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Rebaixamento pela Moody's já era esperado, mas não em dois níveis

Agência cortou nota de crédito do País de Baa3 para Ba2, com perspectiva negativa, o que sugere a possibilidade de novos cortes

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Por Redação
Atualização:
Em fevereiro, aagência de classificação de risco Moody'srebaixou a nota do Brasilem dois graus, de Baa3 para Ba2, com perspectiva negativa, sinalizando novos rebaixamentos. Com isso, o País perde o grau de investimento e já não possui mais o selo de bom pagador por nenhuma das três principais agências do mundo:Fitch,Standard & Poor's e a própriaMoody's. Foto: Mike Segar/Reuters

SÃO PAULO - Apesar de esperado pelo mercado, o rebaixamento do rating do Brasil em dois níveis pela agência de classificação de risco Moody's nesta manhã surpreendeu pela "agressividade", justificada pela defasagem em relação às outras agências de rating. A Moody's era a única das três principais a manter o Brasil no grau de investimento e, por isso, a avaliação de economistas ouvidos pelo Broadcast, serviço de informações em tempo real da Agência Estado, é que este downgrade tem efeito mais limitado nos mercados domésticos, mas deve afastar ainda mais investidores do País. Para os especialistas, a instabilidade política e a falta de uma solução para o desequilíbrio fiscal no curto prazo podem levar a novas rodadas de rebaixamento ainda em 2016 e pressionar o Congresso em relação a reformas consideradas essenciais para a economia.

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O corte na nota de crédito do País em dois níveis, de Baa3 para Ba2, com perspectiva negativa, é um sinal de que a Moody's "optou não ficar atrasada novamente", na avaliação do economista da Tendências Consultoria Integrada Sílvio Campos Neto. Na semana passada, a Standard & Poor's (S&P), que já havia colocado o Brasil no grau especulativo em setembro de 2015, voltou a rebaixar a nota de crédito. Para Bernard Gonin, da Rio Gestão, o downgrade já estava incorporado aos preços dos ativos, mas a redução em dois níveis é uma surpresa.

Economistas apontam ainda a relação direta entre as decisões das agências de classificação de risco a anúncios da política econômica. O ex-diretor de Assuntos Internacionais do Banco Central (BC) Alexandre Schwartsman destacou, assim como o Estado havia apontado em editorial, que os últimos rebaixamentos da nota do Brasil ocorreram após medidas pouco ortodoxas adotadas pelo Ministério da Fazenda. O downgrade pela S&P veio depois de o governo enviar ao Congresso peça orçamentária deficitária. O segundo, pela Fitch, foi após a Fazenda sugerir redução da meta de superávit primário. Agora, a Moody's corta a nota do País dias após o anúncio de uma banda fiscal.

Sem uma melhora do ambiente econômico e político que levem a um ajuste fiscal convincente, novos rebaixamentos do rating soberano brasileiro devem ocorrer nos próximos meses, avalia o economista para a América Latina do Goldman Sachs, Alberto Ramos. Uma estabilização dos ratings e, eventualmente, a volta para o grau de investimento demandarão do governo federal uma combinação de um ajuste fiscal convincente e reformas estruturais para aumentar o crescimento potencial do País, avalia Ramos. "Infelizmente, o cenário de curto prazo não é muito promissor".

O lado menos ruim do fato é que o corte da nota pode funcionar como um catalisador para a classe política brasileira fazer andar a agenda econômica. Na avaliação do diretor de pesquisa econômica da GO Associados, Fabio Silveira, este seria o estímulo que faltava ao Congresso Nacional e ao governo para um pacto político em torno do reequilíbrio fiscal do País. Campos Neto concorda que enquanto o impasse político não for resolvido as questões econômicas e fiscais também não avançarão. "Como o cenário político está muito indefinido e pode se arrastar até 2018 não dá pra enxergar uma luz no fim do túnel", afirmou. 

A Moody's afirmou que a adoção de uma meta flexível para o superávit primário não foi determinante para a decisão, mas destacou dificuldades do Congresso em aprovar reformas e atribuiu a perspectiva negativa às incertezas políticas e econômicas. 

Reação dos mercados. Para Campos Neto, a decisão anunciada nesta quarta-feira "ainda faz algum preço, sobretudo na parte média e longa da curva de juros e no câmbio". Segundo o especialista, a recente correção que pressionou o dólar para o nível dos R$ 3,90 nos últimas sessões está ameaçada e é mais provável que um novo piso para a moeda norte-americana se firme em torno de R$ 4,00. Nas mesas de operações, a perda do grau de investimento impulsionou um forte avanço dos juros futuros no começo da manhã. 

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O aumento da percepção de risco em relação ao Brasil ficou evidenciado pelo diferencial entre os contratos para janeiro de 2018 e janeiro de 2021, um dos exemplos mais citados hoje pelos operadores financeiros. O intervalo, chamado de inclinação da curva a termo, ultrapassou 105 pontos, ante 95 no ajuste da véspera. Para Campos Neto, o anúncio da Moody's "escancara" para o mundo os risco de investir em ativos brasileiros. 

Na mesma linha, Silveira, da GO Associados, destacou que um reflexo importante do rebaixamento é exatamente a saída do País de investidores não institucionais, aqueles que não condicionam os aportes no País ao grau de investimento de ao menos duas agências. "Mais importante que agências são outros atores do mercado terem dúvidas de vir ao Brasil. Há ainda atração de capital muito grande, mas isso tem um limite dado pela leitura cada vez pior", afirmou. (Mário Braga, Maria Regina Silva, Francisco Carlos de Assis, Renata Pedini e Altamiro Silva Junior, correspondente em Nova York) 

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