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Análise: Preços na direção certa

O resultado de janeiro do IPCA antecipa que o primeiro trimestre de 2020 será extremamente benigno para a inflação

Por André Braz
Atualização:

A inflação acelerou subitamente no último trimestre de 2019 e assustou os consumidores, principalmente os de renda baixa. Em janeiro o índice mudou de direção, recuando acentuadamente para metade da taxa prevista para o mês, que era de 0,4%.

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As variações percebidas no final de 2019, acendendo o sinal amarelo, vinham do segmento Alimentos, puxadas principalmente pela carne bovina - o item encerrou o ano com alta acumulada de 32,4%. O aumento das exportações para a China, com a diminuição da oferta de carne no mercado interno, contribuiu para a rápida aceleração dos preços. 

Este ano a China pode continuar influenciando os preços de commodities importantes, mas desta vez em sentido contrário, agora por conta do coronavírus e a consequente queda nas exportações do Brasil para aquele país. 

Outros fatores também explicam a comportada inflação este ano. A economia segue pouco aquecida e os preços dos Serviços Livres comprovam a fraca demanda. A taxa acumulada em 12 meses para esse segmento (3,3%) permanece abaixo da inflação do período, de 4,2%. Ou seja, sem registrar aumento real. 

Após a alta de 18,06% em dezembro, as carnes recuaram 4,03% em janeiro. Foto: Nilton Fukuda/Estadão

O mesmo papel podemos esperar de Bens Duráveis. Quedas consecutivas da taxa Selic, no menor nível histórico (4,25% ao ano), tendem a favorecer o financiamento de tais bens, aumentando a demanda. No entanto, a taxa acumulada segue próxima de zero.

O resultado de janeiro antecipa que o primeiro trimestre de 2020 será extremamente benigno para a inflação. Em 2019, o índice oficial subiu 1,5% entre janeiro e março. Este ano a expectativa é que não ultrapasse 0,8%. 

Para fevereiro, ainda que pese o reajuste das mensalidades escolares, o IPCA deve seguir influenciado por novas quedas nos preços das proteínas, principalmente carnes bovinas.

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A economia pouco aquecida não deve favorecer o pass through cambial (repasse das variações cambiais para os preços), mesmo com a desvalorização do real frente ao dólar. Os combustíveis, por exemplo, estão seguindo o preço do petróleo em queda, e as grandes commodities agrícolas estão com boas previsões de safra. 

Considerando tal cenário, o IPCA deverá fechar 2020 bem abaixo da meta, em torno de 3,3%. Teremos, portanto, mais um ano com poucos desafios para a política monetária.

*Coordenador do IPC do Instituto Brasileiro de Economia da Fundação Getulio Vargas

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