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Análise: Com estagnação do setor de serviços, dezembro de 2020 alerta para 2021

Nenhuma medida será mais importante neste momento do que concentrar esforços na obtenção do maior número possível de doses de vacina contra o novo coronavírus

Por Fábio Bentes
Atualização:

Os indicadores conjunturais mais recentes acenderam a “luz amarela” no setor produtivo. Depois do tombo nas vendas do varejo no último mês do ano passado - foi o pior mês de dezembro dos últimos 20 anos - as demais pesquisas divulgadas pelo IBGE atestaram a tendência de desaceleração econômica na virada de 2020 para 2021.

Na indústria, houve crescimento (0,9% em relação a novembro), menor taxa desde que o setor deixou o “fundo do poço” em abril. O setor de serviços - maior empregador da economia - acusou queda de 0,2% no último mês do ano. Assim como a indústria, o setor vinha crescendo desde maio. O setor de turismo, por sua vez, segue seu calvário ainda sem perspectiva de retomada do nível de atividade pré-pandemia. Em dezembro, o volume de receitas desse setor ainda estava 30% abaixo da média do primeiro bimestre do ano passado. 

No caso das atividades de serviços (turismo incluído), a recuperação deve ser muito mais árdua. Foto: Felipe Rau/Estadão

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No caso das atividades de serviços (turismo incluído), a recuperação deve ser muito mais árdua. Com o real desvalorizado e algumas regiões do planeta vislumbrando a saída da crise antes do Brasil, pelo menos parte da indústria brasileira poderá recuperar o terreno perdido para a crise global no médio prazo via exportações. No comércio, o consumo online - que cresceu 50% na segunda metade de 2020 - segue como uma alternativa ao comportamento ainda anormal das vendas presenciais.

Os serviços, além de não contarem com essa opção, ainda sofrem com a impossibilidade de alocar o consumo de forma intertemporal. Os consumidores que adiaram a compra do automóvel ou do eletrodoméstico, por conta do aumento da incerteza, poderão fazer esse movimento no momento em que a confiança na recuperação de sua capacidade de geração de renda e a segurança no emprego permitirem. Nos serviços, esse “efeito compensação” é difícil de acontecer.

A safra de indicadores do final do ano passado sugere um início de 2021 difícil no lado real da economia. Além da crise sanitária, temos outros problemas para lidar, como a inflação acima do centro da meta, desemprego em alta, investimentos represados, etc. Claramente, a sequência de indicadores mensais positivos registrados no ano passado deriva muito mais da base comparativa deprimida do que da capacidade de recuperação autônoma da economia brasileira. As medidas que foram adotadas ao longo de 2020 deverão ser retomadas para que, ainda que de forma paliativa, a economia sofra menos.

Nenhuma medida será mais importante neste momento do que concentrar esforços na obtenção do maior número possível de doses de vacina contra o novo coronavírus. Do ponto de vista sanitário, ela irá prevenir a incidência da doença na maioria da população e, do ponto vista econômico, irá nos curar do grave quadro atual.

*Economista da Confederação Nacional do Comércio de Bens, Serviços e Turismo (CNC) 

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