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ANÁLISE-Brasil pode festejar novo status, mas tem de avançar

Por ANA NICOLACI DA COSTA
Atualização:

O Brasil tem motivo para comemorar seus dois graus de investimento, mas analistas disseram que o dia da formatura ainda está por vir se o país não realizar as evitadas reformas estruturais. A Fitch Ratings elevou o Brasil para "BBB-" na quinta-feira, um mês após a Standard & Poor's se tornar a primeira grande agência de classificação de risco a dar ao país a esperada aprovação. Analistas receberam o movimento como um reconhecimento dos fundamentos cada vez mais sólidos do Brasil, incluindo o rápido crescimento e superávit primário e comercial. E um reconhecimento que irá colocar o gigante, uma vez adormecido, no alcance dos radares de uma quantidade maior de investidores e assegurará um fluxo constante de capital para o país. Mas a Moody's Investor Service, que ainda mantém o Brasil abaixo do grau de investimento, afirmou que o país precisa reduzir ainda mais a sua dívida. Alguns analistas também temem que o Brasil fique complacente e disseram que o país deverá enfrentar as reformas estruturais para acabar com seus problemas fiscais de uma vez por todas. "Não há mais dúvidas sobre a solvência fiscal do Brasil, ainda existem diversos desafios em termos de estrutura fiscal e arcabouço fiscal no Brasil", disse Marcelo Carvalho, economista chefe do Brasil da Morgan Stanley. Carvalho disse que a carga tributária é muito alta e o sistema tributário muito complexo. O Brasil tem uma carga tributária equivalente a mais de 34 por cento do Produto Interno Bruto, uma das maiores entre os mercado emergentes. Mas as receitas dos impostos têm ajudado a sustentar o superávit primário, apesar do orçamento nominal seja frequentemente um déficit e o superávit comercial estar se estreitando por uma alta nas importações. Carvalho ainda disse que o orçamento é muito rígido e que precisa ser melhor priorizado. PISANDO EM OVOS A administração do presidente Luiz Inácio Lula da Silva trabalhou para aprovar apenas uma reforma tributária parcial em 2003, pois faltou apoio dos 27 governadores, que temiam uma queda das receitas com as mudanças. Analistas disseram que as reformas são chaves para a decolagem de economia do Brasil. A Fitch elogiou o desempenho econômico do Brasil, seus esforços para reduzir sua dívida e o seu sucesso em controlar a inflação, mas disse que o país poderia estar melhorando as suas contas públicas. "O Brasil obviamente continua tendo restrições em sua avaliação, isto é a fraqueza estrutural de suas finanças, uma alta dívida e o ritmo glacial de suas reformas", disse Shelly Shetty, diretora sênior de ratings para América Latina da Fitch, disse em teleconferência. O ministro da Fazenda Guido Manteda disse nesta sexta-feira que o Brasil irá elevar seu superávit primário em pelo menos 0,5 por cento do PIB, uma tentativa clara de mostrar o comprometimento do governo com a cautela fiscal. Autoridades também descartaram o risco do Brasil voltar a crescer complacentemente com seu novo título e voltar aos velhos e destrutivos hábitos de gastos. Zeina Latif, economista chefe do Brasil da Banco Real, afirmou que os temores são exagerados. "As preocupações com a redução do déficit público não serão alterados pois, com ou sem grau de investimento, é um problema para o mercado", disse ela. Mas ela estava menos otimista sobre o alcance das reformas sob o governo atual. "O fator-chave (para melhorias) é o crescimento econômico, e para ter um crescimento sustentável eles precisam enfrentar os problemas fiscais e regulatórios. E isto não está na agenda do Lula. Estes serão desafios para o próximo governo."

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