ALOCAÇÃO DE ENERGIA
A sazonalização de energia é feita pelas geradoras antes do início de cada ano com base nas estimativas de cada gerador para o ano seguinte.
Grande parte das hidrelétricas do país alocaram maior volume de sua energia do ano no primeiro trimestre, na expectativa de obter mais ganhos com essa estratégia, já que apostavam que o preço de energia de curto prazo (PLD) cairia a partir de abril.
"Esperava-se que até abril os reservatórios se recuperassem, o que não aconteceu", disse Silva, da Tractebel.
Como os reservatórios das hidrelétricas não se recuperaram, a geração hidrelétrica deverá ser bem menor que o previsto anteriormente pelas geradoras, para poupar as represas que estão em níveis historicamente baixos.
Além da estratégia de alocação de energia, a exposição das geradoras tende a aumentar porque o consumo de carga de energia no sistema deve reduzir, diante da diminuição das temperaturas tradicional do período.
Com a redução da carga, diminui a necessidade de geração de energia pelo sistema, permitindo que os reservatórios das hidrelétricas sejam ainda mais poupados, procedimento operativo que costuma ocorrer nestas situações.
Assim, grande parte das geradoras pode ter fortes ganhos conquistados no primeiro trimestre anulados ao longo do ano, já que ficarão expostas a uma possível escassez de energia contratual ao longo do ano.
"Na média, o resultado das geradoras tem que ser analisado ao longo do ano. O resultado do primeiro trimestre pode se reverter para frente", disse o presidente da Associação Brasileira dos Produtores Independentes de Energia Elétrica (Apine), Luiz Fernando Vianna.
Geradoras têm pedido uma solução para a exposição ao longo do ano e preparam estudos com soluções para apresentar ao governo federal.
Mas alguns argumentam que o risco hidrológico é o risco do negócio das geradoras, com o qual elas têm que lidar.
Edson Luiz da Silva, da Tractebel, rebate, dizendo que nenhuma geradora costuma deixar descontratado um volume de energia tão grande quanto o que deverá ser necessário para enfrentarem uma situação crítica como a atual.
Ele acrescentou que a alteração da regra no cálculo do PLD, que provocou a elevação do preço a partir de setembro do ano passado, também acabou elevando o impacto da exposição para as companhias.
"O cálculo do PLD foi mudado no meio do processo. Antes, eu poderia estar exposto, mas num patamar de preço mais baixo que o atual. Se não houvesse a mudança de regra ao longo do processo, eu teria condições de uma outra decisão", disse.