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Análise: Ainda é cedo para avaliar efeitos de planos de resgate

Segundo analistas, resultados só poderão ser sentidos no próximo ano.

Por Jorn Madslien
Atualização:

Depois de semanas de turbulência nos mercados financeiros, a Grã-Bretanha e outros governos europeus prometeram investir bilhões de libras e euros para pôr fim à crise de crédito que ameaça mergulhar o mundo em uma recessão global. A Grã-Bretanha e outros governos estão assumindo grandes fatias (e em alguns casos o controle) de bancos em dificuldades e deverão garantir empréstimos entre os bancos para recuperar a confiança no setor e dar novo impulso aos mercados de hipotecas e empréstimos. Então, a ação conjunta dos governos europeus representa uma bala de prata contra a crise? A reação inicial dos mercados - as bolsas britânicas e européias subiram nesta segunda-feira e os preços do petróleo aumentaram com esperanças de uma reativação econômica - sugere que os investidores estão cautelosamente otimistas. "Depois de um começo acidentado, a Europa está finalmente agindo em consenso", diz uma nota do Bank of America. "O tamanho e a natureza dos planos nacionais sugerem que eles podem finalmente fazer diferença." Peter Dixon, do banco alemão Commerzbank, concorda: "Baseado na resposta dos mercados nesta manhã, eles certamente parecem acreditar que a venda generalizada de ações da semana passada foi extremamente exagerada". Futuro incerto No entanto, ainda há aqueles que alertam que o futuro permanece encoberto. "Agora, a esperança é de que o dia de hoje seja um divisor de águas", diz Keith Bowman, analista do Hargreaves Lansdown. No entanto, diz ele, "ainda é muito cedo para analisar as ramificações dessas medidas". Victor Shum, analista de energia do Purvin & Gertz, também se mantém cauteloso: "É um estímulo, apesar de ainda ser muito cedo para saber se isso vai restaurar a confiança nos mercados de crédito". No entanto, já é possível chegar a algumas conclusões. Para começar, diz Dixon, está claro que "vamos ver emergir um setor bancário muito diferente", no qual "o Estado terá um papel muito maior nas regras de negócios (dos bancos)". Isso é crucial, já que vai nos levar a um futuro no qual "os bancos não estarão em posição de assumir muitos dos riscos com seu capital como fizeram no passado". Então, por exemplo, apesar de um esperado restabelecimento dos empréstimos entre bancos, parece pouco provável que as instituições financeiras retornem às descuidadas práticas atuais de empréstimos, seja para cartões de crédito ou hipotecas. E com essa nova atitude mais cautelosa, não se deve esperar um retorno aos gastos excessivos de consumidores, nem aos preços galopantes dos imóveis, estimulados por hipotecas de fácil acesso. Em vez disso, podemos esperar que os empréstimos bancários sejam afetados, talvez até alinhados com os objetivos do governo, segundo Dixon. "Nós poderemos ver uma mudança rumo a empréstimos 'socialmente responsáveis' em áreas como pequenas empresas ou esquemas de parcerias público-privadas", afirma. Por exemplo, uma das condições que o governo britânico atrelou à injeção de recursos nos bancos Royal Bank of Scotland, Lloyds TSB e HBOS é que eles mantenham os empréstimos para proprietários e pequenos empresários nos níveis de 2007 pelos próximos três anos. Isso pode ser um exemplo de uma política de empréstimos que estabelece um objetivo politicamente motivado em vez de meramente produzir lucro para o banco - apesar de que, obviamente, deve resultar em ambos. Recessão Outra previsão é de que o plano de resgate deva "colocar os mercados de pé e ativos novamente", com os bancos voltando a emprestar dinheiro uns aos outros. No entanto, David Keeble, do Calyon em Londres, diz que "pode levar algumas semanas para colocar (o mercado) funcionando a pleno vapor, como estava". Kenneth Broux, economista de mercados financeiros do Lloyds TSB, concorda. "É provavelmente algo para 2009", diz. "Eu ainda acho que vamos ver uma grande competição por fundos até 31 de dezembro, e então uma melhora em 2009", afirma. No entanto, observa James Hamilton, analista da Numis Securities, "este é o fim do capítulo dois da história de horror, mas infelizmente o capítulo três - a recessão - está a caminho". Com uma recessão no horizonte, e com os bancos mais cautelosos, é pouco provável que haja muitos investimentos alavancados por títulos atrelados a dívidas no futuro próximo. Além disso, parece imprudente esperar saltos nos mercados de ações baseados em qualquer crença em ganhos extravagantes para empresas. "Um enfraquecimento na demanda está forçando as empresas a cortar seus preços", diz Paul Dales, da Capital Economics. Mas isso também significa que "a inflação não é mais um grande problema", observa Philip Shaw, da Investec. Consequentemente, o Banco da Inglaterra, o Banco Central europeu e outros devem voltar a cortar as taxas de juros nos próximos meses. Taxas de juros mais baixas fazem com que guardar dinheiro seja pouco atraente, e por isso as ações parecem tentadoras em comparação. Isso, combinado com empréstimos entre bancos de forma eficiente, significa que as empresas deverão ter mais facilidade em atrair investimentos, o que por sua vez deverá impulsionar tanto a chamada "economia real" quanto as bolsas de valores. "Estamos chegando a um ponto no qual as políticas podem começar a ter um impacto nos mercados de crédito, e uma vez feito isso, ajudar os mercados de equity", diz Daniel McCormack, estrategista da Macquarie Securities. De acordo com o relatório do Bank of America, os planos de resgate não apenas "aliviam a situação difícil do setor financeiro", mas também "atenuam o risco de que a atual recessão possa se tornar ainda mais profunda e mais demorada". Mas o mais importante para as bolsas de valores é confiança, uma commodity das mais frágeis durante uma recessão que a maioria dos observadores ainda considera inevitável. Parece que as bolsas de valores vão continuar a ser arenas para os bravos, ou para os imprudentes, ainda por algum tempo. BBC Brasil - Todos os direitos reservados. É proibido todo tipo de reprodução sem autorização por escrito da BBC.

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