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ANÁLISE-Brasil pode focar acordos bilaterais após estrago n OM

Por MARCELO TEIXEIRA
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A falta de um novo acordo de comércio global vai reduzir o ritmo de expansão das exportações brasileiras em alguns setores e poderá levar o país a buscar acordos regionais ou bilaterais para aliviar o estrago provocado na OMC, onde o Brasil apostou alto. Dirigentes de entidades industriais e rurais, assim como especialistas em comércio, não vêem o colapso das negociações da Rodada de Doha como um desastre total, mas acreditam que um acordo poderia acelerar ganhos do país em algumas áreas que se mostram carentes no mundo, como alimentos e energia. "Se o Brasil tivesse obtido um resultado como estava mais ou menos se delineando, já teria uma promessa concreta, traduzida em acordos, de uma expansão de mercado daqui alguns anos", afirmou Rubens Ricupero, ex-diretor geral da Conferência das Nações Unidas para Comércio e Desenvolvimento (Unctad). "Agora não vai ter nada. Mercados por exemplo como o do etanol e agrícolas em geral, a diminuição de subsídios na Europa e Estados Unidos, não vai haver nada disso. Vamos ficar esperando uma outra tentativa", afirmou. Pedro Camargo Neto, presidente da associação que reúne exportadores de carne suína, afirmou que agora o Brasil deve olhar para outras formas de expandir exportações. "Você não ganha os aumentos que iriam ocorrer agora, mas a vida continua", disse Camargo. "O que o Brasil cresceu de exportador agrícola nos últimos 15 anos não teve nada a ver com a Rodada do Uruguai, por exemplo, mas sim com o aumento de produtividade, reforma estrutural. Vai continuar nessa linha", acrescentou. OBSTÁCULO DO MERCOSUL O vice-presidente da Associação de Comércio Exterior do Brasil (AEB), José Augusto de Castro, diz que o país ficou relativamente isolado durante os sete anos das negociações de Doha, ao contrário de outros emergentes como México e Chile, que fecharam acordos em outras esferas. Ele acredita que o país, de agora em diante, deve correr atrás do tempo perdido. "Os acordos bilaterais têm que ser a saída para o Brasil agora. O problema é que um entendimento tem que ser aceito por todos os parceiros do Mercosul e o Brasil é uma economia muito maior do que os demais sócios. Os interesses são diferentes", disse Castro. "O caminho daqui para a frente é um caminho interessante porque vamos ter de trabalhar violentamente para acordos bilaterais de comércio", concordou Humberto Barbato, presidente da Abinee (Associação Brasileira da Indústria Elétrica e Eletrônica). Algumas negociações paralelas à da Rodada de Doha, como a própria Área de Livre Comércio das Américas (Alca), foram deixadas de lado nos últimos anos em favor de um consenso mais amplo no ambiente multilateral da OMC. Mas há quem coloque dúvidas sobre a eficácia de acordos regionais quando se trata de temas mais complexos, como os que travaram o avanço das negociações em Genebra. "Eu não acredito que não se chegue a um acordo (na Rodada de Doha), seja lá qual for, quando for", afirmou a consultora em comércio internacional Elisabete Seródio. "Porque nas discussões bilaterais (fora da OMC) não há avanço em temas como subsídios à exportação, acesso a mercado e apoio doméstico que distorce o comércio. Por isso, esses acordos são muito mais políticos, eles geram pouco fluxo de comércio", acrescentou. O diretor-geral da Associação Nacional dos Exportadores de Cereais, Sérgio Mendes, vê até um aspecto positivo no fato de o acordo não ter sido fechado agora. Segundo ele, isso dará mais tempo para o país se preparar estruturalmente para um crescimento nos volumes de exportações, principalmente na área agrícola. "Temos que nos preocupar é com ampliar a produção para atender essa demanda adicional, coisa que hoje não vejo o Brasil preparado em termos de infra-estrutura de transporte e mesmo em expansão de plantio." O diretor-geral da OMC, Pascal Lamy, afirmou após confirmar o fracasso nas conversas não saber quando será possível lançar uma nova tentativa para um entendimento. Peter Mandelson, da União Européia, disse que não vê chance no futuro próximo de resolver os temas que racharam a reunião de Genebra. O ministro brasileiro Celso Amorim falou em um prazo de três a quatro anos para uma retomada. (Colaboraram Ana Nicolacci, Camila Moreira, Aluísio Alves, Roberto Samora, Inaê Riveras, Gustavo Nicolleta, Raymond Colitt, Taís Fuoco e Isabel Versiani)

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