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Amazônia inspira criação de escola de empreendedorismo no Brasil

USP e UEA criam a Rainforest Social Business School, para formar profissionais que ajudem a dar escala para a bioeconomia em solo brasileiro

Foto do author Luciana Dyniewicz
Por Luciana Dyniewicz
Atualização:

Um litro e meio de água produzida a partir da umidade do ar da Amazônia, engarrafada e comercializada em hotéis de luxo da Europa por 140 euros. É um produto peculiar que disputa a atenção de consumidores ricos com itens como a água de iceberg da norueguesa Svalbarði ou a água vulcânica da havaiana Waiākea. No caso da água amazônica, ela foi criada por uma empresa brasileira que ainda luta para dar lucro, mas que tem conseguido driblar vários obstáculos, como as dificuldades logísticas para produzir no meio da floresta, à beira do Rio Negro.

Cal Gonçalez Junior, o empreendedor à frente da Ô Amazon Air Water, empresa que criou o projeto, vai dividir os perrengues que enfrenta e as manobras encontradas para desviar deles com centenas de estudantes ainda neste ano na primeira escola de negócios da floresta, a Rainforest Social Business School (RSBS). “A dificuldade de qualquer empreendedor do País se potencializa na Amazônia. Tem a questão da floresta em si, da logística e também a mão de obra carente. Por outro lado, tem pessoas brilhantes que empreendem sem nenhum suporte. A ideia é contribuir para promover educação e desenvolvimento”, diz Junior.

A sustentabilidade é um diferencial nos negócios atuais. Foto: Bruno Kelly/Reuters

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A RSBS está sendo criada por meio de uma parceria entre a Universidade de São Paulo (USP) e a Universidade do Estado do Amazonas (UEA) para formar profissionais que ajudem a dar escala à bioeconomia no País. A primeira turma de pós-graduação da escola de negócios está recebendo inscrições e selecionará 750 alunos neste mês. Um dos principais objetivos do curso é reduzir a distância entre os produtores e os consumidores finais. Os empreendedores deverão ser capacitados para produzir mercadorias de maior valor agregado. 

“Aqui em Berlim, compro um frasco pequeno de pó de açaí por 12 euros. Grande parte desse valor o produtor não vê. Queremos encurtar isso e que o lucro fique no Brasil”, diz a antropóloga alemã Maritta Koch-Weser, idealizadora do projeto. “A bioeconomia da floresta tem de servir em primeiro lugar à população da região”, acrescenta.

Para cumprir com esse objetivo de desenvolver a região, as inscrições para a primeira turma da pós-graduação estão restritas a alunos do Amazonas. Na inscrição, os candidatos precisam enviar um vídeo em que explicam o negócio que pretendem desenvolver, que deve ser ambientalmente responsável. “Queremos formar pessoas com expertise em produtos da Amazônia e que explorem oportunidades que não envolvam derrubar a floresta nem que tenham dificuldade do ponto de vista ecológico, como a mineração”, diz o reitor da UEA, Cleinaldo Costa.

“Vamos mostrar para os alunos que Amazônia e conservação são importantes e indissociáveis na cadeia de valor. A sustentabilidade é um ganho, um diferencial de negócios”, acrescenta a pró-reitora de planejamento, Maria Olívia Simão.

Para capacitar profissionais em todo o Estado, inclusive em localidades onde o acesso à internet é precário, a Rainforest Social Business School usará centros de ensino da UEA espalhados por 13 municípios. Assim, empreendedores de cidades como São Gabriel da Cachoeira – a aproximadamente 850 quilômetros de Manaus, na fronteira com a Colômbia e a Venezuela e acessível apenas de barco ou avião – poderão participar da pós-graduação. As aula serão gravadas, mas os alunos terão de ir até os polos de ensino para assisti-las.

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A secretária executiva de Ciência, Tecnologia e Inovação do Amazonas, Tatiana Schor, destaca que a falta de qualificação dos amazonenses para trabalhar no mercado de bioeconomia não difere muito da dos brasileiros em geral. “Precisamos de pessoas aptas e qualificadas para atuar no mercado aproveitando as vantagens comparativas da economia de uma floresta em pé. Existe um enorme potencial dos produtos oriundos da floresta, eles podem gerar um valor que volte para a sociedade local, melhorando a qualidade de vida sem destruir a floresta”, diz.

A necessidade da formação de mão de obra voltada às especificidades da Amazônia será um dos temas do Fórum de Inovação em Investimentos na Bioeconomia Amazônica (F2iBAM), organizado pela rede Uma Concertação pela Amazônia e pelo Consórcio Interestadual de Desenvolvimento Sustentável Amazônia Legal.

Inscrições 

O Fórum de Inovação em Investimentos na Bioeconomia Amazônica (F2iBAM), evento online que começa na segunda-feira, recebe inscrições pelo endereço: bioeconomiaamazonica.com.br

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