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Análise: O fator Biden

Relações entre EUA e Brasil, em algumas áreas, tenderão a ser tensas e conflituosas

Por Rubens Barbosa
Atualização:

A eleição de Joe Biden deverá ter profundo impacto na economia internacional, no comércio exterior e no relacionamento econômico com o Brasil.

A recuperação da economia dos EUA deverá favorecer um crescimento mais rápido da economia global que sairá da recessão (- 4,3%) para expansão (4%) em 2021.

Meio ambiente, clima, direitos humanos e democracia deverão gerar momentos de tensão entre Biden e Bolsonaro. Foto: Patrick T. Fallon/AFP

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O mesmo ocorre com o comércio internacional que, depois de uma queda de 10%, deverá avançar 8%. Os EUA voltarão a dar prioridade aos organismos multilaterais, com o retorno à Organização Mundial de Saúde, o fortalecimento da OMC e adesão ao Acordo de Paris.

O anúncio de política industrial nacionalista (buy American) para favorecer o emprego poderá acarretar medidas protecionistas. As crescentes tensões geopolíticas entre os EUA e a China deverão continuar, sem a imposição de sanções, e com a busca de um modus vivendi entre as duas superpotências.

O comércio bilateral não será prejudicado, pois Biden será pragmático nas matérias de interesse econômico e comercial para os EUA. O intercâmbio bilateral deverá expandir-se, depois de sucessivas quedas (23% em 2020). As relações entre os dois países em outras áreas, como meio ambiente e mudança de clima, direitos humanos e democracia tenderão a ser tensas e conflituosas, em vista das novas prioridades de Washington. Dependendo da reação do governo Bolsonaro, em especial no tocante à preservação da Floresta Amazônica, o Brasil poderá confrontar-se com “consequências econômicas significativas”. É improvável que Biden retire o apoio ao Brasil para ingresso na OCDE. O alinhamento com os EUA tornou-se automático nas votações em organismos multilaterais (OMC, ONU, OMS). Em muitos casos, o Brasil ficou isolado com EUA e Israel e países ultraconservadores. Com a mudança na política e da agenda de Washington nessas instituições, o Brasil tenderá a ficar ainda mais isolado, sem a companhia dos EUA. 

A importância do mercado chinês para as exportações brasileiras e a crescente presença da China na América do Sul poderão trazer novas fricções, caso Washington defina uma política para o hemisfério. O Brasil se colocou na incômoda posição de ficar entre EUA e China. Quanto à questão do 5G, com Biden, será mais fácil o Brasil decidir segundo os interesses nacionais e não por ideologia ou geopolítica.

*EMBAIXADOR, É PRESIDENTE DO IRICE

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