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Análise: Extensão de acordo anticrise supera expectativas

Plano para tentar conter a dívida da Grécia é maior do que o esperado; resta ver se ele trará resultados.

Por Gavin Hewitt
Atualização:

Após longas negociações em Bruxelas, líderes da zona do euro criaram nesta quinta-feira um plano ainda maior do que o esperado para combater a crise da dívida grega. Marie Diron, conselheira econômica sênior para a empresa Ernst & Young, comentou: "Os governos da zona do euro concordaram em uma série de medidas mais extensas do que sugeriam os dissonantes comunicados (emitidos pelos políticos) previamente à reunião". Em primeiro lugar, a Grécia vai receber um empréstimo estimado em 109 bilhões de euros (R$ 242 bilhões). Com o envolvimento do setor privado, esse número pode subir a 169 bilhões de euros. A taxa de juros paga nos atuais empréstimos do país será cortada em um ponto percentual. O período que o país terá para pagar a dívida dobrará. O papel do principal órgão de resgate da região - Mecanismo Europeu de Estabilidade Financeira, o fundo de resgate temporal do bloco - ganhará poderes e será ampliado radicalmente, para agir quase como um fundo monetário europeu, ajudando agressivamente bancos e países em dificuldade. O setor privado - os bancos - concordou em contribuir, inicialmente, com 37 bilhões de euros e em aceitar perdas, ao revender os títulos que possuem a um preço menor. Ainda existe a possibilidade, porém, de as agências de risco classificarem a manobra como uma espécie de moratória da Grécia. Calcula-se que a contribuição do setor privado chegue a 106 bilhões de euros nos próximos oito anos. Mas essa cifra tem de ser vista com cautela. É preciso ressaltar que o envolvimento dos bancos será voluntário. 'Solução excepcional' O presidente da Comissão Europeia, José Manuel Barroso, ressaltou que as condições decididas nesta quinta para a Grécia são "uma solução excepcional, vetada para outros" países. A intenção era mandar um recado, de que outros bancos credores de outros países endividados na Europa não serão expostos a situação semelhante. Barroso tenta, com a declaração, não afugentar investidores de outras frágeis economias europeias. "A principal incerteza é se os mercados financeiros vão aceitar as declarações oficiais de que este acordo é apenas para Grécia", opinou Marie Diron. "O custo econômico se tornará muito mais alto se a zona do euro precisar passar por um processo semelhante com Irlanda e Portugal (outros países que receberam pacotes de resgate e que estão altamente endividados)." O premiê da Grécia, George Papandreou, disse que a dívida grega será reduzida em 26 bilhões de euros até 2014. Mas, com o endividamento crescente por conta dos empréstimos, essa redução pode não ser tão significativa quanto parece. Papandreou prosseguiu: "O povo grego é orgulhoso, criativo e engenhoso. A única coisa que estamos pedindo é o direito de fazer mudanças profundas. E estamos comprometidos em implementar esse programa de mudanças". Apesar das palavras comoventes, persistem as dúvidas quanto a se, tendo recebido um segundo pacote de resgate, a Grécia continuará comprometida com as impopulares medidas de austeridade e com as privatizações prometidas. O que pode ajudar é o fato de os líderes europeus reconhecerem que a Grécia precisa crescer, e oferecerem dinheiro de fundos estruturais da União Europeia. A chanceler (premiê) alemã, Angela Merkel, disse que o esforço desta quinta não era de "usar uma varinha mágica, mas sim de ajudar a Grécia a retornar à estabilidade. Estou confiante que podemos ter sucesso nessa empreitada". O acordo desta quinta também aceita baixar as taxas de juros pagas pela Irlanda e por Portugal em seus pacotes de resgate. O Fundo Monetário Internacional disse que a decisão "realmente muda o jogo". Com o plano, os líderes europeus colocaram à mostra suas armas contra a crise. Resta saber que efeito real essas medidas terão na redução da enorme dívida grega. BBC Brasil - Todos os direitos reservados. É proibido todo tipo de reprodução sem autorização por escrito da BBC.

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