PUBLICIDADE

ANÁLISE: Crescimento forte, mas concentrado em fatores temporários

Cabe registrar que o crescimento foi muito influenciado por forte contribuição da produção agropecuária

Por Mário Mesquita
Atualização:

O PIB apresentou crescimento de 1,0% no primeiro trimestre de 2017 ante o trimestre anterior, após ajuste sazonal. O resultado forte interrompe a sequência de oito trimestres consecutivos de contração, e sugere que a melhora dos fundamentos (queda da taxa de juros, redução da alavancagem das empresas, alta das commodities e da confiança) já começa a afetar a economia e viabiliza uma recuperação disseminada à frente.

PUBLICIDADE

No entanto, cabe registrar que o crescimento da oferta foi muito influenciado por forte contribuição da produção agropecuária e carrego favorável da produção industrial, que teve alta forte em dezembro. Pela demanda, tanto o consumo quanto o investimento fixo recuaram no trimestre. Desse modo, o crescimento foi causado pelo acúmulo de estoques e nas exportações líquidas.

POTENCIAL DE CRESCIMENTO DO BRASIL CONTINUA EM QUEDA, DIZEM ESPECIALISTAS

Outros indicadores tampouco sinalizam uma retomada disseminada. Os índices de confiança seguem abaixo dos patamares consistentes com crescimento, a despeito da melhora dos últimos meses. As pesquisas mensais da indústria, do comércio e de serviços mostram um quadro de estagnação e volatilidade em 2017. A taxa de desemprego também aumentou no trimestre, embora seja importante ressaltar que o mercado de trabalho tende a reagir com defasagem à retomada da atividade econômica.

Desse modo, apesar do crescimento forte no primeiro trimestre, devemos observar desaceleração no trimestre seguinte. A principal causa é a reversão dos dois principais fatores que contribuíram para a alta do PIB: o setor agropecuário deve ter ligeira contribuição negativa, e o carrego da produção industrial está negativo devido à queda do indicador observada em março. Além disso, os indicadores coincidentes sugerem estagnação do ritmo de atividade em abril e maio.

SAFRA RECORDE É PRINCIPAL RESPONSÁVEL PELA ALTA DO PIB

Neste contexto, o recente aumento das incertezas quanto à aprovação das reformas pode afetar a atividade por dois canais. Primeiro, aumentando a cautela de empresas e famílias, o que enfraquece a demanda agregada e aumenta os riscos de uma rodada adicional de contração da atividade. Segundo, reduzindo o ritmo de flexibilização monetária. A política, sabemos, tem o seu timing próprio. Mas a economia também, e esse requer a continuidade do processo de ajuste e reformas.*ECONOMISTA-CHEFE DO ITAÚ UNIBANCO

Publicidade

Comentários

Os comentários são exclusivos para assinantes do Estadão.