Análise: Gerando problemas e distribuindo custos

O setor de energia não é um fim em si nem um meio para resolver os problemas do País

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Por Paulo Pedrosa
Atualização:
2 min de leitura

Energias renováveis, interconexão e diversidade são o presente e o futuro da energia elétrica. As novas tecnologias deslocam o poder dos governos e dos agentes do mercado para as pessoas.

Muito em breve, um consumidor produzirá sua própria energia com painéis solares. Com ela, poderá abastecer a bateria de seu carro híbrido, que fornecerá energia para a casa em dias sem sol. Os excedentes serão vendidos em momentos em que a energia estiver cara. E as redes interconectarão todos os consumidores, que poderão acionar “Itaipus” virtuais formadas por milhares de pequenos geradores. Do mesmo modo, o consumo será controlado remotamente, reduzindo momentaneamente a demanda de aparelhos de ar condicionado, por exemplo.

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Em breve, um consumidor produzirá sua própria energia com painéis solares Foto: FELIPE RAU/ESTADAO

No Brasil, essa mudança assusta e ameaça muita gente, em especial os que temem perder poder e dinheiro. Falando em nome de consumidores e da sociedade, há vendedores que defendem o futuro com jeito de passado: reservas de mercado, subsídios, cotas, e proteções que marcam a história do setor de energia.

Os que não querem o caminho da competição e da eficiência assumem discursos falsos e constroem alianças para capturar o benefício da inovação que deveria ser dos consumidores. É o caso de geradores de energia incentivada ou da geração distribuída remota, em fazendas solares, que entregam energia a pequenos consumidores por preços até 6 vezes superiores ao do mercado.

A notícia para os governos que consideram inesgotável a capacidade dos consumidores em pagar impostos e encargos que custeiam políticas públicas e para os agentes que alugam ativos e não querem correr riscos é que o modelo que serve a interesses específicos está esgotado. Foi assim que criamos uma conta de energia cara, em que mais da metade está composta por encargos, taxas, subsídios e impostos.

Apegar-se ao passado é caminhar para a ruptura, com consequências imprevisíveis para a economia. O setor de energia não é um fim em si nem um meio para resolver os problemas do País. A agenda de modernização e simplificação deve recuperar a lógica econômica e promover o poder dos consumidores. É necessário cortar privilégios e subsídios e devolver ao Tesouro o custo de políticas públicas, desmascarando assim os movimentos que fazem do Brasil o País da energia barata e da conta cara.

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*É PRESIDENTE DA ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE GRANDES CONSUMIDORES DE ENERGIA (ABRACE)

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