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Altas na Bovespa não são mera especulação, diz Mundell

Por Agencia Estado
Atualização:

As sucessivas altas nos índices da Bolsa de Valores de São Paulo (Bovespa) não são fruto de uma especulação momentânea, mas se devem ao simples fato de que investidores, daqui e de fora, terem constatado que as ações brasileiras estão muito baratas. A explicação é do economista Walter Brasil Mundell, vice-presidente de Investimentos da SulAmérica, em entrevista na noite passada ao programa Conta Corrente, da Globo News: "Eu acho muito bom que o mercado de capitais suba, que a bolsa de valores valorize, porque ela é alternativa mais barata, e mais democrática, digamos assim, de se distribuir os frutos do crescimento econômico. Acho muito importante o que está acontecendo, e isso tem razão de ser. Não é, como se diz por aí, mera especulação." Mundell não concorda com a avaliação de alguns analistas, segundo os quais a subida na bolsa neste segundo semestre foi tão acelerada que só pode vir por aí um grande tombo. "Eu acho que o tombo pode vir, sem dúvida nenhuma, se as condições internacionais piorarem muito, o que eu acho pouco provável; ou se o governo, vamos supor, inverter totalmente o sentido que ele está dando à política econômica. Vamos supor que o Lula tire o ministro Palocci e coloque ali um ´desenvolvimentista´. Aí, certamente, os mercados vão sentir. Mas, por enquanto, não há motivo que leve a suspeitar que algo mais grave possa ocorrer." ´Espetáculo do crescimento´ O vice do grupo SulAmérica já não é tão enfático quanto ao chamado ´espetáculo do crescimento´. "A opinião que eu tenho é de que não há uma segurança, ainda, para que a gente possa dizer que o Brasil vai crescer consistentemente acima de 3% ao ano." Para que isso ocorra, receitou taxas de investimento bem mais altas do que os atuais 18%, 19% do PIB. "Minha opinião é que nós vamos crescer, 3%, 3,5% no ano que vem, talvez mais 3%, 4% em 2005, e a partir daí provavelmente nós vamos ter uma pequena recessão." Investimentos diretos A análise de Mundell não é muito animadora sobre a perspectiva de investimentos diretos no País nos próximos anos. "Eu estou preocupado, sim (com essa questão). Os investimentos diretos estão declinando no mundo inteiro, de uma maneira extremamente forte. O único país que ainda atrai investimentos estrangeiros, e deve continuar ainda, é a China. Na verdade, a China é hoje uma espécie de ´buraco negro´, que está atraindo todo o capital, que todos os outros países estão recebendo cada vez menos." Exportações em alta Já com respeito às exportações, a análise de Mundell é mais otimista. Ou seja, o superávit comercial de 2004 deve ser quase tão expressivo como o do ano em curso, podendo bater em 20 bilhões de dólares. "Eu acho que o exportador brasileiro aprendeu, com esses sucessivos choques cambiais que começaram em 1999, a mirar o longo prazo. Com isso, as exportações devem se manter em patamares altos. Além disso, a economia mundial, sem dúvida nenhuma, na minha opinião, vai continuar se recuperando, liderada pelos Estados Unidos. O preço das matérias-primas e dos semi-elaborados que o Brasil exporta deve continuar em ascensão, o que permite que tenhamos um superávit, na balança comercial, por volta de 20, 21 bilhões de dólares, no ano que vem, o que é muito bom." A melhor notícia A marca recorde de 8,2% no crescimento do PIB dos Estados Unidos no terceiro trimestre deste ano, segundo os dados oficiais de Washington, revelados ontem, teve esta explicação de Walter Brasil Mundell: "Eu acho que esse crescimento forte da economia norte-americana é simplesmente a melhor notícia que poderia acontecer para a economia mundial?. Segundo ele, toda a década de 90 foi puxada pelo crescimento norte-americano, já que a Europa e o Japão cresceram muito pouco, os países emergentes passaram por uma grande crise e a América Latina ficou praticamente estagnada. ?E, após um período curto de interrupção neste elevado crescimento, a economia norte-americana mostra muito vigor de novo, o que deve beneficiar a economia européia, já está beneficiando muito o Japão, e isso ajuda de uma maneira muito acentuada os países emergentes, notadamente a América Latina."

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