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ANÁLISE-Acostumado a juro alto, real não dispara no curto prazo

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Por Silvio Cascione
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O cenário ficou mais propício para a queda do dólar frente ao real, mas a alta de 0,50 ponto percentual da Selic deve ter pouco efeito imediato sobre o câmbio, segundo analistas ouvidos pela Reuters nesta quinta-feira. O mercado já contava com um aperto monetário, embora a decisão tenha sido mais agressiva que o previsto. Além disso, outros fatores como o cenário internacional e o comércio exterior influenciam as cotações. "O efeito (da alta da Selic) já vinha sendo sentido pelo mercado. Conforme (o mercado futuro de) taxa de juro começou a indicar alta, o mercado já foi fazendo a arbitragem. Não dependia especificamente do aumento da Selic", avaliou Jorge Knauer, gerente de câmbio do banco Prosper, no Rio de Janeiro. O câmbio driblou as medidas tomadas pelo governo para conter a valorização do real e acumula queda de mais de 6 por cento em 2008. Em 13 sessões de abril, o dólar subiu em apenas uma e, com isso, está no menor patamar desde 1999. Nesta quinta-feira, primeiro dia de vigência da nova Selic, a moeda norte-americana caiu 0,36 por cento, para 1,658 real --bem menos do que a baixa de 1,19 por cento da véspera. Os analistas evitam cravar uma projeção para a queda do dólar. Marcelo Voss, economista-chefe da corretora Liquidez, citou, por exemplo, que o ciclo de baixa do juro norte-americano pode estar perto do fim --o que daria alguma sustentação ao dólar em todo o mundo após um período longo de queda. CONCORRÊNCIA Alexandre Lintz, estrategista-chefe do BNP Paribas no Brasil, avalia também que não são apenas os ativos brasileiros que estão atraentes no momento. "Teve muita queda de bolsa (nos últimos meses). Nós estamos competindo com ativos mais atraentes (pelo mundo), e isso vai limitar" a queda do dólar. Mas há outros fatores que, ao lado do juro, podem pesar a favor da valorização do real. Um exemplo é a atuação de exportadores, que anteciparam receitas no começo de abril e foram responsáveis por boa parte dos mais de 5 bilhões de dólares que ingressaram no país no período. Para Roberto Padovani, estrategista de investimentos sênior do WestLB do Brasil para a América Latina, esse fluxo --permitido pelo cenário mais calmo no exterior-- pode acabar tendo uma influência maior do que a Selic sobre o câmbio. "Com a volatilidade externa caindo, eles (exportadores) se sentem mais à vontade" para antecipar receitas, disse Padovani, que ainda vê espaço para a queda do dólar. No caso do recuo recente do dólar, ele foi acompanhado pelo ajuste das posições no mercado futuro. Segundo dados da Bolsa de Mercadorias & Futuros (BM&F), os estrangeiros praticamente desmontaram a proteção contra a alta do dólar que construíram no auge da crise global de crédito, o que pode ser visto como um indicador da direção do câmbio. Sidnei Nehme, diretor-executivo da NGO Corretora, é outro que ainda aposta na valorização do real --e, para ele, o juro tem um papel fundamental nesse processo. Mas reconhece em relatório que não há atualmente "tanto espaço para a queda do dólar... quanto se teve no ano passado".

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