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Análise: Economias da América Latina devem enfrentar incertezas em 2011

Analista da BBC olha para os principais países da região e seus desafios para o próximo ano.

Por Robert Plummer
Atualização:

Dilma ainda terá que enfrentar problemas sociais do Brasil Com o final de 2010, a América Latina se prepara para 2011 em meio a incertezas quanto aos próximos passos de algumas das maiores economias da região. O Brasil, por exemplo, começa o novo ano com a nova presidente, Dilma Rousseff, enquanto a Argentina iniciará o novo ano sem um novo orçamento. Já no México, a integridade do Estado está ameaçada pelos cartéis de tráfico de drogas. O Peru, por sua vez, está rememorando épocas mais obscuras, enquanto a filha de um ex-líder autoritário se prepara para concorrer à Presidência. Mas, pelo menos a região deve sair completamente da recessão. E o país com o pior desempenho até agora, a Venezuela, deve retomar seu crescimento. Veja abaixo alguns dos maiores desafios de algumas das principais economias latino-americanas em 2011. Brasil Com Dilma Rousseff prestes a assumir a Presidência no dia 1º de janeiro, o anúncio de quem serão os nomes que ocuparão os principais postos no setor econômico não conseguiu acalmar os temores dos mercados a respeito da futura política econômica de seu governo. Desde que os analistas começaram a falar sobre os níveis "insustentáveis" de gastos públicos, eles não ficaram exatamente contentes ao ouvir que Guido Mantega deve permanecer no Ministério da Fazenda. Para evitar o superaquecimento da economia do país, o presidente do Banco Central, Henrique Meirelles, foi obrigado a aumentar as taxas de juros, que agora estão em 10,75%. Meirelles será substituído pelo atual diretor de Normas e Organização do Sistema Financeiro do BC, Alexandre Tombini, que ajudou a elaborar a política contra a inflação que favoreceu os juros altos durante os oito anos de Luiz Inácio Lula da Silva na Presidência. Os mercados calculam que o BC terá que aumentar ainda mais os juros, talvez assim que ocorrer a primeira reunião do Comitê de Política Monetária, em janeiro. Por outro lado, mais um aumento na taxa de juros poderá colocar mais pressão no real, que já está supervalorizado. Ao mesmo tempo, a necessidade de gastos sociais, com o programa Bolsa Família, ainda não foi sanada. Não podemos esquecer também que Dilma começou a ficar em evidência como chefe do Programa de Aceleração do Crescimento (PAC), que visa corrigir o que ela descreve como "anos de estagnação" na infraestrutura do país. Argentina A Argentina passou grande parte do ano especulando sobre quem poderia ser o candidato governista à Presidência nas eleições de outubro de 2011. Poderia ser a atual presidente, Cristina Kirchner? Ou seria o marido dela, o ex-presidente Néstor Kirchner (que era encarado como o verdadeiro poder na Presidência argentina) que retornaria à disputa? Finalmente, um ano antes da eleição, a questão foi definitivamente decidida: Néstor Kirchner morreu devido a um ataque cardíaco aos 60 anos. Partidos ainda contam com o legado de Peron na Argentina Em uma paisagem política já fragmentada, na qual partidos que alegam representar o legado do general Juan Peron não estão apenas do lado do governo, mas também são grande parte da oposição, este foi um golpe grave. Se a atual onda de simpatia em relação a Cristina Kirchner durar, ela poderá ser reeleita. Mas, como as políticas econômicas intervencionistas da presidente sempre foram mais oportunistas do que estratégicas, muitas coisas podem dar errado neste meio tempo. Cristina Kirchner certamente vai ter o poder econômico total em 2011, pois os políticos argentinos não conseguiram aprovar o orçamento para o próximo ano. Com isso, ela poderá governar por decreto. No entanto, a inflação atualmente está em mais de 25%, apesar de as estatísticas oficiais indicarem menos da metade deste número. A Argentina acabou de renovar o contato com o Fundo Monetário Internacional (FMI) depois de anos de hostilidade, em um esforço para elaborar um novo índice de inflação mais preciso. Mas, a não ser que a taxa real de inflação caia, a desaceleração do crescimento em 2011 poderá tornar difícil a vida dos argentinos. México A secretária de Estado americana, Hillary Clinton, causou polêmica em setembro quando comparou a violência dos cartéis do tráfico de drogas no México com a insurgência na Colômbia na década de 1980. Enquanto o presidente Barack Obama rapidamente rejeitou a comparação, alguns analistas afirmaram que a principal questão levantada pelas observações de Clinton foi o que fez com que ela levasse tanto tempo para notar a situação no México. O problema para os Estados Unidos é que sua economia está profundamente interligada com a economia do México, por meio do Acordo de Livre Comércio da América do Norte (Nafta). Manter as drogas mexicanas fora dos EUA é um grande desafio Nas últimas recessões dos Estados Unidos, a regra foi a de que, quando Wall Street espirra, os negócios mexicanos podem acabar na unidade de terapia intensiva. No momento, a economia formal do México está demonstrando ser resistente, com bom desempenho no setor de produção, especialmente na indústria automobilística. Mas a contínua fraqueza dos Estados Unidos deve significar crescimento menor ao sul da fronteira em 2011, o que levará o Banco Central mexicano a manter as taxas de juros a 4,5% com a possibilidade de cortes no próximo ano. Infelizmente, a demanda americana pelas exportações ilegais mexicanas, sem a qual não existiriam os cartéis de droga do México, não deve diminuir tão cedo. Peru Apesar de ter a maior taxa de crescimento projetada para 2010 entre as grandes economias da América Latina (8,3%, segundo o FMI), o presidente do Peru, Alan Garcia, conta com apenas 34% de aprovação. Esta taxa de aprovação é bem melhor do que os 5% que ele tinha no final de seu primeiro mandato presidencial, entre 1985 e 1990. Mas, aquele primeiro mandato foi um desastre, com o PIB (Produto Interno Bruto) do país encolhendo em um quinto e o número de pessoas na pobreza aumentando para 5 milhões. Desta vez, Garcia comandou o país durante uma boa época para a economia, apesar dos ganhos não terem sido igualmente distribuídos entre a população peruana: enquanto as áreas urbanas no litoral colheram os benefícios, as áreas rurais, mais altas, continuam empobrecidas. Alan Garcia conta com apenas 34% de aprovação O mandato anterior de Garcia foi seguido por uma década de governo autoritário de Alberto Fujimori, que reconstruiu a economia peruana e salvou o país da insurgência maoísta do Sendero Luminoso, mas passou por cima do processo democrático. Garcia não pode concorrer novamente à Presidência nas eleições de abril de 2011. Mas a filha de Fujimori, Keiko, espera conseguir vencer o pleito com seu partido Fuerza 2011. Ela e o sucessor de Fujimori, Alejandro Toledo, estão competindo com um ex-prefeito de Lima, Luis Castañeda, nas pesquisas de opinião. Todos os três são de direita ou de centro-direita. Como resultado, o vitorioso deve se juntar ao presidente do Chile, Sebastian Piñera, e ao colombiano Juan Manuel Santos - eleitos em 2010 - no pequeno grupo de líderes que não são de esquerda na América no Sul. Venezuela No próximo ano, a República Bolivariana do presidente Hugo Chávez deve se juntar aos países vizinhos na retomada do crescimento depois da recessão global. Cafés estatais da Venezuela mostram o preço 'capitalista' e o preço 'justo' No entanto, considerando-se qualquer padrão objetivo, a Venezuela teve um ano triste em 2010, com o pior desempenho econômico da região, sem mencionar a maior inflação, de cerca de 30% ao ano. E, com o controle estatal da economia aumentando durante o período, com mais e mais companhias sendo tomadas pelo governo, Chávez e seus aliados têm poucas pessoas para culpar. O presidente ainda não executou sua ameaça de nacionalizar a gigante de alimentos e bebidas Polar, a maior companhia ainda privada do país. Mas a habilidade do governo de gerenciar a produção e distribuição de alimentos é questionável depois de escândalos envolvendo milhares de toneladas de comida apodrecida, importadas pela estatal PDVAL, mas nunca distribuídas. Até mesmo a indústria petrolífera, responsável por mais de 90% da entrada de moeda estrangeira na Venezuela e por 50% dos lucros do governo, está sofrendo. A companhia petrolífera estatal PDVSA diversificou suas atividades para o campo de programas sociais, mas ficou menos eficiente em seu negócio central, que é produzir petróleo. Em 2011 é esperado um crescimento lento na Venezuela e talvez outra desvalorização do bolívar. Mas também é esperado que mais companhias estrangeiras se afastem de um país no qual tudo pode ser tomado pelo governo. BBC Brasil - Todos os direitos reservados. É proibido todo tipo de reprodução sem autorização por escrito da BBC.

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