
29 de março de 2014 | 02h08
A Alcoa, uma das maiores produtoras de alumínio do mundo, com sede nos Estados Unidos, anunciou ontem que fará novos cortes de produção. Em nota, a empresa explicou que a decisão é uma resposta às "condições desafiadoras do mercado global". No entanto, os cortes foram feitos apenas no Brasil, especificamente em linhas de produção das unidades de São Luís (MA) e de Poços de Caldas (MG), onde o consumo de energia elétrica é muito alto.
A empresa vai reduzir unicamente a fabricação do chamado alumínio primário. Nessa fase, a bauxita, matéria-prima do produto, é submetida à ação de altas doses de energia elétrica e produtos químicos para ser transformada em lingotes de alumínio, base para os demais produtos do setor, como esquadrias para construção civil e insumos de automóveis. Segundo a empresa, as demais operações no Brasil não serão afetadas.
O preço da energia elétrica no Brasil costuma ser elevado, por causa da alta carga de tributos. Mas, neste momento, para complicar, o preço está ainda mais alto por causa da seca que reduziu o volume de água nas hidrelétricas. Por causa do custo, a Alcoa já havia reduzido a produção nas mesmas unidades no ano passado. Foram cortadas 34 mil toneladas em Poços de Caldas e 97 mil toneladas em São Luís. Os ajustes anunciados ontem incluem a redução de mais 85 mil toneladas em São Luís e outras 62 mil toneladas em Poços de Caldos. Será a primeira vez desde que foi inaugurada, em 1965, que a produção de alumínio primário será totalmente paralisada em Poços de Caldas. A produção de alumínio primário no Brasil ficará restrita a 86 mil toneladas em São Luis. Pelas estimativas do mercado, a Alcoa passa a operar no Brasil com cerca de 23% de sua capacidade de produção de alumínio primário.
O secretário de Desenvolvimento Econômico e Trabalho de Poços de Caldas, Rodrigo Reis, lamentou a decisão. "A empresa já vinha emitindo sinais de que faria um novo corte, mas não pensamos que suspenderia toda a produção", diz Reis. "A Alcoa tem uma história com o desenvolvimento local, esperamos que a suspensão dure pouco e aguardamos um anúncio da empresa sobre o destino dos trabalhadores."
Segundo informou a assessoria de imprensa, a Alcoa ainda está definindo qual será o procedimento em relação aos 300 funcionários de Poços de Caldas e aos mil de São Luis que trabalham nas linhas de produção de alumínio primário.
Venda de energia. A assessoria de imprensa da empresa também confirmou que Alcoa pretende vender o excedente de energia que não for utilizada na produção do alumínio, "apesar de esse não ser o foco do negócio da empresa". A empresa é parceira na operação de quatro hidrelétricas e produz cerca de 70% da energia que consome. Segundo consultores do setor, outras empresas que, como a Alcoa, são eletrointensivas - consomem altos volumes de eletricidade -, estão suspendendo a produção para vender energia.
A Alcoa, por exemplo, é um dos maiores consumidores do País. Quando opera normalmente, utiliza cerca 1 mil MW médios em tempo integral. Esse volume é maior que o consumo de todo o Estado de Mato Grosso, por exemplo.
Apenas como exercício matemático, se a empresa pudesse vender toda a energia que não vai utilizar na produção do alumínio, faturaria neste momento cerca de R$ 450 milhões por mês, segundo cálculo feito por um consultor do setor que não quis ser identificado.
"Pelo aspecto da indústria, a interrupção da produção é algo péssimo para o Brasil porque reforça que nossa energia está proibitiva", diz o consultor. "Mas, para a empresa e para o Brasil, neste momento, a venda do excedente é ótima - a empresa fatura e o País consegue energia extra no momento em que ela está mais escassa."
Na nota divulgada pela empresa, o presidente da Alcoa América Latina e Caribe, Aquilino Paolucci, indica que as condições locais não são favoráveis à produção. "Apesar do trabalho duro realizado pelo time para tornar nossas operações mais competitivas, fomos forçados a tomar medidas difíceis em relação à nossa produção de metal primário no Brasil, em função das condições de mercado que enfrentamos", diz. "Agradecemos o apoio e vamos trabalhar ativamente em parceria com nossos funcionários, sindicatos e comunidades para administrar esta transição."
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