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ANÁLISE-Mercado revê projeções para Bovespa só apó turbulência

Por ALUÍSIO ALVES
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Dezembro de 2007. Na esteira de um ciclo inédito de 5 anos de valorização da Bovespa, corretoras e bancos de investimentos previam mais doze meses de resultados vistosos para o mercado brasileiro, mesmo diante do sinal amarelo imposto pela crise imobiliária nos Estados Unidos. Maio de 2008. Mesmo depois de o Ibovespa ter chegado a acumular queda de 16 por cento no ano, com o temor de estagflação nos EUA, algumas corretoras elevaram as previsões para o mercado acionário. Houve estimativas de que o índice chegaria a 85 mil pontos até o fim do ano, na esteira do grau de investimento do país. Setores ligados a crédito e consumo figuravam em destaque nas carteiras sugeridas por analistas, a despeito de o Banco Central ter começado a elevar o juro para conter pressões inflacionárias. O ânimo durou até 20 de maio, quando o Ibovespa atingiu o recorde histórico de 73.516 pontos. Desde então, o índice já perdeu quase 20 por cento diante do persistente pessimismo internacional, da inflação, fazendo sumir do noticiário a tese de que os emergentes se descolariam das combalidas bolsas européias e norte-americanas. Um a um, bancos e corretoras vêm cortando suas estimativas, embora a maioria ainda não tenha estabelecido um novo alvo. "Vamos reajustar nossas estimativas, mas ainda não sei quanto", afirma Hamilton Moreira, analista sênior do BB Investimentos. Álvaro Bandeira, diretor da corretora Ágora, lembra da significativa mudança de cenário desde que previa o Ibovespa em 82 mil pontos até dezembro. "As premissas que usamos para fazer projeções, como risco-país, lucro das empresas e inflação, pioraram bastante." Mesmo as piores previsões estão sendo atropeladas pela velocidade da pressão vendedora na bolsa. Na última quarta-feira, o Citi divulgou relatório prevendo que o Ibovespa poderia cair para a faixa dos 60 mil pontos nas semanas seguintes. A "profecia" foi cumprida no dia seguinte. Os especialistas tentam encontrar explicações para o repentino precipício em que se enfiou a Bovespa. Uma é a inflação mais forte do que se imaginava. "Foi uma surpresa para todos", diz Dalton Gardimam, economista-chefe da Bradesco Corretora. De fato, desde que o Ibovespa atingiu o recorde de fechamento as expectativas de inflação para 2008 subiram de 5,24 para 6,4 por cento, enquanto a previsão para a Selic avançou de 13,5 para 14,25 por cento ao ano. ANO NO AZUL Outro problema foi subestimar os efeitos da crise global de crédito, mesmo depois de o Bear Stearns ter ido à lona em março. "Os estragos causados pelo subprime foram muito maiores do que se imaginava. Nos últimos dias caiu a ficha. Não é só correção de ativos. O mundo mudou", avalia Walter Mendes, diretor de renda variável do Itaú. As instituições também têm revisado a composição de suas carteiras, excluindo ações de varejistas e abraçando as de empresas donas de concessões públicas, tais como as distribuidoras de energia elétrica e operadoras de telefonia fixa, que têm garantido em contrato o reajuste de tarifas pela inflação. "Hoje, essas ações são defensivas", diz Gardimam. Ainda assim, a maioria dos bancos e corretoras mantém a expectativa de que o Ibovespa fechará o ano no azul, baseada na premissa de que os bons resultados trimestrais de companhias domésticas vão sustentar alguma recuperação do índice depois que o pior momento da corrida por liquidez passar. "Por enquanto, o investidor não quer ações, nem as de empresas com ótimos fundamentos, mas que só vão apresentar resultados num prazo mais longo. Mas num cenário um pouco mais longo, os resultados das empresas vão se sobrepor à volatilidade", afirma Marcelo Lima, estrategista da corretora Unibanco. O Ibovespa encerrou 2007 aos 63.886 pontos.

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