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Amorim tentará retomar diálogo sobre Doha com Mandelson

Diálogo ganhou no último fim de semana mais um complicador: o fim da chance de o governo dos EUA fechar um acordo sem ter de submetê-lo ao Congresso

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Por Redação
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À margem da reunião de cúpula, o ministro das Relações Exteriores, Celso Amorim, deverá encontrar-se com o comissário europeu para o Comércio, Peter Mandelson, em uma tentativa de retomar o diálogo em torno da Rodada Doha. Na diplomacia brasileira, Doha continua sendo prioritária mesmo depois do recente fracasso ocorrido em Potsdam, na Alemanha, quando o G-4, composto pelos quatro principais protagonistas da rodada - Brasil, União Européia, Estados Unidos e Índia -, tentou em vão delinear um entendimento. A saída, avaliam diplomatas, será buscar um outro formato de negociação, provavelmente um que contemple um grupo maior de interlocutores. O diálogo, que já estava difícil, ganhou no último fim de semana mais um complicador: o fim da possibilidade de o governo dos Estados Unidos fechar um acordo sem ter de submetê-lo ao Congresso. Embora a intenção não seja negociar, o encontro será uma boa oportunidade para restabelecer o diálogo. A reunião de cúpula e o jantar logo após será uma ocasião para o presidente Luiz Inácio Lula da Silva insistir na tese que defende já há alguns meses: que só uma interlocução no mais alto nível político, ou seja, entre chefes de Estado, será capaz de tirar a Rodada Doha do impasse. Na semana passada, ele enviou um duro recado aos países desenvolvidos: sem cortes mais substanciais na proteção à agricultura, "não tem conversa". Em diálogo por telefone com o então primeiro-ministro britânico, Tony Blair, Lula ponderou que os europeus não podem negociar hoje como se ainda estivessem no século XX, defendendo antigos esquemas de proteção à agricultura local. Acordos bilaterais Após o mau resultado de Potsdam, empresários e especialistas em comércio exterior brasileiros insistiram que o Brasil deveria dar mais força às negociações bilaterais - como é o caso, por exemplo, do acordo comercial entre Mercosul e União Européia. As negociações para esse acordo, avaliam negociadores de ambos os lados, deverão ser retomadas em setembro ou outubro. Mas, na avaliação do lado brasileiro, a OMC segue sendo mais importante porque é a única possibilidade de se cortarem subsídios dos países ricos à agricultura. O acordo entre Mercosul e União Européia, avalia o Itamaraty, é mais restrito porque trata apenas de acesso a mercados. Ou seja, enquanto Doha ataca a proteção à agricultura na raiz, o acordo com a União Européia apenas estabeleceria regras e limites para o comércio de ambos os lados - em tese, abrindo mais espaço para a produção agropecuária brasileira no mercado europeu, mas sem tocar em subsídios. Na visão do Itamaraty, um acerto na Rodada Doha daria uma base mais concreta para as negociações do acordo entre Mercosul e União Européia. O acordo bilateral está parado desde 2004, quando chegou a um impasse e os negociadores decidiram esperar o desenrolar de Doha para então avançar. Na semana passada, o chefe da delegação da Comissão Européia no Brasil, João Pacheco, avaliou que o acordo Mercosul-União Européia será mais fácil de fechar do que a Rodada Doha. Primeiro, porque estão de fora países de peso, como Estados Unidos (que defendem fortemente seu programa de subsídios à agricultura) e a China, que desequilibra qualquer discussão sobre abertura na área industrial. Segundo, porque o Mercosul hoje está em melhor condição econômica do que estava em 2004. A Argentina, que há três anos saía de uma de suas piores crises, está em recuperação.

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