O crescimento do PIB do último trimestre de 2019 veio em linha com o esperado, com uma taxa anualizada de 2% - patamar muito próximo do verificado nos dois trimestres anteriores. No início deste ano, os indicadores reforçavam a previsão de aceleração do crescimento em 2020. A confiança dos empresários da indústria aumentou e os indicadores coincidentes apontaram para uma alta de 0,8% na produção industrial de janeiro. Além disso, impulsionado pela taxa de juros na mínima histórica, o mercado de capitais preparou-se para um grande número de ofertas primárias de ações e outros tipos de captação de recursos - importantes para aumentar os investimentos.
Nesse contexto, o inesperado crescimento da contaminação pelo novo coronavírus (Covid-19) em alguns países aumentou consideravelmente o grau de incerteza das projeções de alta do PIB em 2020. Ainda há grandes incertezas até mesmo sobre aos próprios aspectos epidemiológicos associados ao novo vírus. Antes de prepararmos nossas previsões macroeconômicas, estamos tendo de analisar os cenários de contaminação e de taxa de mortalidade do Covid-19.
Esse novo vírus representa um importante choque negativo sobre a economia mundial. De acordo com a OCDE, o crescimento mundial deve ser de apenas 2,4%, 0,5 ponto porcentual abaixo da previsão anterior. Mesmo que não haja uma grande propagação do vírus no Brasil, nosso PIB poderia ser significativamente afetado. Já estamos sentindo efeitos de faltas de insumos devido à drástica redução da produção industrial chinesa. Outros impactos negativos devem ocorrer via redução dos preços de commodities e por uma possível contenção do crescimento das captações de recursos das empresas no mercado de capitais.
Qualquer que seja o impacto do novo vírus sobre a nossa economia, a melhor forma de se contrapor a esses efeitos negativos é acelerando a aprovação reformas que melhorem o ambiente macroeconômico e estimulem os investimentos.
*Diretor de Estudos e Políticas Macroeconômicas do Ipea