O ministro das Relações Exteriores, Celso Amorim, afirmou na noite de ontem, no Itamaraty, que não acredita que um eventual acordo de livre comércio entre o Mercosul e a União Européia será "pouco ambicioso". Na próxima sexta-feira, em Bruxelas, Amorim participará da reunião ministerial dos países dos dois blocos, cujo objetivo será retomar as negociações, paralisadas desde setembro do ano passado. A perspectiva inicial da União Européia seria concluí-lo até maio de 2006, quando ocorrerá a reunião de cúpula União Européia-América Latina. "Sem impulso político, as negociações não avançam", afirmou, referindo-se aos entraves na área técnica que levaram à suspensão das discussões no ano passado. "Eu me comprometi com os europeus a fazer um exame da situação atual das negociações, para ver onde podemos avançar. O Mercosul concordou em flexibilizar mais as suas ofertas em serviços, entre outros. Essa é uma margem na qual podemos trabalhar", completou. Entretanto, Amorim destacou que não sabe se os europeus realizaram o mesmo exercício e se apresentarão propostas que possam "motivar" o Mercosul a seguir com as negociações, em especial na área agrícola. O chanceler deixou claro que a proposta da União Européia sobre o acesso a mercado de produtos agropecuários provenientes do Mercosul, apresentada no ano passado, continua "inaceitável". Para o caso da carne bovina, essa proposta previa a redução gradativa da fatia de mercado conquistada pelo produto do Mercosul, mesmo com elevadas barreiras tarifárias. "Aquelas fórmulas e aqueles números são inaceitáveis", disparou. Para Amorim, durante a reunião de sexta-feira, será necessário definir objetivos estratégicos e dar uma solução para questões como o prazo para a conclusão das negociações e o porcentual do comércio entre os dois blocos envolvido no acordo. Um dos percalços será a proximidade da conferência ministerial da Organização Mundial do Comércio (OMC), marcada para novembro em Hong Kong. Esse evento é considerado crucial para a definição de como se darão as negociações para valer da Rodada Doha, principalmente sobre os temas mais polêmicos - subsídios agrícolas e medidas de defesa comercial, entre outros. Tratam-se de decisões que poderão interferir no acordo entre a União Européia e o Mercosul. A possibilidade de fracasso da conferência também está entre as hipóteses consideradas, o que traria inevitável repercussão no acordo entre os dois blocos. "A proximidade da conferência nos afeta. Mas não nos impede de avançar nossos trabalhos no âmbito birregional."