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ANÁLISE-Indústria sinaliza desaceleração suave e não muda BC

Por VANESSA STELZER
Atualização:

A atividade industrial brasileira perdeu um pouco de ritmo no primeiro trimestre, sinalizando a tendência de desaceleração sutil prevista para o ano todo. Mas antes que o setor aponte o dedo para culpar a política monetária, analistas explicam que parte do desaquecimento tem efeito calendário e que o Banco Central será irredutível no seu combate à inflação --que visa mais do que combater a demanda por este ou aquele item, inibir repasses das commodities recordes por toda a cadeia produtiva. Assim, continua sendo esperado um novo aumento de juro de 0,50 ponto percentual em junho, sendo que uma pequena parcela do mercado começa a falar inclusive na possibilidade de alta de 0,75 ponto. Isso porque, embora a indústria tenha mostrado essa diminuição do ritmo, o mesmo não deve ocorrer, por enquanto, com o varejo. A desaceleração do consumo deve ocorrer mais para a frente. "A tendência da indústria é desacelerar gradualmente, crescer menos que no ano passado, que foi um pico. Mas é uma desaceleração suave, nada drástico", disse Sergio Vale, economista da MB Associados ao comentar o dado do IBGE --que mostrou um crescimento de 6,3 por cento da produção no primeiro trimestre, em comparação com o mesmo período de 2007, abaixo da expansão de 7,9 por cento do quarto trimestre. Vale lembra que o dado de abril deve vir bastante forte, já que a Páscoa neste ano caiu em março, enquanto em 2007 ocorreu em abril. Apesar disso, o segundo trimestre, assim como os próximos, tendem a ficar abaixo do patamar de 6 por cento visto nos primeiros três meses. Aliás, o número de dias úteis em março deste ano, no caso menor, foi responsável por uma parte da desaceleração da atividade, lembra Vale. Newton Rosa, economista-chefe do Sul América Investimento, ressaltou que mesmo os números de abril da indústria, que serão divulgados antes da próxima reunião do Comitê de Política Monetária, não serão suficientes para o Copom. "O BC vai esperar para ver se isso se consolida em um ritmo menor de atividade à frente que não pressione a inflação." Por ora, os juros futuros continuam projetando alta no curto prazo, refletindo a aceleração da inflação em São Paulo em abril, divulgada pela Fipe nesta manhã. RECORDES E RECORDES Na sexta-feira, os números da produção industrial ficarão definitivamente para trás, quando saírem do forno a inflação pelo IPCA de abril e a produção e as vendas de veículos no mesmo mês. E nenhum dos dados deve trazer alívio para a política monetária. O mercado, segundo analistas consultados pela Reuters, espera uma alta do IPCA acima de 0,50 por cento, ante o avanço de 0,48 por cento em março. Em relação ao setor automotivo, os dados da Anfavea na sexta-feira não devem ser muito diferentes dos da Fenabrave --já divulgados, que apontaram alta de quase 30 por cento das vendas no primeiro quadrimestre-- e apontar novo recorde. "O sinal de hoje é um sinal (de desaceleração) sobre a atividade (industrial), mas é preciso um sinal mais contundente da demanda, varejo, crédito. Na margem ainda temos uma demanda muito forte", afirmou Silvio Campos Neto, economista-chefe do Banco Schahin. A aceleração do IPCA será resultante principalmente dos maiores preços dos alimentos, sobretudo os que reagem aos mercados internacionais, onde as commodities vêm batendo recordes. "Como ele (BC) não tem poder sobre esses preços de alimentos, que reagem mais a oferta e demanda internacionais, ele tem que controlar o resto dos preços, evitar que os aumentos se espalhem pelo restante da economia", disse Vale. "O BC tem que subir taxa de juros." A próxima reunião do Copom ocorre em 3 e 4 de junho. (Edição de Alexandre Caverni)

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