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Análise: Dubai não é poderoso demais para se livrar do fracasso

Moratória de empresa Dubai World mostra que emirado árabe não é imune à crise econômica.

Por Stephanie Flanders
Atualização:

Dubai não é poderoso demais a ponto de estar livre do fracasso. Essa parece ser a mensagem do pedido surpresa da Dubai World - a empresa de investimentos estatal mais endividada do emirado árabe mais endividado - por um prazo de seis meses para pagar suas dívidas. Os mercados internacionais foram sacudidos pela notícia, talvez tanto pelo momento em que ela foi tomada quanto pela decisão em si (investidores dos Estados Unidos, com os mercados fechados pelo feriado de Ação de Graças, se sentem mais vulneráveis do que o restante). Mas se alguém tem muito dinheiro investido em Dubai, e conseguiu passar incólume pela história dramática de crescimento e bancarrota do emirado, esse foi verdadeiramente um grande choque. Colocando de maneira simples: todo mundo no mercado financeiro pensava que, no fim, o governo federal em Abu Dhabi responderia por todas as apostas fracassadas de Dubai. Aparentemente, não é esse o caso. Assim como tanta coisa que acontece em Dubai, ainda não sabemos de toda a história. E é possível que nunca saibamos. É até mesmo possível que o governo entre em pânico com a reação do mercado ao anúncio de quinta-feira, e descubra, magicamente, que podem responder pela montanhosa dívida de US$ 22 bilhões da Dubai World no fim das contas. Mas nesse momento, a única conclusão é que Abu Dhabi está disposto a deixar Dubai constrangido. Não é assim que o roteiro deveria ser cumprido. Dubai obteve US$ 10 bilhões do banco central dos Emirados Árabes Unidos como parte de um programa soberano de títulos da dívida de US$ 20 bilhões - na verdade, um programa de resgate federal. Quando estive em Dubai há duas semanas, havia muita especulação sobre quando os próximos US$ 10 bilhões chegariam, mas o xeque Mohammed garantia pessoalmente o resto do mundo de que tudo estava bem. Há apenas três dias, eles anunciaram que estavam no meio do caminho, com US$ 5 bilhões obtidos junto a bancos de Abu Dhabi estrategicamente situados. Mesmo sem os US$ 5 bilhões restantes, o valor deveria ser o suficiente para continuar a lidar com as dívidas da Dubai World. A grande conta que a Dubai World teria pela frente era o pagamento de US$ 4 bilhões em títulos da dívida para a Nakheel, a parte mais duramente atingida do império da Dubai World. Essa quantia ainda pode ser parcialmente paga - as autoridades não disseram que sim ou que não. Mas a indefinição deixa os investidores imaginando sobre o que eles não estão sendo informados - por que mesmo US$ 15 bilhões não foram suficientes para manter a companhia funcionando, e por que, quando chegou a hora, Abu Dhabi não mostrou o dinheiro. Como aprendemos várias vezes ao longo dos dois últimos anos, quando se trata de mercados, saber muito pouco é algo perigoso. BBC Brasil - Todos os direitos reservados. É proibido todo tipo de reprodução sem autorização por escrito da BBC.

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