Publicidade

Alta do PIB é duradoura ou um suspiro momentâneo?

Economia tem apresentado alguns números melhores que o esperado, mas população ainda não vê os efeitos

Foto do author Alexandre Calais
Por Alexandre Calais
Atualização:

O crescimento de 1% no PIB no primeiro trimestre não é um resultado estrondoso, mas é melhor do que se previa no ano passado. Claro que fazer projeções, com o período caótico que o mundo atravessa (pandemia, guerra), tornou-se um exercício muito mais complicado do que já é naturalmente. Não dá para culpar os economistas. Mas não é possível deixar de reconhecer que a safra de números tem sido mais positiva do que o esperado - no ano passado, cogitou-se até uma recessão no País, hipótese agora praticamente descartada. Já há instituições falando em crescimento de 2% este ano.

Nesta semana, os números do emprego apontaram uma melhora significativa. O desemprego caiu de 11,1% para 10,5%, o mais baixo desde o início de 2016 (embora ainda seja um número absurdamente alto). As contas públicas também têm tido um desempenho melhor que o esperado. De janeiro a abril, o superávit primário do setor público chegou a R$ 148,5 bilhões, um resultado recorde para o período. 

Funcionário trabalha em restaurante; setor de serviços é o que mais sofreu com a pandemia Foto: Alex Silva/Estadão - 24/4/2021

PUBLICIDADE

Mas - sempre há um "mas" - os números positivos não contam toda a história. O crescimento de 1% do PIB no primeiro trimestre está praticamente todo ancorado nos serviços. É o setor que mais sofreu com a pandemia, e agora acelera para voltar à normalidade. Uma sombra, porém, tem pairado constantemente sobre essa atividade. Agora mesmo temos vivido um novo aumento de casos de covid, com recomendações de volta do uso das máscaras. Haverá novos fechamentos que voltem a prejudicar esse setor? Vivemos ainda tempos nebulosos.

O recuo do desemprego tem sido puxado justamente por essa retomada dos serviços. Mas, em geral, são empregos bem mais precários que os da indústria, por exemplo. O que explica um ponto importante na ciranda dos números: a renda do trabalhador caiu 7,9% em um ano. O que, definitivamente, é um dado bastante negativo.

E temos, claro, a inflação, rodando acima de 12% em doze meses e sem muitos sinais de trégua. As expectativas são de um número acima de 8% no final do ano, que se juntaria aos mais de 10% do ano passado. Isso significa uma brutal redução de renda, mesmo para quem está empregado - nem sempre os reajustes concedidos pelas empresas acompanham o aumento dos preços.

No final, apesar de alguns números gerais da economia até serem positivos, o sentimento é de que há uma perda na qualidade de vida. Em São Paulo, por exemplo, a sensação clara, mesmo sem se ver os números, é que houve uma forte elevação do número de famílias morando nas ruas, um efeito direto da pandemia. E reverter isso é um trabalho de longo prazo.

Números positivos na economia, no final das contas, só valem mesmo se ajudam a melhorar a vida da população. Ainda não é o que vemos, e nem sabemos se essa alta do PIB se mantém para os próximos trimestres. Há uma taxa de juros em alta, para conter a inflação, e que deve atuar para jogar para baixo a atividade econômica. E um presidente desesperado pela reeleição, que pode meter os pés pelas mãos na busca pelos votos e provocar um desarranjo maior, de longo prazo, nas contas públicas. Talvez esses números positivos sejam apenas um suspiro momentâneo.

Publicidade

*Editor-coordenador de Economia

Comentários

Os comentários são exclusivos para assinantes do Estadão.