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Alta na conta de luz pode elevar inflação em 0,13 ponto, calculam analistas

Possível reajuste médio nas tarifas pode levar IPCA medido em 12 meses para perto do teto oficial de 6,5% 

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Por Renata Pedini (Broadcast), Maria Regina Silva e da Agência Estado
Atualização:

O impacto de possível reajuste médio de 4,6% nas tarifas de energia elétrica, neste ano, no Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) pode aproximar ainda mais a inflação oficial do teto do regime de metas (6,5%).

Caso o repasse chegue ao consumidor, o IPCA de 2014 seria até 0,13 ponto porcentual mais elevado, de acordo com cálculos iniciais feitos por analistas consultados pelo Broadcast, serviço em tempo real da Agência Estado. O aumento teria como objetivo bancar gastos R$ 5,6 bilhões maiores que os previstos para a Conta de Desenvolvimento Energético (CDE), fundo que arca com a redução das contas de luz, entre outros pagamentos.Com eventual aumento de 4,6% na energia, a expectativa dos analistas é de que o item energia elétrica dentro do IPCA atinja uma alta de até 7,50%. Este item tem peso de 2,7% no índice oficial de inflação. A taxa de 7,50% está alinhada à previsão do Banco Central, conforme a última ata do Comitê de Política Monetária (Copom), de janeiro, quando a taxa de juros subiu de 10% para 10,50% ao ano. Os economistas consultados ponderam que a transferência, se acontecer, pode não ser integral ou até mesmo nem atingir o bolso do consumidor. A expectativa é de que o Tesouro Nacional possa dar ajuda extra às distribuidoras de energia, além dos R$ 9 bilhões previstos no Orçamento para a CDE, como afirmou recentemente o ministro da Fazenda, Guido Mantega. "Daremos cobertura para esses problemas, de modo que isso não passe para a tarifa do consumidor final", disse.A despeito de muitos acreditarem que o repasse das despesas das distribuidoras possa nem chegar ao varejo, alertam que a ausência de chuvas no País pode elevar ainda mais os custos do setor energético."Se o preço da energia for reajustado em 4,6%, o impacto no IPCA seria de 13bps (ponto porcentual)", afirmou o economista-sênior do Besi Brasil, Flávio Serrano. O banco projeta um IPCA de 6,00% no fechamento de 2014 e, com o aumento do preço da energia ao consumidor, o IPCA chegaria a 6,13%.A Votorantim Corretora calcula um aumento de 0,12 ponto porcentual no IPCA deste ano, caso a conta de luz ao consumidor suba 4,6%. O economista-sênior da instituição, Guilherme Maia, ressalta que o repasse pode ficar ainda maior, dada a situação atual desfavorável em virtude da ausência de chuvas no País. "Se a seca continuar, além do déficit de R$ 5,6 bilhões, poderíamos ter mais uns R$ 15 bilhões", afirmou.Por enquanto, a corretora mantém a projeção de alta de 6,00% no IPCA de 2014 e de 5,20% para o item energia elétrica, pois acredita que o Tesouro Nacional poderá arcar com o rombo, o que aumentaria a pressão sobre a parte fiscal. Se o aumento chegar ao varejo, a estimativa para o índice oficial de inflação passaria para até 6,20% este ano, conforme a Votorantim. "Se atingir o fiscal, o mercado azeda, afeta o câmbio e, consequentemente, a inflação", afirmou Maia.A despeito de acreditar que o Tesouro poderá ficar responsável pelas despesas da CDE, Maia ressalta que a recente falta de chuvas poderá gerar novas pressões de alta sobre energia elétrica e também sobre a inflação de alimentos. "As coletas (pesquisas) ainda não retratam impacto da seca sobre os alimentos, mas há um risco considerável de acontecer. Mas o efeito maior (seca) e mais direto seria um preço maior da energia, além do que prevemos (de 5,2%)", ponderou.A equipe econômica da Tendências Consultoria Integrada elevou a projeção para o item energia elétrica, de 5,5% para 7,5% no âmbito do IPCA de 2014. A estimativa para o índice oficial de inflação, no entanto, permanece em 6,00%. "O IPCA de janeiro (de 0,55%) nos surpreendeu para baixo", justificou a analista Adriana Molinari.De acordo com Adriana, se o aumento de 4,6% for repassado para a conta de luz, o efeito sobre o IPCA deste ano seria de 0,12 ponto porcentual. Como ainda há dúvidas se o repasse será feito de forma integral, o cálculo da Tendências leva em consideração um aumento de 2,00% para tentar cobrir os custos com energia, "o que resultaria em um IPCA maior em 0,06 ponto porcentual", disse.A analista da Tendências também partilha da visão do colega da Votorantim Corretora, de que, por enquanto, não é possível precisar o impacto da seca sobre os preços, mas que é preciso ficar atento a eventuais efeitos. "As coletas mostram que os preços dos alimentos in natura, os mais suscetíveis aos efeitos da falta de chuvas, estão em linha com o esperado para esta época do ano. Mas, se avançar (seca persistir), pode ter impacto, sim. No entanto, as pesquisas ainda não incorporam, mas é preciso acompanhar com atenção, especialmente as grandes culturas, como as de cana-de-açúcar, feijão, soja e milho", avaliou.SelicAs dúvidas relacionadas à questão energética devem levar o Comitê de Política Monetária (Copom) a manter o ritmo de aperto monetário, que começou em abril de 2013, na opinião de Guilherme Maia, da Votorantim Corretora. Segundo ele, o Banco Central, por meio de declarações dos membros da autoridade monetária e de encontros com o mercado financeiro, vem dando sinais de que estaria predisposto a diminuir o ritmo de alta, de 0,50 ponto porcentual para 0,25 ponto, ainda que condicionado ao câmbio. "Essa questão cambial está se confundindo com a questão da energia. É um fator novo que vem ganhando força", disse. No mercado futuro de juros, há dias comenta-se sobre os eventuais efeitos da ausência de chuvas e de possíveis elevações nos preços dos alimentos e energia. Hoje, as preocupações ganharam força e ajudaram a sustentar as taxas domésticas em alta.

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