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Análise: O Banco Central entre o risco fiscal e a recuperação pós-pandemia

No limite, o governo pode ter que lidar com a desconfiança do restante do mundo em relação a sua capacidade de pagar dívidas crescentes. É o risco de insolvência

Foto do author Eduardo Rodrigues
Por Fabrício de Castro e Eduardo Rodrigues
Atualização:

BRASÍLIA - A dúvida sobre o que vai ocorrer com a atividade econômica no Brasil após a pandemia está colocada para o Banco Central (BC). E no centro da questão estão os programas lançados pelo governo para minimizar a crise.

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O BC, assim como o restante do governo, já sinalizou que a continuidade dos programas governamentais para além de 2020 pode representar uma bomba-relógio para a área fiscal. No limite, o governo pode ter que lidar com a desconfiança do restante do mundo em relação a sua capacidade de pagar dívidas crescentes. É o risco de insolvência. Vale lembrar que o Fundo Monetário Internacional (FMI) já projeta a dívida bruta brasileira acima de 100% do PIB no fim deste ano.

No comunicado desta quarta-feira, 5, do Copom, o BC fez vários alertas neste sentido:

 “Políticas fiscais de resposta à pandemia que piorem a trajetória fiscal do país de forma prolongada, ou frustrações em relação à continuidade das reformas, podem elevar os prêmios de risco.” 

 “O Comitê ressalta, ainda, que questionamentos sobre a continuidade das reformas e alterações de caráter permanente no processo de ajuste das contas públicas podem elevar a taxa de juros estrutural da economia.”

Em declarações públicas recentes, o próprio presidente do BC, Roberto Campos Neto, tem lembrado que um dos trunfos do País é que todos os programas emergenciais possuem data para acabar: 31 de dezembro.

Mas e depois disso?

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Na ata desta quarta, o BC externou dúvidas sobre o que vem pela frente. Ao avaliar o ritmo de crescimento da economia, a autarquia afirmou que a incerteza permanece “acima da usual, sobretudo para o período a partir do final deste ano”. Este período, lembrou o BC, é o do “esperado arrefecimento dos efeitos dos auxílios emergenciais”. 

Na prática, ao mesmo tempo em que teme o descontrole fiscal, caso os auxílios continuem em 2021, o BC parece mostra certa preocupação com o ritmo da economia a partir do momento em que esses programas forem, de fato, desfeitos.

Por enquanto, no mercado financeiro a projeção para crescimento do PIB é de 3,50% em 2021, após a forte queda de 5,66% esperada para 2020.

É o nono corte consecutivo que o Copom, do Banco Central, fez na taxa no atual ciclo. Foto: Dida Sampaio/Estadão