Com alta da energia, inflação de julho é a maior para o mês desde 2002 e chega a 8,99% em 12 meses

Conta de luz respondeu por mais de um terço do IPCA do mês passado, segundo o IBGE; aumentos no gás de botijão, aluguel residencial e alimentos também contribuíram para o resultado

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Por Daniela Amorim, Thaís Barcellos e Guilherme Bianchini
3 min de leitura

RIO e SÃO PAULO - A inflação oficial no país acelerou a 0,96% em julho, o maior resultado para o mês desde 2002, segundo os dados do Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) divulgados pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) nesta terça-feira, 10.

O resultado veio dentro do esperado, mas o cenário é bastante desafiador e não dá sinais de folga, avaliou o economista Victor Wong, da gestora de recursos Vinland Capital. "As expectativas de inflação estão sensíveis à inflação corrente. Inércia de inflação alta e expectativas acima da meta tornam o quadro mais desafiador", disse.

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Os avanços de preços em bens industriais e em serviços deixa um sinal de alerta muito forte, opinou o economista-chefe da AZ Quest, Alexandre Manoel. A pressão nos preços administrados pelo governo, em razão da crise hídrica, também chama a atenção.

“Caso a tendência de serviços evolua conforme a economia volte ao pré-pandemia, o ciclo da alta de juros pode ser maior. Um país com o histórico do Brasil não pode brincar com a inércia inflacionária. Tem que agir, como o Banco Central vem fazendo”, afirmou Manoel.

O economista-chefe da AZ Quest mantém a previsão de alta de 1 ponto porcentual na taxa básica de juros, a Selic, na reunião de setembro do Comitê de Política Monetária (Copom) do BC, mas avalia que há chance de acréscimo de 1,25 ponto porcentual, encerrando 2021 aos 7,50% ao ano.

Os custos mais elevados da energia elétrica, passagem aérea e gasolina foram responsáveis juntos por mais da metade da inflação de julho, mas os aumentos permanecem disseminados, alcançando 64% de todos os itens investigados.

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"São diversos os fatores que influenciam no movimento de preços. Existe a questão de repasse de custos, altas de energia elétrica, combustíveis, gás. Isso tudo pode influenciar lojista e empresário a repassar esse aumento de custos para o consumidor final", afirmou André Almeida, analista do Sistema Nacional de Índices de Preços do IBGE. "O mês de julho teve influência, principalmente, da alta da energia elétrica, gás, combustíveis, passagens aéreas", completou.

Aumento na tarifa de energia elétrica puxou o aumento do IPCA de julho. Foto: Ueslei Marcelino/Reuters

A energia elétrica subiu 7,88% em julho, o equivalente a mais de um terço da inflação, em função da alta de 52% na cobrança extra sobre a conta de luz pelo acionamento da bandeira tarifária vermelha patamar 2. O encarecimento da energia elétrica também é consequência de reajustes tarifários em São Paulo, Curitiba e Porto Alegre.

Houve aumentos ainda nos preços do gás de botijão, gás encanado, aluguel residencial, condomínio e taxa de água e esgoto. Os alimentos também ficaram mais caros, puxados pelo encarecimento do tomate, frango em pedaços, leite longa vida e carnes.

O único grupo com queda de preços foi o de Saúde e cuidados pessoais, graças à redução no valor do plano de saúde, determinada pela Agência Nacional de Saúde Suplementar (ANS).

A taxa de inflação acumulada pelo IPCA em 12 meses subiu a 8,99% em julho, o maior patamar desde maio de 2016. Segundo o IBGE, os aumentos sucessivos em itens monitorados pelo governo, como a energia elétrica e os combustíveis, vêm contribuindo para esse movimento, junto com o encarecimento das carnes.

As carnes ficaram 34,28% mais caras nos últimos 12 meses. A energia elétrica acumula um aumento de 20,09%. A gasolina subiu 39,65% nos 12 meses encerrados em julho, enquanto o etanol aumentou 57,27%. O gás de botijão ficou 29,29% mais caro.

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