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Análise: Debandada em equipe de Guedes repete roteiro de derrotas políticas do ministro da Economia

Assim como em outras ocasiões, o fracasso do ministro da Economia em projetos importantes para a política econômica levou à saída de secretários do ministério

Foto do author Eduardo Rodrigues
Por Eduardo Rodrigues
Atualização:

BRASÍLIA - Assim como ocorreu com as privatizações e a reforma tributária, o novo fracasso do ministro da Economia, Paulo Guedes, em honrar suas promessas de manter de pé o teto de gastos resultou em nova debandada de seus principais auxiliares. 

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O pedido de exoneração do secretário especial do Tesouro e Orçamento, Bruno Funchal, do secretário do Tesouro Nacional, Jeferson Bittencourt, - e de seus adjuntos - engrossa a lista de secretários especiais que abandonaram Guedes após o ministro não conseguir vencer batalhas travadas com a ala política do governo de Jair Bolsonaro.

Dessa vez, caiu por terra o discurso da equipe econômica de que manteria o teto de gastos a qualquer custo, evitando uma aventura populista. Após meses garantindo que o governo faria tudo dentro das regras fiscais para pagar um Auxílio Brasil de R$ 300, Funchal e Bittencourt foram atropelados pela manobra política que culminou com um acerto para alterar a fórmula de cálculo do teto de gastos, antecipando uma revisão que só deveria ser feita em 2026. 

Não é a primeira vez que Guedes perde seus secretários após não ter sucesso em dobrar a política. No começo de 2019, o ministro anunciou que estava formando um "dream team" para a superpasta que abarcaria Fazenda, Planejamento, Trabalho, Indústria e Comércio Exterior. Mas antes mesmo do fim do terceiro ano de governo, praticamente todos os seus secretários especiais originais - e agora parte dos substitutos - já abandonaram o barco.

O ministro da Economia, Paulo Guedes, tem sofrido derrotas para a ala política Foto: Dida Sampaio/Estadão - 13/9/2021

Funchal assumiu a secretaria do Tesouro em julho do ano passado ao substituir Mansueto Almeida, um dos principais nomes da equipe de Guedes, que decidiu deixar o governo para assumir o posto de economista-chefe do BTG Pactual. Em maio deste ano, quando o secretário especial de Fazenda, Waldery Rodrigues, também deixou o cargo, Funchal foi alçado ao cargo de secretário especial, trazendo Bittencourt para o comando do Tesouro. Com a saída de ambos, a pasta ainda não informou quem comandará os dois órgãos a partir de agora. 

Diáspora

Do time titular que entrou em campo no começo do governo, apenas o secretário especial de Produtividade, Emprego e Competitividade, Carlos Alexandre Da Costa, continua em sua cadeira. Sem conseguir entregar a guinada liberal prometida desde a campanha de Jair Bolsonaro em 2018, Guedes perdeu todos os outros secretários especiais ao longo do caminho.

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Neste ano, o ministro perdeu inclusive um bom pedaço dos seus domínios com a recriação do Ministério do Trabalho e Previdência, desmembrado da Economia por Bolsonaro para conseguir acomodar o Centrão nos ministérios palacianos.

A primeira baixa no "dream team" de Guedes foi a do ex-secretário especial da Receita Federal, Marcos Cintra, que acumulou desgastes com a ala política do governo em diversas frentes da reforma tributária e acabou deixando o cargo em setembro de 2019. A proposta de recriação da CPMF para bancar a desoneração da folha de salário minou o caminho do economista na pasta.

No caso do secretário especial de Desestatização, Salim Mattar, o motivo foi a lentidão das privatizações, estagnadas na pandemia, mas travadas desde antes por pressões políticas. Basta lembrar que o plano de privatização da Eletrobras foi anunciado há mais de quatro anos, ainda no governo Michel Temer, e até hoje não foi concretizado.

Já o secretário especial de Desburocratização, Gestão e Governo Digital, Paulo Uebel, preferiu deixar o cargo a permanecer "engavetado" no ministério junto com a proposta de reforma administrativa, barrada por Bolsonaro para não bater de frente com o lobby do funcionalismo público. Meses após a saída dele, o projeto foi finalmente enviado ao Congresso.

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Guedes também perdeu dois auxiliares que foram "promovidos" justamente por avançarem em suas agendas. O ex-secretário especial de Comércio Exterior, Marcos Troyjo, foi indicado em junho para a presidência do Novo Banco de Desenvolvimento - o "Banco dos Brics", com sede em Xangai, após o sucesso na conclusão do acordo entre o Mercosul e a União Europeia em 2019.

Já o ex-secretário especial de Previdência e Trabalho, Rogério Marinho, colheu os louros da aprovação da reforma da Previdência e foi elevado ao posto de ministro do Desenvolvimento Regional. Ironicamente, Marinho se converteu em um dos maiores "rivais" de Guedes no embate sobre a abertura da torneira de gastos do governo.

O ministro acumulou ainda perdas nos bancos públicos. O liberal ex-ministro da Fazenda Joaquim Levy foi defenestrado por Bolsonaro do comando do BNDES em junho de 2019, porque supostamente resistiria a abrir a "caixa preta" do banco de fomento.

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Em julho do ano passado, foi a vez do ultraliberal Rubem Novaes anunciar que deixaria a presidência do Banco do Brasil, alegando dificuldades em mudar a cultura da instituição de capital aberto - que transita entre o mercado e o Estado.

Em abril deste ano, a economista Vanessa Canado foi mais uma perda de peso na equipe de Guedes. Após a saída de Cintra, em 2019, ela foi um dos principais nomes na elaboração das propostas de reforma tributária do governo, ao lado do secretário especial da Receita Federal, José Tostes Neto.