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Ameaça de protecionismo europeu preocupa governo

Por Agencia Estado
Atualização:

A ameaça da União Européia, de proteger sua indústria siderúrgica com salvaguardas, caso os Estados Unidos decidam tomar decisão nesse sentido no próximo dia 6, trouxe uma preocupação nova e ainda mais grave para o governo brasileiro. Na avaliação do embaixador José Alfredo Graça Lima, subsecretário de Assuntos de Integração, Econômicos e de Comércio Exterior do Itamaraty, a confirmação dessas duas medidas poderá provocar uma redução "caótica" na produção mundial de aço, e prejudicar seriamente o setor brasileiro. A possibilidade de o bloco europeu seguir a provável atitude protecionista do presidente americano, George W. Bush, deverá ser o principal tema das conversas que o comissário para o Comércio da União Européia, Pascal Lamy, manterá no próximo dia 28 com autoridades brasileiras. Segundo Graça Lima, a visita de Lamy terá como objetivo "criar um ambiente de defesa contra a esperada decisão do governo americano de proteger suas indústrias siderúrgicas". Em última instância, poderá até mesmo influenciar na decisão final de Bush. A ameaça européia tornou-se um complicador na estratégia montada pelo governo brasileiro para defender as exportações brasileiras de aço. O Itamaraty dá como certa a decisão do governo americano de adotar as salvaguardas. Apenas se pergunta se Bush determinará a aplicação das sobretaxas e cotas na exata medida recomendada no final do ano passado pela Comissão de Comércio Internacional, uma espécie de tribunal interno de defesa comercial, ou se vai optar por limitações mais brandas. A diplomacia trabalha com essa última opção, que não afetaria tanto as exportações brasileiras de semiacabados de aço. "Se as salvaguardas impostas pelos Estados Unidos seguirem as regras da Organização Mundial do Comércio (OMC) e se a cota brasileira for ampla e com volumes crescentes de importação a cada ano, o Brasil pode aceitar a decisão americana", afirmou o embaixador. O cenário muda completamente, porém, com a possibilidade de a União Européia seguir a iniciativa americana. Primeiro, porque se trata de outro grande mercado consumidor do aço brasileiro. Segundo, porque essa decisão reforçaria a tendência de outros países e blocos de proteger suas indústrias. Terceiro, porque essas medidas gerariam desvios no comércio mundial de aço, ou seja, uma busca desenfreada dos produtores por mercados com menores obstáculos. Um quarto ponto de preocupação é a tendência de esse dominó protecionista anular todo o esforço que vem sendo feito pelos países fabricantes de aço, para acertar uma fórmula de redução da produção mundial. Trata-se de uma saída apoiada pelo governo brasileiro. Essa receita, que tende a levar alguns países a fechar usinas improdutivas, vem sendo discutida no Comitê de Aço da Organização para a Cooperação e o Desenvolvimento Econômico (OCDE), do qual o Brasil faz parte. Em princípio, os parceiros do Comitê do Aço concordaram com a seguintes reduções: de 93,6 milhões a 97,6 milhões de toneladas no período de 1998 a 2002; de 30,8 milhões a 32,8 milhões de toneladas, entre 2003 e 2005; e de 12,8 milhões a 14,8 milhõs de toneladas, entre 2006 e 2010. A produção mundial, a cada ano, alcança 1,5 bilhão de toneladas. O governo, entretanto, sustenta que a diminuição não deve atingir a produção brasileira, sob o argumento de que as indústrias nacionais passaram por um severo processo de reestruturação, não dependem de subsídios e tornaram-se competitivas. No ano passado, o Brasil exportou 3,184 milhões de toneladas de aço para os Estdos Unidos, segundo dados do Instituto Brasileiro de Siderurgia. Esse volume corresponde a 34,3% do total de produtos siderúrgicos exportados pelo País, e a cerca de 11,8% da produção anual brasileira, de 27 milhões de toneladas. Das vendas aos EUA, 2,387 milhões de toneladas correspondiam a produtos semiacabados. Para a União Européia, as indústrias brasileiras embarcaram 1,545 milhões de toneladas em 2001 - cerca de 5,7% da produção nacional.

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