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Anac diz que procedimentos de pouso da Trip são de 'alto risco'

Por Marina Gazzoni , Glauber Gonçalves , SÃO PAULO e RIO
Atualização:

A Agência Nacional de Aviação Civil (Anac) abriu um processo administrativo contra a Trip Linhas Aéreas para investigar o uso de um procedimento de pouso não autorizado, considerado de "alto risco" pelo órgão. A companhia aérea confirmou que foi notificada sobre a questão anteontem e orientou seus pilotos a não utilizarem mais o procedimento."A empresa Trip recorrentemente realiza procedimentos de aproximação não aprovados em sua especificação operativa", disse relatório de fiscalização da Anac de 27 de agosto, obtido pelo Estado.A Anac recebeu denúncia anônima sobre o uso pela Trip de uma técnica de pouso chamada RNAV Approach. A técnica usa instrumentos de precisão, como GPS, e permite à empresa voar a alturas mais baixas antes de pousar, segundo o professor do curso de Ciências Aeronáuticas da PUC-RS, Ênio Dexheimer. Com isso, a empresa tem condições de pousar mesmo com visibilidade baixa, evitando sobrevoar até que as condições melhorem ou ter de se dirigir a outro aeroporto - o que aumentaria o custo.O uso da técnica requer a certificação da empresa e do avião, o que a Trip não possui. E, mesmo com o certificado, as companhias só podem pousar em aeroportos onde o procedimento é autorizado pelo Departamento de Controle do Espaço Aéreo (Decea). "Como resultado do processo, a empresa poderá ser autuada, sujeitando-se à imposição de sanções administrativas", disse a Anac, em comunicado ao Estado. Se confirmadas as irregularidades, as sanções poderão ir de multas à suspensão dos voos da empresa. A fiscalização da Anac flagrou o uso do procedimento em pelo menos três voos da Trip em agosto, nos aeroportos de Juiz de Fora (MG) e nos catarinenses Criciúma e Joinville, segundo o documento de 27 de agosto. Outro relatório, de 4 de setembro, diz que a Anac encontrou anotações de pilotos da Trip que definem alturas mínimas para o pouso com a técnica de aproximação por instrumentos em 15 aeroportos onde o procedimento não é autorizado pelo Decea. Segundo quatro especialistas consultados pelo Estado, o uso da técnica sem certificação compromete a segurança. "É uma infração grave do regulamento do setor aéreo", disse o comandante Carlos Camacho, diretor de segurança de voos do Sindicato Nacional dos Aeronautas. "Só o Decea pode criar o procedimento. Nenhum piloto pode fazer isso. O risco é errar na precisão e atingir um obstáculo, por exemplo."A Trip disse que sua operação é segura. "O procedimento RNAV Approach é uma técnica moderna e muito segura", disse o presidente da Trip, José Mario Caprioli. Ele admitiu que a empresa vinha utilizando a técnica, mas o procedimento foi suspenso na quarta-feira após determinação da Anac.

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