O anúncio feito hoje pela Embraer, onde informou ao mercado diversas iniciativas e parcerias estratégicas em relação ao eVTOL [sigla em inglês para veículo elétrico de pouso e decolagem vertical, como é chamada oficialmente a aeronave], é dos mais relevantes para a concretização do chamado “carro voador”.
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Em 2017, quando presidia a Embraer, tomamos a iniciativa de planejar uma unidade voltada à inovação disruptiva e novos modelos de negócios. A Embraer sempre fez com muita eficiência e competência a inovação no seu core product, mas carecia de uma inovação mais disruptiva e que a levasse a novas oportunidades de desenvolvimento e crescimento. Deslocamos para o Vale do Silício um pequeno grupo de engenheiros, comandados por um dos nossos melhores quadros com visão de futuro e de inovação e logo surgiu a oportunidade do eVTOL em parceria com a Uber (mais tarde descontinuada).
Surgia então o embrião deste projeto que hoje avança rapidamente e que se reverte de um grande appeal dado suas características dentre outras, movida a bateria e sem emissão de CO2 e com a missão de operar em regiões de alta densidade urbana, evitando o trânsito caótico. Criamos a EmbraerX ,com foco total na inovação disruptiva, e que tomou ações importantes para o desenvolvimento do conceito.
A Embraer está fazendo parcerias importantes e tem anunciado cartas de intenção de compra do eVTOL em grandes quantidades, trazendo robustez ao projeto. As parcerias com os diversos players do ecossistema do produto é fundamental para o sucesso do programa.
A Embraer será, sem dúvida, um dos players mais relevantes e, possivelmente, terá a máquina mais robusta e mais eficiente do mercado. A Embraer sabe fazer, tem competência técnica e 50 anos de experiência desenvolvendo aeronaves de alta ciclagem. Esta combinação dos negócios entre Eve e Zanite é muito importante pois traz recursos para a continuidade do programa que entra em fase de implantação, certificação, fabricação e operação. O modelo de negócio anunciado é eficiente uma vez que atrai o investidor com apetite ao risco do negócio.
Há, porém, uma série de tópicos que os players deste ecossistema terão que trabalhar com as autoridades aeronáuticas até que o sonho se torne realidade. É desta definição que se poderá melhor entender o modelo de negócio que será desenvolvido por eles. Além disso, o custo operacional é uma variável crucial pois o custo da máquina para transportar apenas 4 passageiros em conjunto com a remuneração dos diversos players do ecossistema pode ser um enorme desafio para o sucesso do conceito. Não tenho dúvida de que o “carro voador” será uma realidade e estará nos ares das principais cidades do mundo, possivelmente em 2026. A dúvida é se será eficiente o suficiente para atrair um grande número de passageiros e os fabricantes produzirem milhares de unidades.
* É EX-PRESIDENTE DA EMBRAER