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Análise: Noticiário ofusca razões reais da alta do petróleo

Explosão de refinaria tende a ter impacto exagerado em relação a fundamentos do mercado.

Por Anthony Reuben
Atualização:

Fatores como o aumento da demanda na China e na Índia e o medo de que um impasse entre os Estados Unidos e o Irã possa interromper o suprimento podem estar por trás da recente alta dos preços do petróleo. Mas muitos analistas têm atribuído a escalada dos preços a temores de que a Venezuela pare de trabalhar com empresas ocidentais, a um eventual corte na produção da Opep e até a uma explosão numa grande refinaria dos EUA. Na quarta-feira, o preço do barril na Bolsa de Nova York chegou à alta recorde de US$ 101,32 durante o pregão, e fechou o dia cotado em US$ 100,74. O analista John Hall da empresa de consultoria de energia John Hall Associates diz que ninguém sabe ao certo o que está acontecendo e o que está por trás da alta de preços. Para Mark Lewis, da consultoria Energy Market Consultants, as razões podem estar muito mais ligadas aos fundamentos do mercado, fatores que influenciam o suprimento e a demanda de petróleo, do que às notícias que têm preocupado os investidores. "Mudanças pequenas em partes insignificantes do cenário fundamental, se forem visíveis, podem ter um impacto substancial no preço do petróleo - substancial no sentido de vários dólares", afirma Lewis. Além disso, fatores financeiros também podem contribuir, como por exemplo um fundo do tipo hedge que vendeu um contrato de petróleo em particular para não acabar recebendo um caminhão tanque cheio de combustível - ou um operador de bolsa que acha que pode ser divertido ser o primeiro a negociar o barril por um preço superior a US$ 100. O problema é que muitas das informações fundamentais não estão disponíveis. "Nós realmente não sabemos o que os fundamentos estão fazendo em momento algum", afirma Lewis. Quando o barril de petróleo foi negociado a mais de US$ 100 pela primeira vez, no início do ano, um dos fatores citados foi o assassinato da ex-primeira-ministra do Paquistão Benazir Bhutto. "Isso não fez o menor sentido para a gente na época", disse Sean Cronin, editor da Argus Global Markets. Segundo ele, as pessoas se apressam muito a atribuir mudanças no mercado a fatores geopolíticos. Ele atribui a alta dos preços às expectativas superotimistas da produção de petróleo de países que não fazem parte da Opep, e também aos sinais de que os países membros da Opep tendem a se ater aos seus limites de produção. 'Não se pode esperar' Essas tendências podem ter efeito a longo prazo, mas os negociadores não podem esperar para ver. "Você não pode ficar sentado esperando um ou dois dias para ver o que acontece", afirma Hall. "Então o teste de mísseis da Coréia do Norte (já citado como uma razão para a alta dos preços) e o assassinato de Benazir Bhutto não tiveram nenhum efeito real, mas poderiam ter tido." Alguns dos fatores que, mais provavelmente, influenciaram a demanda e suprimento de petróleo, como os dados sobre a demanda da China, por exemplo, não estão disponíveis. Isso quer dizer que notícias menos importantes sobre os fundamentos, como a produção de uma única refinaria, acabam tendo um peso bem maior do que o merecido. Então parece haver uma distinção entre os fatores que provocam alta do preço do petróleo porque eles afetam o sentimento, e os que genuinamente afetam o suprimento e a demanda por petróleo. E pode ser que a alta tenha sido provocada porque os sentimentos estão "vulneráveis". "É como o boom das ponto.com nos anos 1990", disse Lewis. "Estava superinflacionado, mas enquanto as pessoas continuaram acreditando, o valor continuou subindo." "Quando eles pararam de acreditar, o preço caiu. E isso é um alerta." BBC Brasil - Todos os direitos reservados. É proibido todo tipo de reprodução sem autorização por escrito da BBC.

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