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ANÁLISE-Dólar fraco e grandes safras deixam sojicultor em alerta

Por ROBERTO SAMORA
Atualização:

Um cenário de safras recordes nos maiores produtores mundiais de soja em 2009/10 deixa agricultores do Brasil em alerta, disseram analistas. Eles temem que os preços possam cair, apertando as margens já prejudicadas pelo câmbio do país, segundo do ranking global da oleaginosa. A situação só não é pior porque o dólar fraco no mercado internacional age como fator altista para os futuros da soja, com investidores aproveitando a fraqueza da moeda norte-americana no mundo para comprar commodities nela denominadas, o que acaba tendo também impacto positivo nas cotações domésticas. Entretanto, há dúvidas se a partir da concretização de uma grande safra na América do Sul os fundamentos eventualmente não passariam a ter maior peso nas decisões dos participantes dos mercados de futuros. "O produtor está temeroso com o cenário (de preços) da safra. Se esses níveis (de safra global) se confirmarem, vai ter muita soja no mercado. É um ano temeroso, os produtores estão com margens muito ajustadas em cenário com muita incerteza", afirmou o analista da Agroconsult Marcos Rubin. Nas condições atuais, acrescentou Rubin, os preços ainda são compensadores para os produtores brasileiros, apesar do dólar estar sendo negociado perto de 1,70 real. Com a fraqueza da moeda norte-americana no mercado internacional, a soja em Chicago, referência internacional, voltou a ser negociada acima de 10 dólares por bushel, apesar de os Estados Unidos estarem caminhando para o final da colheita de uma safra recorde da oleaginosa, acima de 90 milhões de toneladas. Ao mesmo tempo, Brasil e Argentina plantam também para ter produções recordes, de 63 e 53 milhões de toneladas, respectivamente. Enquanto no Brasil tudo vai relativamente bem para o plantio, na Argentina há certa preocupação com a seca, embora os dados meteorológicos indiquem uma regularização das chuvas, afirmou Rubin. "A relação de estoque e uso de soja no mundo deve pular de 17 por cento em 08/09 para 25 por cento em 09/10. Esses números se tornando reais, a soja será negociada entre 8,5 e 9 dólares. Com esse preço e a expectativa de dólar abaixo de 1,70 real, vai ter margem muito ajustada no Mato Grosso, no Paraná, mas ainda fecha a conta", declarou. O analista explicou que isso só acontece pelo fato de os custos em 09/10 terem caído cerca de 20 por cento, puxados principalmente pelos preços dos fertilizantes, que foram reduzidos mais de 35 por cento em Mato Grosso, na comparação com os picos de 08/09. "Os custos (menores) acabaram compensando a queda dos preços. A conta fecha, mas não com folga", disse ele, estimando rentabilidade de 180 reais por hectare em Mato Grosso, contra 570 reais em 08/09 no mesmo Estado. De acordo com outro analista, Eduardo Godoi, da Agência Rural, o Mato Grosso, com piores condições logísticas para o escoamento da safra, precisa de cotações em Chicago em patamares elevados para compensar o câmbio. "Nos dias em que o contrato março de Chicago passou de 10 dez dólares, vimos gatilhos de negócios. Chicago acima de 10 dólares, Mato Grosso vende, essa é a nossa leitura", destacou Godoi, lembrando que a comercialização antecipada da safra andou bem em outubro, num volume de 1,3 milhão de toneladas no mês passado, com os produtores aproveitando os melhores momentos do mercado. CÂMBIO NÃO É DESCULPA Para um terceiro analista, que pediu para não ser identificado, o câmbio não pode ser utilizando como justificativa de eventual prejuízo, numa época em que há instrumentos de hedge. "O Brasil virou a bola da vez e o real vai continuar se apreciando. O mais deletério é o descasamento entre o câmbio de plantio e o de colheita, porque não se tem a cultura de travar o câmbio, só 2 por cento dos produtores fazem isso no Brasil", disse o analista, ressaltando que o agricultor brasileiro deveria se "tecnificar" também fora da porteira. O analista lembrou que na safra 09/10 o descasamento entre o câmbio de plantio (entre 1,80 e 1,90 real) e o de colheita deve ocorrer novamente. "Essa é a diferença entre uma safra que poderia permitir ao agricultor pagar dívidas, ter sobras, ou ter prejuízo."

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