US$ 1,85 trilhão, comparado com US$ 892 bilhões em 2008. A dívida se aproxima de US$ 11,5 trilhões. Desde o início do ano, a remuneração do T-note de 10 anos subiu 57%. O nível mais baixo ocorreu em 18 de dezembro, no ápice da aversão ao risco - todos os investidores correram para a segurança dos T-notes e o rendimento ficou em apenas 2,07%. Na quinta-feira, a remuneração saltou para 3,93% - alta de 88%. Fechou a semana com valorização de 3,78%. FRASES Dráusio Giacomelli Chefe de estratégia de mercados emergentes do Deutsche Bank em NY "Se o aumento do retorno dos títulos do Tesouro vier acompanhado de inflação alta e aversão ao risco, isso vai encarecer as captações externas" Dean Baker Do Center for Policy and Economic Research "A alta nas taxas de juros era previsível, porque os juros estavam em níveis extraordinariamente baixos por causa da crise financeira"

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